segunda-feira, 7 de março de 2011

Hidroterapia

SOBRE O AUTOR

João Miguel Corrêa Machado Fernandes Novaes é especialista em Naturologia, Homeopatia e Bioterapias (oligoterapia, saís bioquímicos, aminoácidos e enzimas).


Graduou-se em Naturologia Pela Escola Superior de Biologia e Saúde. Durante e mesmo depois da sua graduação, traduziu livros de Homeopatia do inglês, francês e castelhano, pois em Portugal havia poucos livros de Homeopatia em português. Com estas traduções compreende a sua importância e vê porque Hahnemann chegou tão longe quando traduzia uma obra de Cullen.

Além de possuir doutoramento em Homeopatia (Phd) tem outras teses na área da Homeopatia Cognitiva e alquímica.

Deu aulas de Homeopatia na Escola Superior de Biologia e Saúde, Lisboa, Portugal.

Actualmente é presidente da Associação Portuguesa de Homeopatia (APH), dirige o Grupo de Estudos de Matéria Médica Homeopática e Repertorização (GEMMR).

Http://aphomeopatia.weebly.com/


Desde os 19 anos que lida e mexe com plantas quer na sua secagem como na elaboração de fórmulas galénicas para cápsulas, extractos e ampolas. Como o seu pai era já homeopata conviveu sempre com plantas e no momento investiga também plantas no laboratório português (www.novaflora.pt)


Faz clínica desde 2002 em Portugal e Brasil e a sua área de actuação é: crianças com problemas psico-somáticos (deficit de atenção, hiperactividade, dislexia, discalculia, etc.), mulheres com problemas psico-somáticos (depressão, etc.) problemas post menopáusicos, osteoporose e doenças ósseas. Nos últimos anos tem também actuado em casos de cancro com sucesso.



Hidroterapia xamânica e não clássica porquê?


A Hidroterapia xamânica nasceu na minha investigação ao longo destes 20 anos de experimentações quer por colegas mais antigos e experientes quer na utilização e uso na minha clínica. Explicando e utilizando a água e a Homeopatia alquímica nos meus pacientes fui-me apercebendo das alterações da água nas suas patologias. Mas xamânica porquê? Porque sentia que havia um elo de ligação e libertação aos problemas dos antepassados dos pacientes deixados nas células deles, uma espécie de herança genética.

Ao fazermos Hidroterapia xamânica entramos em contacto com a energia ancestral. Equilibramos os miasmas (karmas) deixados por eles ao longo de gerações; Problemas encapsulados nas nossas células que dão origem às enfermidades e ao terreno que cada um carrega. Assim, a Hidroterapia xamânica e a sauna ajudam-nos a libertar e a mudar a nossa direcção patológica. Rejuvenesce-nos e orienta-nos no nosso caminho espiritual para um dia seguirmos para uma nova jornada entrando no oitavo chacra de luz.

Ao utilizarmos a Hidroterapia xamânica diariamente fazendo parte da nossa higiene temos que saber que deve ser feita sempre de cima para baixo e meio.

É importante saber a nossa hora solar, pois os tratamentos de Hidroterapia xamânica obedecem ao sol, e devem ser feitos nestes horários, por isso temos que saber em que país nascemos e ver qual a hora solar desse país (continente).


História da Hidroterapia

No decorrer dos séculos e entre os diferentes povos, a utilização da água como tratamento preventivo e curativo desempenhou um papel bastante diverso. A água partilhou o destino de todos os tratamentos “naturistas” que foram, uns após outros, apreciados, depois postos de lado. Eis a razão porque se impõe uma incursão breve na história da Hidroterapia.


Os Hititas, que puderam fim, por volta do ano de 1530 a.C., à idade áurea da Babilónia, criaram uma civilização do banho, com uma técnica muito avançada. Muito recentemente, escavações trouxeram à luz do dia um estabelecimento de banhos com cinquenta banheiras de pedra colocadas umas ao lado das outras. Certas horas do dia eram reservadas aos banhos: o nascer do sol, o meio-dia e o pôr-do-sol; nessas horas os banhistas ajoelhavam-se nas banheiras para honrar os seus deuses.


Nos primórdios da civilização grega, encontramos, nomeadamente nos cantos de Homero compostos por volta de 800 a.C., indicações sobre a sua utilização interna e externa da água. Moedas descobertas na Sicília representam Hércules aspergido por um forte jacto de água.


O grande filósofo e médico Pitágoras introduziu na Grécia a prática dos banhos frios. Recomendava-os aos seus discípulos, assim como um regime vegetariano, para fortalecer o corpo e o espírito.


Hipócrates (460-377) receitava nos seus tratamentos envoltórios, compressas, banhos quentes e frios, pois conhecia a enorme importância da pele como superfície de absorção. Além disso recomendava os banhos de mar quentes e frios nos casos de eczemas com prurido, com excepção dos casos em que havia feridas infectadas ou úlceras de pele. Empregava a água do mar para clisteres e servia-se dela como bebida laxativa, misturando-a com outros líquidos.


Toda a gente conhece a paixão que os romanos tinham pelos banhos. Mais do que um simples medida de higiene, representavam para eles uma cura preventiva destinada a fortalecer. Sabe-se que um escravo libertado, o médico António Musa, salvou a vida do imperador Augusto, graças à Hidroterapia, e curou o poeta Horácio de uma doença bastante grave dos olhos.


O sábio Romano Célsio, escreveu, entre os 25 e 35 d. C., uma enciclopédia contendo o conjunto dos conhecimentos do seu tempo, do qual existem ainda oito volumes. A medicina de Alexandria, então em vigor, ensinava um regime de acordo com a natureza, assim como a utilização da água sob forma de bebidas, aspersões, duches ou banhos, para o tratamento de certas doenças.


O seu contemporâneo Plínio, o antigo que foi morto pela erupção do Vesúvio, fez na sua “História Naturista” um resumo da ciência médica do seu tempo. Deixou-nos um adágio célebre “Os banhos de mar aquecem o corpo e eliminam-lhe os humores”.


Galeno de Pérgamo (129-199), o médico do imperador Marco Aurélio e da aristocracia romana, sábio, erudito e autor bastante fecundo, compilou numa centena de estudos médicos os conhecimentos das diferentes escolas. Estudou especialmente a Hidroterapia, dando direcção a propósito dos banhos, completos ou parciais, e dos duches frios. Transmitiu-nos a herança de Hipócrates, do qual reconhecia ter adoptado as teorias sobre a medicina natural.


No decorrer da Alta Idade Média, a Hidroterapia caiu no esquecimento completo, enquanto que o tratamento por meio das plantas conheceu um desenvolvimento notável.


Avicena (980-1037), filósofo eminente e sábio em ciências naturais, foi um grande representante da medicina árabe. No seu “Canon medicinae” e outras obras suas, descreveu em pormenor os tratamentos naturais (nomeadamente por meio de banhos).


No século XIX o professor Oertel (1765-1850), vivamente interessado pela brochura de Johann Siegmund Hahn que tinha encontrado por acaso num alfarrabista, redigiu também um tratado sobre as virtudes curativas da água fria. Esta obra foi acolhida com entusiasmo pelo público. Em breve apareceram associações “para a saúde pela água”.


O camponês Vincenz Priessnitz (1799-1851) contribuiu poderosamente para o desenvolvimento da Hidroterapia. Ele nunca escreveu nada, reconhecendo que isto estava muito além da sua competência. Mas encontram-se numerosas obras, escritas em onze línguas diferentes, a respeito deste homem e dos seus métodos.


Priessnitz já tinha aprendido na sua juventude, graças à experiência pessoal e à observação dos animais que a água possui um grande poder vivificante e curativo. Tinha verificado também que os camponeses faziam transpirar os cavalos doentes, envolvendo-os em compressas secas ou húmidas. Foi assim que ele foi levado a tratar-se de uma contusão, da qual sofria, por meio de envoltórios húmidos e frios. Uma vez que o resultado tinha sido satisfatório, passou a recomendar daí em diante a aplicação da água fria sob a forma de afusões ou compressas húmidas, cada vez que na sua vizinhança ouvia falar de luxação, de contusão ou de ferimentos.

Por iniciativa dos camponeses, a sua fama de “doutor da água” atingiu depressa a boémia e a Morávia, e os doentes começaram a afluir, vindos de todas as regiões, para lhe pedir auxílio. Tendo observado que as afusões e os envoltórios húmidos provocavam erupções da pele e conseguiam assim atenuar as dores internas, foi levado a utilizá-los correntemente nos casos de afecções internas. Foi assim que procurou curar a gota, os reumatismos, as afecções do fígado e do estômago, a prisão de ventre crónica, as hemorróidas, o inchaço dos membros ou a sua paralisia, e até mesmo as depressões nervosas. Em seguida completou a sua “cura” por meio de doses de água bebida, dieta, sudações, envoltórios húmidos e banhos. Em 1831, recebeu finalmente autorização oficial para criar um estabelecimento balneário em Grafenberg.


Sebastião Kneipp (1821-1897), o servo de Deus e da terra, o “padre regador”, o “Homem que tratou toda a Europa”, pertence depois de Oertel e Priessnitz e antes de todos os outros, ao grupo de homens geniais que sucederam aos dois doutores Hahn. Os livros de Hahn e de Oertel sobre o poder curativo da água deram a Kneipp o impulso inicial.


Depois das suas primeiras experiências práticas (desde 1855), ele soube desenvolver admiravelmente os seus tratamentos por meio da água numa vasta Hidroterapia. Como os seus predecessores, completou a sua cura por meio de água com a introdução de factores naturais de cura. Tornou-se para o publico o instigador de uma forma de vida e de tratamento de acordo com a natureza. As forças inatas do organismo assim como a resistência aos efeitos nocivos do meio ambiente contribuíam grandemente para isso.


Hoje, a cura Kneipp apresenta-se como um sistema coerente (mas sempre susceptível de novos desenvolvimentos), orientado para a Hidroterapia, o regime, as plantas medicinais e todos os géneros de exercícios físicos. O supremo objectivo da cura é encontrar um ritmo de vida natural nos domínios físico e psíquico.


Kneipp e a aplicação prática da cura com a água

Kneipp, que não era médico, apercebia-se das suas limitações no domínio médico. Assim, ele desejava vivamente que os médicos aplicassem os seus métodos, moldando-os e desenvolvendo-os segundo regras científicas como hoje se pratica. No ano da sua morte, declarou: “Que será do meu sistema se for apenas utilizado pelos que não são profissionais e os médicos o negligenciarem? Assistiremos então a um simples fracasso da cura”.


Entretanto, é preciso salientar que os tratamentos hidroterápicos não devem em caso algum ser aplicados sem uma orientação de um profissional de saúde, pois podem provocar reacções muito perigosas. Existem verdadeiras alergias ao frio (nesses casos, os tratamentos são contra-indicados).

Um simples banho quente ou escaldante pode provocar um estado de colapso com insuficiência circulatória, porque a epiderme e a camada hipodérmica se dilataram de tal maneira que o sangue contido no corpo (cerca de 5 l) aí aflui e não pode continuar a irrigação normal da cabeça. Este perigo é muito grande em indivíduos anémicos e hipotónicos.


De seguida vamos encontrar os planos de cura para os sete grupos de doenças mais propagadas, com a indicação como aplicá-los segundo a prática natural e os banhos de Kneipp. Estes planos dão-nos uma ideia da complexidade da cura de Kneipp e indicam as orientações a seguir para estes tratamentos naturais.


Um dia de cura deve decorrer da seguinte maneira:


1. De manhã, das 6h às 8h00, o primeiro tratamento. Afusões depois voltar à cama aquecida, com o corpo ainda húmido, tapando-se para favorecer a evaporação. Pode aplicar-se também envoltório, seguido de fricções ou de afusões. Mas no caso de se tratar de pessoas muito nervosas ou angustiadas, pôr-se de lado este primeiro tratamento e pode substituir-se por marcha sobre o orvalho da manhã ou colocar os pés no alguidar com água fria colocando para cima e para baixo os pés (2 minutos).


Em seguida, antes do pequeno-almoço, banho de ar tomado no quarto, acompanhado de fricções, ou massagem com óleo, ou ainda fricção com escova seca. O banho de ar pode ser completado com ginástica respiratória, exercícios de respiração ou ginástica suave conforme o caso. Os tratamentos podem variar de dia para dia.


2. Pequeno-almoço com sumos naturais e umas tostas.

3. Das 9h às 11h00, tratamento principal determinado pelas prescrições de cura, na maioria das vezes banho ou jacto.

4. Repouso na cama depois do banho, em seguida passeio.

5. Meia a uma hora de repouso, antes do almoço.

6. Almoço.

7. Uma hora de repouso deitado depois do almoço, eventualmente com exercícios de descontracção ou envoltórios dos rins.

8. Das 15h às 16h00, banho de ar, banhos dos braços ou jactos nos braços, seguido de passeio ou repouso, se necessário.

9. Das 17h Às 18h00, marcha na água, seguido de aquecimento rápido.

10. Jantar, de preferência leve e tomado cedo. O deitar far-se-á igualmente cedo, acompanhado, se possível, de exercícios de descontracção.


A cura de Kneipp decorre ao longo do dia todo, segundo um certo esquema que pode comportar, conforme o estado de sensibilidade e as possibilidades de reacção do doente, numerosas variações que o especialista deve anotar na sua receita.

A cura tem por duplo objectivo modificar o comportamento do organismo (quando ele é fraco de mais para lutar contra a doença) e aumentar a resistência natural do doente.

Encontram-se a seguir cinco exemplos esquematizados de curas.













































TÉCNICAS E QUADROS HIDROTERÁPICOS DE KNEIPP

Fonte – Hidroterapia Kneipp”


Tratamento natural das perturbações hepáticas, intestinais e circulatórias

Podem admirar-se de ver classificados numa mesma cura afecções tão diferentes como as do fígado, dos intestinos e circulação. No entanto, isto tem uma certa lógica, pois se conhecemos as relações íntimas existentes entre estas afecções.

A terapêutica naturológica relega para segundo plano os métodos de tratamento visando um único órgão. Ela dá prioridade ao tratamento geral, que visa aliviar o doente e estimular a actividade natural do organismo. Isto não impede de aplicar em seguida tratamentos específicos para certos órgãos particulares.

A relação existente entre as perturbações hepáticas, intestinais e circulatórias torna-se evidente se considerarmos que cada afecção cardiovascular conduz a uma diminuição da irrigação ou a uma congestão., primeiro do fígado, depois dos órgãos da digestão. Como o fígado é muito sensível às perturbações de circulação, deve-se muito antes de ter detectado outros sintomas de insuficiência cardiovascular, utilizar tratamentos hidroterápicos para suprimir essas perturbações.


Plano de tratamento



Horário





6h – 8h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Afusões ao tronco.

Envoltório sobre os rins.

Afusões ao tronco.

2ª Semana


Afusões ao corpo todo.

Envoltório sobre os rins.

Meio-banho.

3ª Semana


Meio-banho.

Envoltório sobre os rins.

Meio-banho.

4ª Semana


Jacto sobre os braços e

peito.

Envoltório sobre os rins.

Jacto sobre os braços e peito.


9h – 11h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Jacto sobre as pernas.

Jacto sobre as pernas e coxas.

Jacto sobre as pernas.

2ª Semana


Jacto sobre a parte inferior do corpo.

Jacto sobre as pernas e as coxas.

Jacto a temperaturas alternadas.

3ª Semana


Jacto sobre o tronco.

Jacto sobre o tronco todo.

Jacto a temperaturas alternadas.

4ª Semana


Jacto sobre o corpo todo.

Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

Jacto sobre o corpo todo.

Todos os dias, antes do almoço, meia hora de repouso na cama



Horário





15h – 16h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Envoltórios com argila nos braços.

Envoltórios com argila nas pernas

Envoltórios com argila nos braços.

2ª Semana


Saco com flores de feno sobre o fígado

Saco com flores de feno.

Saco com flores de feno sobre o fígado

3ª Semana


Banho dos braços a temperaturas alternadas.

Banho de assento a temperaturas alternadas.

Banho dos braços a temperaturas alternadas.

4ª Semana


Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

Jacto a temperaturas alternadas sobre o tronco.

Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

À noite, dar um passeio e deitar-se cedo. Nada de excitantes tóxicos durante a cura.


Horário





6h – 8h00


4º dia


5º dia


6º dia


1ª Semana


Envoltórios sobre os rins.

Afusões do corpo todo.

Fricção com escova seca e afusões em todo o corpo.

2ª Semana


Afusões no corpo todo.

Banho de agulhas de pinheiro.

Fricção com escova seca e afusões em todo o corpo.

3ª Semana


Afusões do corpo todo.

Banho de agulhas de pinheiro.

Fricção com escova seca e afusões em todo o corpo.

4ª Semana


Envoltórios sobre os rins.

Banho de agulhas de pinheiro.

Fricção com escova seca e afusões em todo o corpo.


9h – 11h00



4º dia


5º dia


6º dia

1ª Semana


Jacto sobre as pernas e as coxas.

Jacto sobre a parte inferior do corpo.

Marcha na água.

2ª Semana


Jacto sobre as pernas e as coxas.

Jacto sobre o corpo todo.

Natação.

3ª Semana


Jacto rápido a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

Jacto rápido.

Marcha na água.

4ª Semana


Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas e coxas.

Jacto rápido sobre todo o corpo.

Natação.

Todos os dias, antes do almoço, meia-hora de repouso na cama



Horário





15h – 16h00


4º dia


5º dia


6º dia


1ª Semana


Envoltórios com argila nas pernas.

Envoltórios com argila nos braços.

Envoltório muito quente sobre os rins.

2ª Semana


Saco com flores de feno sobre o fígado.

Saco com flores de feno sobre o fígado.

Saco com flores de feno sobre o fígado.

3ª Semana


Banho de assento a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

Banho dos braços a temperaturas alternadas.

Envoltório muito quente sobre os rins.

4ª Semana


Jacto a temperaturas alternadas sobre o tronco.

Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

Saco com flores de feno sobre o fígado.


Tratamento natural das depressões nervosas e das perturbações vegetativas (distonia neuro-vegetativa)

Estas perturbações, tão frequentes, têm origem na fraqueza na constituição de indivíduos, na maioria dos casos instáveis, hipersensíveis e desprovidos de resistência nervosa. Graças à aplicação sistemática da cura de Kneipp, as suas reacções tornar-se-ão normais, a sua sensibilidade diminuirá e controlarão melhor os seus excessos de irrigação.

Esta cura convém igualmente às pessoas “inadaptadas” às exigências da vida quotidiana (físicas, sociais, afectivas ou intelectuais) e que, por uma reacção de defesa contra o sentimento de descontentamento e de inferioridade, intoxicam-se (a maior parte das vezes pelo álcool). Compreende-se então a necessidade absoluta de uma estabilização do controlo nervoso e de um reforço físico e psíquico.

O plano de cura proposto é apenas um meio, entre tantos, de agir sobre as causas que estão na origem das perturbações físicas e psicofísicas. Para as doenças puramente psíquicas – “depressões vegetativas” ou “neuroses” – a cura de Kneipp representa por certo um auxílio eficaz, mas não consegue suprimir a causa do mal. Deste modo é importante, nestes casos específicos, determinar a origem da doença.


Plano de tratamento



Horário





6h – 8h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Afusões ao tronco.

Afusões na parte inferior do corpo.

Afusões ao tronco.

2ª Semana


Afusões ao corpo todo.

Envoltório sobre os rins.

Afusões no corpo todo.

3ª Semana


Envoltórios sobre os rins.

Banho com escova na água e afusões no corpo todo.

Envoltório sobre os rins com água e vinagre.

4ª Semana


Envoltório sobre os rins com água salgada.

Banho com escova na água e afusões no corpo todo.

Envoltório sobre os rins com água salgada.


9h – 11h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Jacto a temperaturas alternadas e as coxas.

Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas.

Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

2ª Semana


Banho de assento.

Jacto a temperaturas alternadas sobre o tronco.

Banho de assento.

3ª Semana


Jacto a temperaturas alternadas.

Jacto sobre o tronco.

Jacto a temperaturas alternadas.

4ª Semana


Jacto rápido a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

Jacto sobre o tronco.

Jacto rápido a temperaturas alternadas sobre as pernas e coxas



Horário





15h – 16h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Banho nos braços.

Compressa muito quente sobre o estômago e a barriga.

Banho dos braços.

2ª Semana


Marcha na água.

Natação.

Marcha na água.

3ª Semana


Natação.

Marcha na água.

Natação.

4ª Semana


Natação.

Jacto rápido a temperaturas alternadas.

Natação.


6h – 8h00


4º dia


5º dia


6º dia


1ª Semana


Afusões sobre a parte inferior do corpo.

Afusões do tronco.

Afusões no tronco.

2ª Semana


Envoltório sobre os rins.

Afusões no corpo todo.

Afusões no tronco.

3ª Semana


Banho com escova na água e afusões no corpo todo

Envoltório sobre os rins com água salgada.

Afusões no corpo todo.

4ª Semana


Banho com escova na água e afusões sobre todo o corpo.

Envoltório sobre os rins com água salgada.

Afusões no corpo todo.



Horário





9h – 11h00


4º dia


5º dia


6º dia


1ª Semana


Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas.

Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

Marcha na água.

2ª Semana


Jacto a temperaturas alternadas sobre o tronco.

Banho de assento a temperaturas alternadas.

Marcha na água.

3ª Semana


Jacto sobre o tronco.

Jacto a temperaturas alternadas.

Marcha na água.

4ª Semana


Jacto sobre o tronco.

Jacto rápido a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

Marcha na água


15h – 16h00


4º dia


5º dia


6º dia


1ª Semana


Compressa muito quente sobre o estômago e a barriga.

Banho com valeriana.

Envoltório sobre os rins.

2ª Semana


Natação.

Banho com valeriana.

Envoltório sobre os rins.

3ª Semana


Marcha na água.

Banho com valeriana.

Envoltório sobre os rins.

4ª Semana


Jacto rápido a temperaturas alternadas.

Banho com valeriana.

Envoltório sobre os rins.


Tratamento natural para aumentar a resistência do organismo e a sua protecção contra as doenças.

Cada vez mais se aplica os princípios de higiene activos a fim de permitir ao nosso organismo resistir às doenças e ao desgaste do tempo. Torna-se então necessário recomendar os métodos que estimulem a capacidade de regeneração do corpo, o seu mecanismo regulador (centros nervosos e centros neurovegetativos), o seu sistema hormonal e todos os seus meios de defesa.

O terreno mais favorável para a aplicação destes métodos é a pele; é por isso que os tratamentos de Hidroterapia a temperaturas variadas são muito eficazes. Por intermédio da pele, podemos agir sobre inumeráveis terminações nervosas, assim como sobre a rede da epiderme e a camada hipodérmica. Encontram-se acumulados na pele elementos de defesa contra os micróbios; por este facto, podemos obter, pela estimulação da água, uma melhoria da regulação térmica da circulação.

Sobretudo na Primavera, deve começar-se a aplicar métodos próprios para aumentar as defesas do organismo e torná-lo resistente às doenças; isto exige, antes de mais, uma estimulação dos órgãos de eliminação (emunctórios – intestinos, rins, pele e pulmões), assim como do fígado.

Os tratamentos de Kneipp, completados por um regime apropriado e uma cura de tisanas, podem produzir este resultado. São também recomendáveis aos convalescentes.



Horário





6h – 8h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Fricção com a escova seca e afusões no tronco.

Fricção com a escova seca e afusões sobre a parte inferior do corpo.

Fricção com a escova seca e afusões no tronco.

2ª Semana


Afusões a temperaturas alternadas no tronco.

Afusões a temperaturas alternadas sobre a parte inferior do corpo.

Afusões a temperaturas alternadas no tronco.

3ª Semana


Afusões frias no tronco.

Afusões frias sobre a parte inferior do corpo.

Afusões frias no tronco.

4ª Semana


Afusões frias no corpo todo.

Afusões frias no corpo todo.

Afusões frias no corpo todo.


9h – 11h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Envoltório sobre os rins.

Envoltório sobre a barriga das pernas.

Envoltório sobre os rins.

2ª Semana


Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas.

Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

3ª Semana


Jacto a temperaturas alternadas.

Jacto sobre o tronco.

Jacto a temperaturas alternadas.

4ª Semana


Jacto rápido a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

Envoltório sobre os rins.

Jacto rápido a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

Ao meio-dia, passar uma hora ao ar livre, ou fazer uma cura de repouso no quarto, com a janela aberta.



Horário





15h – 16h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Banho dos braços.

Marcha na água.

Natação.

2ª Semana


Marcha na água.

Marcha na água.

Natação.

3ª Semana


Natação.

Banho dos braços a temperatura progressiva.

Sauna.

4ª Semana


Natação

Jacto rápido a temperaturas alternadas.

Sauna.


6h – 8h00


4º dia


5º dia


6º dia


1ª Semana


Fricção com a escova seca e afusões sobre a parte inferior do corpo.

Fricção com a escova seca e afusões no tronco.

Natação.

2ª Semana


Afusões a temperaturas alternadas sobre a parte inferior do corpo.

Afusões a temperaturas alternadas no tronco.

Natação.

3ª Semana


Afusões frias sobre a parte inferior do corpo.

Afusões frias no tronco.

Sauna.

4ª Semana


Afusões frias sobre o corpo todo.

Afusões frias no corpo todo.

Sauna.



Horário





9h – 11h00


4º dia


5º dia


6º dia


1ª Semana


Envoltório sobre a barriga das pernas.

Envoltório sobre os rins.

Marcha na água e passeio.

2ª Semana


Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas,

Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

Marcha na água e passeio.

3ª Semana


Jacto sobre o tronco.

Jacto a temperaturas alternadas.

Marcha na água e passeio.

4ª Semana


Envoltório sobre os rins.

Jacto rápido a temperaturas alternadas.

Marcha na água e passeio.


15h – 16h00


4º dia


5º dia


6º dia


1ª Semana


Banho dos braços.

Banho com valeriana.

Natação.

2ª Semana


Marcha na água.

Banho com flores de feno.

Sauna.

3ª Semana


Natação.

Banho com extracto de cavalinha.

Natação.

4ª Semana


Natação.

Banho com extracto de agulhas de pinheiro

Sauna.


Tratamento natural das afecções alérgicas.

Estas afecções são originadas por uma fraqueza da constituição nos indivíduos instáveis, hipersensíveis ou nervosos e cujas reacções anticorpo antígeno são muitas vezes excessivas. Graças à aplicação sistemática da cura de Kneipp, veremos reaparecer as capacidades de resistência do doente.

Para os tratamentos de Hidroterapia, recomenda-se jactos, envoltórios (argila, água salgada), banhos (alecrim, palha de aveia ou cavalinha). Mas a cura de Kneipp será mais eficaz se for realizada num clima marítimo, no Inverno ou no começo da Primavera (sobretudo na costa do mar norte).

Se o paciente manifestar alergia ao frio e aos tratamentos de Hidroterapia frios, vamos aplicar-lhe a sauna.

O vinagre usado deve ser o de maçã (1 copo de vinagre para um litro de água).



Horário





6h – 8h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Afusões no tronco.

Banho com palha de aveia.

Afusões no tronco.

2ª Semana


Banho dos pés.

Banho com camomila.

Banho nos pés.

3ª Semana


Afusões no corpo todo.

Banho com palha de aveia.

Afusões no corpo todo.

4ª Semana


Afusões com água e vinagre.

Banho com cavalinha.

Afusões com água e vinagre no corpo todo.


9h – 11h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Envoltório sobre os rins.

Clister.

Envoltório sobre os rins.

2ª Semana


Saco com flores de feno sobre o fígado.

Envoltório sobre os rins.

Clister.

3ª Semana


Jacto sobre a parte inferior do corpo.

Envoltório com argila.

Clister.

4ª Semana


Jacto sobre as costas.

Envoltório com argila.

Clister.


Ao meio-dia, uma hora ao ar livre ou repouso no quarto, com a janela aberta.



Horário





15h – 16h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Jacto sobre o tronco.

Jacto sobre a parte inferior do corpo.

Jacto sobre o tronco.

2ª Semana


Jacto sobre as costas.

Jacto sobre as pernas, as coxas e a barriga.

Jacto sobre as costas.

3ª Semana


Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas.

Jacto a temperaturas alternadas sobre as pernas.

Sauna.

4ª Semana


Sauna.

Natação.

Jacto sobre o corpo todo.


6h – 8h00


4º dia


5º dia


6º dia


1ª Semana


Banho com palha de aveia.

Afusões no tronco.

Afusões no corpo todo.

2ª Semana


Banho com camomila.

Banho dos pés a temperatura progressiva.

Afusões no corpo todo.

3ª Semana


Banho com cavalinha.

Envoltório com argila.

Afusões no corpo todo.

4ª Semana


Banho com palha de aveia.

Afusões com água e vinagre no corpo todo.

Afusões no corpo todo.


Uma hora de passeio depois do tratamento. À noite, marcha na água.



Horário





9h – 11h00


4º dia


5º dia


6º dia


1ª Semana


Clister.

Envoltório com argila.

Envoltório sobre os rins.

2ª Semana


Saco com flores de feno sobre o fígado.

Envoltório com argila.

Saco com flores de feno sobre o fígado.

3ª Semana


Envoltório com argila.

Jacto sobre a parte inferior do corpo.

Envoltório sobre os rins.

4ª Semana


Envoltório com argila.

Jacto sobre as costas.

Saco com flores de feno sobre o fígado.


15h – 16h00


4º dia


5º dia


6º dia


1ª Semana


Jacto sobre a parte inferior do corpo.

Envoltório com argila.

Natação.

2ª Semana


Envoltório com argila.

Jacto sobre as costas.

Jacto sobre o corpo todo.

3ª Semana


Envoltório com argila.

Jacto com temperaturas alternadas sobre as pernas e as coxas.

Natação.

4ª Semana


Sauna.

Jacto rápido.

Jacto sobre o corpo todo.


Ao meio-dia, ficar ao ar livre, ou repousar no quarto, com a janela aberta.


À tarde, uma hora de passeio, depois do tratamento. À noite, marcha na água.


Tratamento natural das bronquites agudas e febris

Cerca de um quinto, aproximadamente, da população sofre de bronquite mais ou menos grave. Sabe-se que a tosse dos fumadores, que a princípio parece inofensiva, transforma-se mais tarde em bronquite crónica e em enfisema pulmonar. Um trabalho prolongado num ambiente com poeiras (fábrica de cerâmica, de amianto ou cimento, exploração mineira) conduz forçosamente a riscos de contrair bronquite crónica.

A bronquite aguda é provocada geralmente por bactérias ou vírus já localizados ao nível do nariz e da faringe ou provenientes directamente do ar inspirado. Irritações devidas à inalação de produtos químicos (gás, fumo de cigarro) ou reacções alérgicas (febre dos fenos, asma) a certas substâncias (pólen das flores por exemplo) podem também estar na origem desta afecção.


Em caso de bronquite de natureza febril, completa-se a cura de Kneipp – que estimula as defesas do organismo, a circulação e a eliminação – com uma terapêutica capaz de destruir os micróbios ou de travar a sua proliferação (por exemplo através de plantas medicinais).


Dieta: em caso de afecção aguda e febril, reduzir a alimentação e a quantidade de sal nos primeiros dias, a não ser que sudações muito abundantes, implicando uma eliminação de sal no organismo, imponham nova administração desta substância. Esforçar-se por beber bastante: água mineral, sumos de fruta ou de legumes.


Tratamento de plantas medicinais: as plantas seguintes podem produzir um efeito salutar: Anis, saxifraga, drosera, funcho, alteia ou malvaísco, inula ou énula-campana, musgo da Islândia, tanchagem maior, tanchagem lanceolada, primavera, serpão ou serporl, sabugueiro, alcaçuz, tomilho, tília, tussilagem, violeta.


Uma associação apropriada é: 10 g de anis verde, 40 g de raiz de alteia ou malvaísco, 10 g de linária, 15 g de alcaçuz, 20 g de tussilagem e 5 g de raiz de violeta. Pôr em infusão 1 colher de sopa desta mistura numa chávena de água. Beber três vezes por dia 1 chávena desta tisana, quente e adoçada com mel.




6h – 8h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Fomentações sobre o peito.

Envoltório sobre o peito com farinha de mostarda.

Envoltório sobre o peito com farinha de mostarda.

2ª Semana


Fomentações sobre o peito.

Fomentações sobre o peito.

Afusões no tronco.

3ª Semana


Afusões do corpo todo.

Afusões no corpo todo.

Afusões no corpo todo.

4ª Semana


Jacto sobre o tronco.

Jacto sobre o tronco.

Jacto sobre o tronco.


Horário





9h – 11h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Banho dos pés com flores de feno a temperatura progressiva.

Banho dos pés com flores de feno a temperatura progressiva.

Banho dos pés com flores de feno a temperatura progressiva.


2ª Semana


Meio-banho a temperatura progressiva.


Meio-banho a temperatura progressiva.


Meio-banho a temperatura progressiva.


3ª Semana


Banho de assento a temperaturas alternadas.

Banho de assento a temperaturas alternadas.

Banho de assento a temperaturas alternadas.

4ª Semana


Banho a temperaturas alternadas

Banho a temperaturas alternadas

Banho a temperaturas alternadas



15h – 16h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Repouso na cama com saco de água quente.

Envoltório muito quente sobre os rins.

Envoltório muito quente sobre os rins.

2ª Semana


Saco com flores de feno sobre a barriga.

Saco com flores de feno sobre a barriga.

Saco com flores de feno sobre a barriga.

3ª Semana


Banho dos braços.

Banho dos braços.

Banho dos braços.

4ª Semana


Marcha na água.

Sauna.

Natação.



6h – 8h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Envoltório sobre o peito com farinha de mostarda.

Envoltório sobre o peito com farinha de mostarda.

Envoltório sobre o peito com farinha de mostarda.

2ª Semana


Afusões no tronco.

Afusões no tronco.

Afusões no tronco

3ª Semana


Afusões no corpo todo.

Afusões no corpo todo.

Afusões no corpo todo.

4ª Semana


Jacto sobre o corpo todo.

Jacto sobre o corpo todo.

Afusões no corpo todo


Horário





9h – 11h00


1º dia


2º dia


3º dia


1ª Semana


Envoltório por xaile com água salgada.

Envoltório por xaile com água salgada.

Marcha na água seguido por uma hora de passeio.

2ª Semana


Banho a temperatura progressiva.

Banho a temperatura progressiva.

Marcha na água seguido por uma hora de passeio.

3ª Semana


Banho de assento a temperaturas alternadas.

Banho de assento a temperaturas alternadas.

Marcha na água seguido por uma hora de passeio.

4ª Semana


Jacto rápido sobre as pernas e as coxas.

Jacto rápido sobre as pernas e as coxas.

Marcha na água seguido por uma hora de passeio.



6h – 8h00


4º dia


5º dia


6º dia


1ª Semana


Envoltório muito quente sobre os rins.

Saco com flores de feno sobre a barriga.

Natação.

2ª Semana


Banho dos braços a temperaturas alternadas.

Banho dos braços a temperaturas alternadas.

Natação.

3ª Semana


Jacto sobre o tronco.

Jacto sobre o tronco.

Natação.

4ª Semana


Natação.

Sauna.

Natação.


Todas as noites, enquanto se mantiver a temperatura (3 – 7 dias), envoltório sobre a barriga das pernas.



A APLICAÇÃO DA CURA DE KNEIPP EM CASA

Fonte – A cura pela Hidroterapia Schneider”

A cura pode ser feita em estabelecimentos especializados, mas também o pode ser em casa. A água constitui o remédio mais natural e mais barato, é essa a razão de ele ser tão pouco apreciado. No entanto, quando não dispomos nem do dinheiro, nem do tempo necessário para uma cura, podemos fazê-la da mesma maneira em casa. Basta ter um chuveiro, uma banheira, um tubo curto com aproximadamente 20 mm de diâmetro (que se aplica a uma torneira), ou ainda um lavatório grande, duas tinas grandes de plástico e algumas toalhas cobertores.


Este tratamento actuará sobre o sistema neurovegetativo graças a uma melhor circulação do sangue. Os pés frios, os excessos de transpiração, as palpitações, as vertigens, as dores de cabeça, o sangue que sobe à cabeça, o cansaço, são sintomas de má circulação. A cura de Kneipp permite remediá-la.


Os seguintes tratamentos são aplicados ao domicílio. Além dos efeitos já atrás referidos, eles fortificam o organismo e regularizam o sistema neurovegetativo. Trata-se de: banhos frios nos braços, quentes e a temperaturas alternadas, afusões praticadas no lavatório, marcha na água (no fundo da banheira), compressas, envoltórios (mesmo se aplicados na cama).


Estes tratamentos hidroterápicos podem revelar-se muito eficazes em numerosas afecções. O seu efeito de estimulação actua imediatamente sobre a circulação, em particular nas perturbações cardiovasculares funcionais, os estados depressivos, a má irrigação da pele, os casos, hoje tão frequentes, de desequilíbrio nervoso, e do mesmo modo no período de convalescença após uma cirurgia. Estes tratamentos requerem medidas higiénicas que deveriam ter sido praticadas desde a infância. Infelizmente é a partir, muitas vezes, dos cinquenta anos (quando os efeitos da idade começam a fazer-se sentir) que “se compreende a necessidade de fazer alguma coisa pela saúde”. A cura de Kneipp responde a duas funções de medicina moderna: prevenir e curar.


O homem tem tendência para procurar primeiramente a via mais fácil: a utilização de medicamentos. Absorve misturas de vitaminas, de estimulantes de toda a espécie (que contém na maior parte das vezes cafeína, extracto de cola, estricnina, produtos que actuam no psiquismo, ou hormonas), bebidas alcoólicas e tabaco. Enfraquece deste modo a resistência do seu corpo, o que prepara o caminho para as doenças futuras. Os tratamentos hidroterápicos, contrariamente, aumentam a vitalidade do organismo para assim o proteger contra as doenças. Mas mesmo nos mais simples tratamentos, é necessário observar certas regras, senão, há o risco de serem mais prejudiciais que úteis.



Nunca se devem aplicar tratamentos hidroterápicos frios se o corpo estiver arrefecido ou com arrepios. É necessário primeiramente aquecê-lo por meio de exercícios físicos, de banhos de pés ou de braços, muito quentes, ou ainda de compressas a temperaturas alternadas.


Depois dos tratamentos, deve evitar-se o aparecimento da sensação de frio; recomenda-se então muito exercício físico ou meter-se na cama até à recuperação completa do calor. As pessoas que não estejam habituadas à Hidroterapia fria devem aplicá-la, inicialmente, durante muito pouco tempo. O efeito benéfico provém da reacção ao estímulo da água fria, que provoca uma melhor irrigação sanguínea, sempre acompanhada de uma sensação de calor.


Seria melhor a abstenção destes tratamentos, se houver cansaço, ou se não houver o tempo nem a paciência necessários, pois para haver um resultado eficaz, é necessário que eles realizem numa perfeita calma interior, a fim de que o sistema neurovegetativo reaja como se pretende. Pode e deve-se fazer um esforço para sossegar, combatendo energicamente as causas de inquietude no plano psíquico: conflitos morais, preocupações, etc.


A cura de Kneipp não consiste unicamente numa Hidroterapia praticada no sossego; ela deve ser completa por uma alimentação natural e, se necessário, pelo emprego de plantas medicinais. Durante a cura, deve-se renunciar a refeições demasiado abundantes (excesso de gorduras ou de carnes) e comer de preferência pão integral, produtos lácteos fermentados, frutas, legumes, saladas, vegetais leves; beber somente sumos de fruta e água mineral. O café, o chá preto, o tabaco e o álcool devem ser totalmente postos de lado, pois irritam o sistema neurovegetativo. Assim, poder-se-á seguir em casa uma cura completa, e a água da torneira será tão eficaz como os tratamentos hidroterápicos feitos num estabelecimento especializado.


Por outro lado, quem o puder fazer deve correr diariamente descalço sobre a relva húmida do orvalho. O estímulo frio e o exercício melhorarão a circulação sanguínea; o calor do corpo intensificar-se-á, a respiração tornar-se-á mais forte e mais livre, a oxigenação será mais importante, resultando sai uma melhor assimilação e uma maior sensação de vida e de força. Poder-se-á obter o mesmo efeito por meio de outros “métodos simples de revigoramento”, tais como a marcha na água e a marcha na neve.


A maioria das pessoas ignora que a sua banheira é ideal para a marcha na água. Basta enchê-la de água fria, aproximadamente até um palmo abaixo do joelho, e andar lá dentro durante um a três minutos. Em cada passo, levantar a perna o suficiente para que saia da água. Logo que se sinta a “mordedura” do frio ou que o contacto com a água se torna doloroso, é tempo de sair da banheira. Deixar escorrer a água e em seguida, depois de ter calçado umas sandálias ou umas meias, correr durante algum tempo até que os pés tenham adquirido uma temperatura normal. Graças a este método, uma pessoa torna-se resistente, evitam-se as constipações (resfriados) e fazem-se desaparecer as sensações de peso na cabeça. A marcha na água, antes de deitar predispõe para o sono.


As pessoas que necessitam de um estimulante ao princípio da tarde, substituirão com vantagem o café por um banho de braços, que se faz no lavatório. Mergulhar primeiramente os braços (até metade dos bíceps) durante cinco minutos, numa água a 38º; em seguida encher o lavatório de água fria e mergulhar os braços durante 10 ou 15 segundos. Depois de ter repetido a operação duas ou três vezes, constatar-se-á a rapidez com que a fadiga desaparece.


O remédio mais eficaz contra um grande número de afecções e doenças é aquele que assegura ao organismo uma boa circulação.

Daí o valor dos banhos frios, muito quentes e a temperaturas alternadas dos pés, dos banhos de plantas (Agulhas de pinheiro, Arnica, Camomila, Palha de aveia, alecrim e cavalinha) e de todas as variedades de jactos, sobretudo sobre as pernas, as coxas e os braços.

A prática da cura de Kneipp em casa pode incitar as crianças a imitarem os seus pais e é precisamente para elas que ela é mais útil, visto que ajuda a resistência ao frio e às intempéries. Quanto mais cedo elas começarem estes tratamentos, melhor será. Depois de lavados e ensaboados da cabeça aos pés, massajar a pele ainda húmida com uma escova, seguidamente enxaguar o corpo com um duche alternado de água bem quente e depois fria. A experiência prova que as crianças sentem sempre bastante prazer nestes jogos com a água.



Tratamentos hidroterápicos especiais


O banho hipertérmico nas doenças crónicas


O homem só tolera durante muito tempo temperaturas médias que oscilem entre 0 e 30º, se bem que possa aumentar esta «escala de temperatura» para valores de – 50 a + 50º, graças a um vestuário apropriado, ao aquecimento e à climatização. No entanto, esta margem parece ainda excessivamente reduzida, quando a comparamos à que separa o zero absoluto (-275º) das temperaturas extremas existentes na superfície do sol (+6000º). Mas nos limites restritos das temperaturas que determinam as possibilidades de vida, o homem reage de uma maneira muito sensível a cada variação térmica, seja qual for a sua origem. Estas capacidades de reacção rápida estão na base dos tratamentos térmicos, que foram conhecidos e empregados desde os tempos mais remotos. Na terapêutica naturista, a utilização de variações de temperatura tem um papel primordial na prevenção e cura das doenças.

Apesar das oscilações térmicas do meio exterior, o organismo humano é capaz de conservar a sua temperatura; esta varia normalmente entre 36 e 37º (temperatura tomada sob a axila). Esta temperatura só pode ser mantida se houver um equilíbrio entre a produção e a eliminação de calor. É um centro nervoso situado no mesencéfalo e no diencéfalo que controla esta regulação. Recebe impulsos de abrandamento ou de aceleração pela temperatura do sangue e pelos nervos sensitivos da pele. O aumento ou a eliminação do calor podem ser devido à regulação térmica física ou química. A maior parte das vezes, o processo físico entra em jogo em primeiro lugar e o processo químico intervém somente em seguida.

Esta regulação térmica, quer seja física ou química, tem no entanto limites: estes dependem não só da temperatura exterior, mas também de certos factores: vestuário, esforço físico, perturbações e grau higrométrico da atmosfera. Se esses limites forem ultrapassados, a regulação térmica do organismo deixa de funcionar, o que conduz a uma baixa ou subida brutal da temperatura.

O aquecimento conduz a excitação directa ou indirecta do centro de regulação térmica. Os vasos da pele dilatam e a eliminação de calor aumenta. Para mais, a secreção de suor aumenta, do que resulta uma perda de calor. Durante a transpiração acelerada, há eliminação de calor ao nível dos pulmões. Os processos de combustão do organismo ficam, portanto, reduzidos, assim como a produção do calor.


O arrefecimento estimula os nervos sensitivos da pele, assim como o centro de regulação do frio; isto conduz a uma contracção dos vasos e a uma redução do desperdício de calor. Se esta regulação não for suficiente, os processos de combustão do organismo intensificam-se.


Para compreender a utilidade da sauna e dos banhos hipertérmicos, é muito importante conhecer os mecanismos da regulação do calor; sobretudo aquele que, graças a uma elevação da temperatura, produz um aumento das trocas em todas as células do corpo. Os tratamentos térmicos aumentam também a condutibilidade dos nervos, reduzem os tempos de não excitabilidade (período refractário), equilibram a tensão e consequentemente diminuem as zonas de perturbações nervosas.


Um aquecimento local muito forte mas de curta duração (por exemplo sobre o ventre, nas costas e nas coxas) provoca um aumento das trocas nas células do órgão sobreaquecido, do que resulta uma limpeza. A rede de fibras nervosas nesse órgão pode desde então assegurar a transmissão mais facilmente e mais rapidamente. A diferença de temperatura em relação aos outros órgãos causa mudanças de zonas de perturbações nervosas em todo o corpo.


Um aquecimento geral muito forte e de longa duração reforça as reacções químicas em todas as células do corpo, o que conduz a uma melhora das trocas e a uma limpeza geral. Por outro lado, um aquecimento deste tipo equilibra as temperaturas das diversas partes do corpo, donde resultam diferenças de tensão menores na rede nervosa. Produz-se ao mesmo tempo uma reacção parassimpática pronunciada, acompanhada de sudação. Esta conduz à excitação de uma parte do sistema neurovegetativo – sistema sobre o qual não podemos exercer nenhuma influência consciente, mas que determina o equilíbrio e a saúde.


Se o aquecimento dura demasiado tempo, a pessoa tratada cansa-se e enfraquece. É, portanto indispensável um bom doseamento.


Antes que a doença atinja as estruturas das células, verificam-se geralmente no organismo humano distúrbios nervosos e um estado de super excitação. Quando se está já nesta primeira fase, é preciso antes de mais aliviar e purificar o citoplasma das células nervosas, para o proteger contra uma super excitação prolongada e conservá-lo em bom estado. Se não, as coisas não ficarão por aqui: encaminha-se lentamente para uma modificação das próprias estruturas celulares.


Esta é a razão porque os banhos hipertérmicos, com relaxamento nervoso que proporcionam, entram no quadro das medidas preventivas contra o cancro.

Verificou-se que para os diferentes tecidos do corpo humano, assim como para os agentes patogénicos (bacilos, bactérias, vírus), há uma temperatura crítica além da qual é impossível qualquer espécie de vida. O que é determinante é que esta temperatura crítica é mais elevada para os tecidos sãos do que para os cancerosos e para as bactérias. Assim, Vollmar verificou que as culturas dos tecidos normais não eram de modo algum afectadas no seu desenvolvimento a uma temperatura de 43º, enquanto que uma temperatura de 39º era já prejudicial aos tecidos cancerosos. Segundo ele, os banhos repetidos com a duração de uma hora, à temperatura de 40 a 42º, destroem praticamente as possibilidades de vida de tais tecidos.


O professor Lampert considera que os banhos hipertérmicos são indicados para três grupos de doenças:


  1. Sífilis, blenorreia, meningite, paludismo, tumores (Temperatura necessária: 40 a 42º).

  2. Doenças infecciosas agudas (temperatura desejável: 39 a 40º).

  3. Afecções reumatismais (38,5º ou 39º).


É evidente que estes tratamentos devem ser encarados sempre sob controlo médico.

Recentemente, o professor Von Ardenne idealizou uma banheira especial, na qual o corpo do paciente é aquecido, enquanto a cabeça é refrescada. Segundo este professor, este tratamento hipertérmico permitiria a destruição de 95% das células cancerosas do organismo, renovando o tratamento.

Mas falta determinar se as células cancerosas não adquirem por fim uma certa resistência ao calor.


A dificuldade, na aplicação dos banhos hipertérmicos, provinha da temperatura elevada que era requerida (44º) e que punha em perigo a própria vida do paciente. O professor Von Ardenne conseguiu baixar para 40º a temperatura necessária para a destruição das células cancerosas, introduzindo no organismo sumo de uva por via intravenosa (a fim de provocar uma hiperacidez das células cancerosas, o que as torna ainda mais sensíveis ao efeito do calor).


As pesquisas do professor Von Ardenne estão ainda em fase experimental, mas permitem idealizar grandes esperanças na luta contra o cancro. Estas experiências realçam assim o valor dum antigo método de cura por meio de um processo natural.







Os clisteres


O clister representa hoje um tratamento psicofisiológico que durante muito tempo foi desconhecido; aplica-se a uma série de doenças, particularmente a preguiça intestinal e a prisão de ventre. Seria desejável que cada médico tivesse já feito a experiência pessoalmente, para o poder receitar no caso de necessidade, o que seria benéfico para os doentes e evitaria o emprego de muitos medicamentos.


Definição


Em princípio, consiste exclusivamente numa lavagem do intestino grosso e faz-se com um aparelho especial, quer na água durante um banho quente, quer, se renunciamos ao banho, sob a forma de clister vulgar. O clister dentro do banho não é praticável em casa.

A disposição deve permitir uma evacuação limpa e sem cheiro. A reacção produzida pela água do banho sobre o organismo e o efeito de descontracção produzido pelo calor fazem com que o liquido possa penetrar sem esforço e sem dor até à proximidade do cego. O comprimento do intestino até esse ponto é de 1,50m.


Modo como actua:


O efeito do jacto de água no intestino (pode ser praticado de modo tão intenso quanto possível e no entanto inofensivo) provoca por si só evacuação completa das fezes e uma limpeza do intestino grosso, o que, em caso de prisão de ventre crónica, produz um alívio imediato de todo o ventre. Além disso, a musculatura do intestino e do abdómen fica reforçada; o intestino pode então retomar um funcionamento normal que torna inútil a utilização de purgativos fracos ou fortes.


Além destes efeitos locais, observa-se igualmente uma acção mais generalizada. Como uma parte de água é absorvida pelas paredes intestinais, os rins funcionam mais activamente, do que resulta uma eliminação mais fácil dos resíduos da assimilação. Podem-se adicionar à água do clister infusões de plantas medicinais; o seu efeito curativo far-se-á sentir nos órgãos que lhe forem sensíveis.


Elevando-se a temperatura do líquido a 40º, obtemos uma dilatação dos vasos sanguíneos do intestino e dos órgãos da bacia.

A melhoria da circulação estimula o funcionamento destes órgãos assim como a sua resistência às doenças.


É preciso notar que os órgãos vizinhos do recto ficam aliviados pela evacuação de matérias acumuladas. A circulação sanguínea e linfática é também facilitada e este método permite evitar ou curar a congestão. Este efeito é particularmente benéfico para as mulheres, nos quais a retenção de fezes comprime o útero e os órgãos de reprodução.


Indicações


Seria, evidentemente, absurdo considerar o clister como um remédio universal, o que, dando demasiado valor ao tratamento, só o desacreditaria. Segundo as experiências feitas até agora, incluindo as minhas, o clister e sobretudo o clister dentro de água, é muito eficaz nos seguintes casos: preguiça intestinal crónica e prisão de ventre, flatulências, dispepsia de fermentação e putrefacção, síndrome de Roemheld, parasitoses, afecções da vesícula biliar, cura de emagrecimento (para a reforçar), crise de urticária, furunculose, dermatoses, litíase renal e urinária, perturbações da menstruação e da menopausa, reumatismo, arteriosclerose, gota.

O clister é muito importante, até indispensável, para preparar o organismo para uma retroscopia ou para uma ecografia da vesícula e do canal colédoco; é muito recomendado antes das cirurgias.


Emprego para as pessoas saudáveis



A esta questão tantas vezes levantada, há que responder que uma limpeza profunda do intestino, uma vez por mês, constitui um método preventivo excelente contra um grande número de doenças. A maior parte das vezes, apesar da evacuação quotidiana das fezes, o clister provoca expulsão de um volume importante de matérias. Estas, bloqueadas nos intestinos, teriam provocado um processo de fermentação e de decomposição e uma auto-intoxicação crónica perigosa para a saúde do organismo.


Na clínica dermatológica da Universidade de Viena, Urbach estudou muito particularmente a seguinte questão: será possível, por intermédio da água do clister, fazer absorver ao organismo uma quantidade suficiente de produtos medicamentosos? Ele juntou a 15 l de água de clister 20 cm3 de uma solução a 50% de iodo e de sódio; verificou muitas vezes que o iodo aparecia já na saliva 15 minutos depois do clister. Ao fim de meia-hora, a reacção tornava-se mais forte e ficava ainda positiva durante 5 a 6 horas. O iodo só se revelava mais tarde na urina, 45 minutos depois do clister, e este efeito persistia durante 6 a 7 horas. As experiências feitas com outras substâncias dão resultados análogos.



Eis o trajecto seguido no intestino pelo líquido, a que eventualmente se adicionaram produtos medicamentosos; as veias das paredes do intestino grosso, a veia porta, o fígado, o lado direito do coração, os pulmões, o lado esquerdo do coração; depois, pela circulação arterial, os rins e o conjunto de órgãos e tecidos. Os rins eliminam então não apenas o volume excedente de líquido, mas também as substâncias tóxicas não evacuadas pelos órgãos e tecidos ou segredados por eles.


A questão da pressão da água (que pode danificar as paredes dos intestinos) foi, desde à muito tempo, resolvida em favor do clister. O professor Anton Brosch, que foi inventor do clister dentro de água, pôde provar que a pressão de 0,1, atmosferas, obtida graças ao aparelho, era muito fraca, comparada à que é exercida nos pulmões. Na verdade, esta pressão do líquido diminui muito ao passar no recto ao cego, em consequência de atrito. De qualquer modo, a pressão inicial não envolve, em caso algum, o risco de danificar as paredes do intestino.


Para o clister utiliza-se água à temperatura de 37 a 42º, a que se adiciona (se o médico não tiver passado uma receita especial) 180 gramas de sal marinho ou de 1 litro de infusão de camomila (Matricaria chamomilla – 25 a 30 gramas). A quantidade de líquido deve ser de 25 a 30 litros, mas deve ser reduzida a 10 ou 20 litros para os doentes demasiado sensíveis.


Há quem diga que os clisteres repetidos podem enfraquecer o intestino ou irritar as suas mucosas; na realidade, desde que este tratamento é empregado (por volta de 1910), nunca provocou, quando aplicado correctamente, lesão nem enfraquecimento algum do intestino; muito pelo contrário, tem-se podido verificar um reforço da sua musculatura, assim como da parede abdominal. Os clisteres com camomila não provocam nem irritação nem dano algum, enquanto que se conhecem bem os efeitos perniciosos de muito purgativos. Os clisteres são sempre feitos antes das refeições.


O professor D.Th. Gotttlieb Olpp escrev no final da sua excelente obra sobre o clister dentro de água: «Assim o clister dentro de água foi aperfeiçoado com grande escrúpulo científico pelo seu inventor, Anton Brosch; é um tratamento que, na prática quotidiana, como nas aplicações da medicina convencional, utiliza os efeitos físicos e termobiológicos da Hidroterapia. Pode verdadeiramente servir de exemplo para demonstrar que a medicina convencional» e a «medicina naturista» podem caminhar de mãos dadas.






Os banhos de mar


Para que as curas de banhos de mar sejam verdadeiramente benéficas, é preciso evitar anular os seus efeitos pelo álcool, pelo tabaco ou por uma alimentação demasiadamente pesada. As curas de banhos de mar são sempre ao mesmo tempo curas climáticas.

O clima marítimo caracteriza-se pela pureza do ar, por fortes rajadas de vento por fracas variações de temperatura. Como é estimulante, torna-se sempre necessário um período de adaptação. As pessoas idosas, sobretudo, só deverão portanto, começar com os banhos de mar depois de alguns dias de repouso.


O vento, as ondas e a água, assim como a luz, contribuem para elevar o nível de excitação dos centros nervosos e para favorecer o funcionamento da hipófise e das cápsulas supra-renais, o que corresponde ao efeito produzido por um tratamento normal com cortisona.

As correntes atmosféricas contínuas provocam reacções nos vasos e nos nervos subcutâneos; dai, resulta um fortalecimento geral e uma melhor adaptação às variações climáticas do meio.


Banho de mar frio


Segundo as observações feitas nas praias do Mar do Norte (na ilha de Sylt), a maior parte dos banhistas ficam entre 10 a 12 minutos na água fria do mar, 5% ficam lá menos de três minutos e 5% mais de meia-hora.


Durante estes banhos, a temperatura do corpo varia conforme os indivíduos. Se os banhistas fazem pouco ou nenhum exercício na água, verifica-se uma baixa de temperatura nos que tem apenas uma delgada camada de gordura, enquanto que não se verifica nenhuma mudança de temperatura nos que possuem uma camada de gordura normal. Nos que têm uma espessa camada de gordura, verifica-se que a temperatura se eleva (temperatura rectal).



Os exercícios praticados na água do mar, como a natação, e a observação dos seguintes pontos permitem evitar uma baixa de temperatura:


1) Nunca tomar um banho de mar frio mais do que uma vez por dia: a normalização das funções vegetativas necessita mais de 2 horas.


2) É preferível banhar-se de manhã, visto que é o momento em que os vasos estão menos dilatados; o perigo de resfriamento é portanto menor.


3) A princípio, o banho só deve durar 3 minutos; com a continuação, a sua duração variará entre 5 a 10 minutos.


4) A duração do banho pode ser aumentada de um minuto por dia, e até mais, se não se observar baixa de temperatura.


5) Os hipertensos ameaçados de acidentes circulatórios devem proceder progressivamente; nos primeiros dias, contentar-se-ão com banhos de ar; durante os três dias seguintes devem caminhar na água; nos próximos três dias aspergir-se-ão com água do mar; deverão tomar o primeiro banho frio no mar, só depois desta preparação.

Se, baixando-se, tiverem vertigens, é sinal de que o primeiro banho foi prematuro.


6) Nunca forçar as crianças a entrar na água.


Se a baixa de temperatura ultrapassa um grau e se manifesta um sentimento de apatia, quer dizer que o banho de mar durou tempo demasiado e que teve um efeito nocivo. Exercícios físicos praticados logo após o banho evitam a descida de temperatura.

O banho frio no mar é um excelente método de fortalecimento, frequentemente recomendado pelos médicos.


Banho quente de mar (água aquecida)


Durante a estação fria e em dias frescos de verão, o banho quente de mar é um complemento indispensável à cura climática. Como para os tratamentos de Kneipp, os banhos quentes (33 a 37º) ou muito quentes (37 a 42º) devem ser seguidos de chuveiro ou afusões frias.


Os efeitos quentes do mar são análogos aos dos banhos de água salgada (para uma salinidade média da água do mar de 3,5%, devemos já falar de água salgada). Os banhos quentes de mar, como os banhos de água salgada, estimulam o metabolismo geral e o metabolismo protidico (segundo Heubner).


Por outro lado, o ar marítimo e o sol juntam o seu efeito estimulante ao dos banhos.


Uma cura seguida sistematicamente provoca uma modificação das reacções do organismo e fortalece o seu mecanismo de defesa; segue-se um processo de regeneração e uma melhoria do funcionamento glandular. Quase sempre as perturbações neurovegetativas dos órgãos internos desaparecem igualmente e a circulação estabiliza-se.


Os banhos quentes do mar podem ser também muito salutares para as crianças. Estimulam as funções de assimilação e o apetite das crianças subdesenvolvidas ou subalimentadas, o que lhes permite, portanto, geralmente um aumento de peso. Simultaneamente, estes banhos ajudam-nas a tornarem-se resistentes ao frio e às infecções.


Os banhos de mar, o clima marítimo e as compressas de água do mar actuam de uma maneira muito eficaz sobre o eczema.


Os banhos de mar têm importância nas curas marítimas, mas não têm, no entanto, o papel principal. Os efeitos benéficos vêm em primeiro lugar do clima: qualidade do ar, acção vivificante do vento, igualdade das temperaturas, grau higrométrico relativamente elevado do ar, intensidade da radiação do calor, da luz e dos raios ultravioletas.


Em contrapartida, os banhos de mar são formalmente desaconselhados aos asmáticos, nos quais poderão até desencadear uma crise.


Banhos de mar muito quentes


Os banhos de mar muito quentes não devem durar mais do que 5 a 15 minutos, pois impõem um esforço à circulação. A temperatura elevada e a salinidade da água provocam reacções vasculares que atingem o cérebro e conduzem e uma irrigação intensa da pele, dos tecidos subjacentes e dos músculos. A tonicidade muscular é modificada no sentido de um relaxamento e verifica-se uma melhoria no funcionamento da hipófise e das cápsulas supra-renais.

Graças a estas propriedades, os banhos de mar muito quentes são recomendados em casos de afecções reumáticas, de ciática e de nevralgia.


Uma cura de banhos quentes ou muito quentes compreende 12 a 15 banhos que se devem tomar em média 2 ou 3 vezes por semana. Depois de cada um destes banhos, é preciso descansar uma hora numa sala de repouso.












A cura de água do mar como bebida


No decorrer destes últimos anos, as curas de água do mar sob a forma de bebida tiveram na Europa um acolhimento cada vez maior, sinal que os homens procuram os remédios naturais para compensar os malefícios do modo de vida e de alimentação modernos.


Como poderá a água do mar satisfazer esta necessidade? Como explicar, de acordo com os dados actuais da ciência, o seu efeito curativo e regenerador e em que casos se poderá exercer?


Antes de responder a estas perguntas, deve-se primeiramente reconhecer que é difícil determinar os efeitos devidos à água do mar, dado que entram simultaneamente em jogo outros factores do clima marítimo: luz, ar, sol e banhos do mar. Como disse o professor Vogt, para fazer um juízo sobre esta cura de bebida, é preciso, fazendo a abstracção de todos os outros factores, estudar minuciosamente o desenrolar dos seus efeitos sobre os homens e os animais.


Para mais, a água vulgar que bebemos todos os dias tem uma influência certa sobre o nosso organismo (glândulas, órgãos de excreção, composição mineral dos sectores líquidos do corpo, regulações neuro-humorais), o que torna muito difícil a apreciação dos efeitos específicos da água do mar. Por isso é indispensável estudar previamente a composição desta água.


Composição química da água do mar


A água do mar constitui uma fonte natural de minerais e de vestígios de elementos de interesse vital. Antigamente, a maior parte do sal utilizado para a alimentação provinha do mar. Hoje, consome-se quase exclusivamente sal extraído das minas; completamente purificado, este contém só uma substância mineral: o cloreto de sódio.

Ora a água do mar, como o sal marinho, contém, além do sal vulgar como elemento principal, mais de trinta substâncias minerais ou vestígios de elementos, dos quais a maior parte exerce uma influência muito grande sobre as nossas funções de assimilação. São estas as substâncias que foram detectadas até hoje: Boro, bromo, cloro, potássio, cálcio, carbono, magnésio, sódio, enxofre e estrôncio. Nos vestígios de elementos, encontramos: alumínio, arsénico, bário, césio, ferro, flúor, ouro, cobalto, iodo, cobre, lítio, manganés, molibdénio, níquel, fósforo (fosfato), mercúrio, rádio, rubídio, selénio, Silício, prata, azoto (nitrato e amoníaco), tório, urânio, vanádio e zinco.

O conjunto da concentração dos minerais eleva-se em geral a 3,5%: quer dizer que, se fizermos evaporar um litro de água, obtemos 35 g de sal.

A produção dos minerais contidos na água do mar á análoga à do soro humano. Não é errado dizer que a água do mar é «um extracto da terra», visto que comporta um conjunto quase completo de todos os elementos que compõem a nossa terra.

Comparação, em percentagem, entre os principais elementos da água do mar e os que constituem o sangue humano:




Água do mar do Norte

Soro sanguíneo

Sódio

73,0

91,5

Potássio

1,6

3,5

Cálcio

3,4

3,5

Magnésio

22,0

1,5

Cloro

91,3

77,8

Sulfato

8,6

0,4

Bicarbonato

0,17

20,2

Fosfato

0,01

1,5


Segundo este quadro, observa-se uma certa analogia entre os componentes da água do mar e os do soro sanguíneo, mas há uma tal diferença nas proporções, sobretudo no magnésio e no bicarbonato, que não se pode falar de uma semelhança de composição.


Efeitos da água do mar


Do ponto de vista químico, a água do mar é essencialmente composta, como a água salgada com sal vulgar e o «soluto fisiológico», de diferentes sais, dos quais o principal é o cloreto de sódio.


O teor em cloreto de sódio ultrapassa o de todos os outros elementos que entram na composição da água do mar. No entanto, os efeitos da água do mar provêm sobretudo de combinações químicas muito complexas, que tornam estes elementos muito diferentes do simples sal vulgar.


Assim, Loeb pôde demonstrar, depois das suas experiências, que um peixe podia viver algum tempo numa água destilada praticamente desprovida de sal; mas acrescentando à água do recipiente sal vulgar numa concentração idêntica à da água do mar, observam-se em breve no peixe sintomas de envenenamento, que desaparecem desde que se acrescentem outros elementos que faltam (cálcio, potássio, magnésio).

Enquanto que o sal vulgar, por si só, constitui um veneno, torna-se um elemento vital quando misturado com os outros sais.

O teor da água do mar em vestígios de elementos é absolutamente diferente da do soro sanguíneo. É indicado no quadro seguinte:


Concentração dos elementos que aparecem sob a forma de vestígios de água do mar, calculada em gama por litro (segundo Wattenberg)



Flúor


1400


Ferro


2


Alumínio


600


Urânio


2


Rubídio


200


Tório


1


Lítio


110


Nitrato


1 – 600


Bário


50


Fósforo


1 – 60


Iodo


50


Rádio

- 7

1 x 10


Arsénico


15


Nitrito


0,5 – 50


Silício


10 – 1500


Molibdénio


0,5


Amoníaco


5 – 50


Vanádio


0,3


Cobre


5


Prata


0,3


Manganês


5


Níquel


0,1


Zinco


5


Mercúrio


0,03


Selénio


4


Ouro


0,004


Célsio


2




Sabemos ainda pouca coisa sobre o valor destes vestígios de elementos para os seres que vivem no mar; também não podemos assegurar que, nesta quantidade infinitesimal, um grande número destas substâncias exerça um efeito considerável sobre o organismo humano. Mas, entre elas, a grande proporção de flúor pode ser utilizada em terapêutica, assim como o magnésio, principal elemento constituinte da água do mar.

O cloreto de sódio actua directamente pela água do mar sobre as mucosas da boca, da laringe e do canal colédoco; em contrapartida, os outros componentes da água do mar têm uma acção eficaz depois da sua passagem ao sangue. A água do mar constitui uma concentração (aproximadamente 3,5%) que pode ser absorvida pelo organismo humano sem ter sido previamente diluída. Uma concentração elevada provocaria náuseas e vómitos.

Logo que é absorvida, a água do mar actua sobre as mucosas do estômago. Geralmente, do mesmo modo que o sal vulgar, estimula a secreção do suco e da acidez gástrica.

Alguns especialistas (Carles, Barrère) verificaram também uma diminuição da hipercloridria gástrica; esta hiperacidez devia provir de inflamação das mucosas estomacais; a água do mar, apesar do seu efeito estimulante, terá conseguido curá-la.

A água do mar conserva-se mais tempo no estômago do que a água normal e depois chega sob a forma de concentração hipertónica aos intestinos, onde provoca contracções mais fortes e mais rápidas. Graças a estes movimentos progressivos quando da absorção do sal pelas mucosas, a água do mar atinge a extremidade dos intestinos, o que pode desencadear um efeito de evacuação. Loth verificou que no decurso de uma cura de bebida se obtém um efeito laxativo pela absorção de uma quantidade de água do mar correspondente pelo menos de 10 g de sal vulgar (seja 300 cm3 de água do mar).

Um volume menor de água do mar não tem efeito purgativo, mas contribui, no entanto, para desembaraçar a parte superior dos intestinos de resíduos e bactérias; a absorção da solução salina pelas mucosas intestinais é deste modo facilitada.

Foi também provado incontestavelmente que a água do mar aumenta a secreção da bílis, melhora a função secretora das células do fígado e a faculdade de evacuação da vesícula biliar. Atribui-se este efeito ao cloreto de sódio e ao sal de magnésio.


Em 1753, Russel recomendava já a água do mar para casos de icterícia e cirrose atrófica. Gisevius utilizou-a com êxito para os distúrbios crónicos da vesícula biliar, Clark para todas as afecções biliares e Schlegel para as afecções da veia porta.


Pela utilização da água do mar à temperatura do corpo para lavagens do duodeno, Grafe não obteve nenhum aumento da secreção da bílis, mas ele calculava que a água do mar podia exercer um efeito salutar em casos de afecções hepáticas e biliares, enquanto que com água da nascente de Kissingen e de Mergentheim não tinha obtido resultado algum.


O efeito da água do mar sobre a circulação foi reconhecido como de muito interesse e muito importante na prática. Em casos de hipertensão arterial, alguns cientistas puderam observar uma diminuição da frequência das pulsações, acompanhada de um aumento do rendimento intelectual. Este resultado é tanto mais surpreendente quanto em geral, para a hipertensão, se prescreve um regime sem sal. Esta baixa de tensão é devido à presença na água do mar de antídotos do sódio (cálcio, potássio, magnésio), que o neutralizam.

Pelo estudo deste resultado, Keeser descobriu que o magnésio actua sobre a arteriosclerose. Com efeito, o magnésio aumenta o poder que possui o soro sanguíneo de dissolver o colesterol. O reforço desta propriedade evita os acessos precoces de arteriosclerose. É por isso que a cura da bebida com a duração de 5 semanas (suficiente para provocar um aumento do teor de magnésio no sangue) constitui uma excelente medida preventiva contra a arteriosclerose.

Segundo algumas observações médicas, os espasmos vasculares são atenuados ingerindo água do mar.


Conforme a importância do efeito de evacuação, devemos esperar também uma influência sobre a utilização da água no organismo.

Quando este efeito foi obtido por uma concentração de água do mar ou uma solução hipertónica, observa-se uma eliminação de água no organismo. Como já dissemos a propósito da influência exercida nos intestinos, é preciso beber um volume de água correspondente a 10 g de sal marinho (aproximadamente 300 cm3 de água do mar não diluída) para obter um fenómeno de evacuação. Se este volume for menor, o sal será em grande parte absorvido pelos intestinos.


A acção da água do mar é igualmente importante para os rins e vias urinárias. A eliminação da água parece ser intensificada graças à acção dos antídotos do sódio que, por si só, daria um resultado contrário. As substâncias contidas na urina, particularmente o ácido úrico, passam a ser mais amplamente eliminadas. Mas este efeito depende de uma dosagem bastante elevada, ainda não definida com rigor para todos os casos individuais.


Em cada 100% de água do mar, 35% é cloreto de sócio.























Aplicações e propriedades das terras medicinais – histórico


Resumo histórico dos tratamentos pela terra


A utilização da terra como tratamento médico é tão antiga como hidroterapia, os tratamentos pela luz e pelo ar. Não é portanto inútil dar um resumo retrospectivo. A terra, provavelmente utilizada desde que o Homem existe, constitui sem dúvida o primeiro dos remédios.


Os árabes enterravam os reumáticos na areia branca e tratavam a malária com argila húmida. Na antiga China, a ingestão de terra por via oral era uso corrente, sobretudo para combater a prisão de ventre, e as compressas de terra argilosa eram utilizadas para curar as inflamações. Os assírios, os babilónios e os egípcios aplicavam cataplasmas de lama negra para tratar certas afecções. Recorria-se a tratamentos análogos nas Índias, em salas especiais construídas para o efeito. Entre os Citas, nas margens do Mar Negro, o emprego terapêutico da lama era muito difundido. A antiga medicina dos Índios da Bolívia prescrevia comer pequenas estatuetas de santos feitos de argila.


Na época de Homero, empregava-se uma terra argilosa que provinha de uma colina da ilha de Lemnos. Esta colina, chamada Mosychlos, era de origem vulcânica. Na época de Hipócrates (460-377), utilizavam-se diversas variedades de terra, quer na aplicação de compressas refrescantes, quer ingerindo-as dissolvidas na água. Não se encontra, no entanto, nas suas obras, nenhuma alusão à terra de Lemnos.


No princípio da nossa era, Plínio, o velho, resumiu na sua “História natural” tudo o que então se sabia acerca das terras curativas, consideradas como um remédio maravilhoso contra a lacrimação, a conjuntivite, as hemorragias, as afecções do baço e dos rins, a menstruação demasiado abundante, os envenenamentos e as picadas de serpentes. Menciona, para uso externo, as terras de Sinope e de Erétria contra as chagas e tumores.


O médico e físico Dióscorides, na época de Nero (século I), descreveu o emprego das terras curativas no 5º volume de “De Matéria Médica”. A terra de Lemnos é ai mencionada como particularmente eficaz contra as mordeduras e picadas de animais, como vomitivo em caso de envenenamento mortal e como remédio contra a disenteria. Mas foi Galiano, o médico e físico mais eminente da Antiguidade, que vulgarizou o emprego das terras curativas. Fez um inventário exacto de todas elas, explicando a sua função médica e descrevendo os seus efeitos; insistia especialmente nas terras de Lemnos, de Samos e da Arménia.


Tal como a hidroterapia, o conhecimento do poder curativo da terra caiu no esquecimento durante a Idade Média. Enquanto as terras curativas continuavam a ser utilizadas no Império Romano do oriente, no resto da Europa passaram a ter apenas um papel insignificante. Mas, para o fim da Idade Média, retomaram uma grande importância na luta contra a peste. A terra de Lemnos era então a mais apreciada e a mais rara: valia o seu peso em ouro. Quando os turcos ocuparam a ilha de Lemnos, exploraram para seu proveito os jazigos de terras curativas.


Os tratamentos pela argila e outras terras curativas encontraram na pessoa de Sebastião Kneipp um promotor entusiasta. Começou a aplicá-los paralelamente à hidroterapia, em primeiro lugar em animais e em seguida no homem. Utilizava a argila não só em pó seco diluído numa solução de vinagre e água, mas também em aplicações de água argilosa e de “camisas de argila”. Kneipp tratava com compressas ou envoltórios deste tipo as inflamações de todas as espécies (dores de garganta, pleurisias), as feridas recentes ou antigas, as picadas de insectos, as úlceras das pernas, as erupções cutâneas e as adenopatias. Tratava a congestão cerebral e as palpitações com envoltórios de argila nas pernas e compressas de água argilosa na região do coração.


Modo de utilização e índices de cura – o banho de argila


É um dos inúmeros métodos empregados por Felke, a quem se atribui erradamente a sua invenção. A ideia de se submergir numa água argilosa vem do seu fiel discípulo J. C. van Masken, que, no decorrer do Verão de 1912, tomou dois dias seguidos banhos de argila de várias horas sob vigilância de Felke. O banho de argila foi depois preferido aos tradicionais banhos de lama; Felke fixou numa hora a duração desse banho, que nos nossos dias é ainda utilizado da mesma maneira. A sua aplicação é restrita por causa da complicada preparação que requer.


Para preparar um banho de argila, é necessário escavar ao ar livre, num local bem aquecido pelo sol, uma fossa em forma de banheira, de 40 a 60 cm de profundidade, 130 a 170 cm de comprimento e 65 cm de largura. Para um aproveitamento máximo do sol, deve ser colocada em direcção norte-sul (cabeça para Norte, pés para sul). Pode também utilizar a banheira em casa.

Enche-se a fossa ou a banheira de argila fresca até 10 cm do bordo e em seguida dilui-se essa argila com água ligeiramente tépida para obter uma pasta adesiva. As costas inclinadas da banheira são prolongadas para cima com uma tábua para permitir ao paciente instalar-se confortavelmente. O nível do banho deve chegar até ao umbigo ou por baixo das costelas. Em tempo quente, a duração de um banho é em geral de meia hora e, em tempo fresco, de um quarto de hora.

O mesmo banho pode ser utilizado pelo mesmo paciente durante quatro a seis semanas, com a condição de remexer cada vez a argila e de lhe juntar água fresca, mantendo cuidadosamente o contacto com a terra subjacente. Para um novo doente, tira-se a argila e renova-se a preparação.


O paciente senta-se no banho e mexe logo as pernas até que a pasta adira regularmente em todas as partes e cubra inteiramente a barriga e os membros. A duração do banho estabelece-se em função da idade, da sensibilidade, do maior ou menor grau de habituação à água e ao ar, etc. pode assim variar de dez a sessenta minutos. A temperatura exterior e a da terra têm a sua importância.

No caso de grande sensibilidade e com tempo fresco, recomenda-se remexer primeiramente a pasta com água quente, mas o banho deve ser em principio ser tomado frio.

Naturalmente a parte do corpo exposta ao ar deve ser, com tempo frio, protegida por uma toalha de banho ou um cobertor e, com tempo quente, por um chapéu ou uma camada de argila para evitar insolações (caso seja feito na rua).

Depois do banho, o paciente desembaraça-se ele mesmo da argila com as mãos ou com uma espátula de madeira. Em tempo seco, o que sobra da argila pode secar sobre a pele mas deve ser retirado em seguida com fricções vigorosas que fazem de massagem. O banho é seguido de uma limpeza a fundo debaixo do chuveiro e a secagem final efectua-se com nova massagem. O tratamento inclui uma fricção do corpo com vinagre, seguido de uma aplicação de óleo de limpeza, que serve para compensar a grande perda de gordura das camadas superiores da epiderme pelo contacto com a argila.


É importante fazer exercício (ginástica ou caminhada suaves) para obter uma agradável sensação de calor. Será então conveniente repousar, se possível ao ar livre e bem coberto, o que se traduzirá por calma e ar puro.


Qual é o efeito do banho de argila? A condutibilidade calorífica da argila é elevada; trata-se de um mau isolador que tira ao corpo uma parte do seu calor. Mas, com efeito, esse desperdício não é grande. Alguns minutos depois do banho, a sensação de frio desaparece. Uma camada de 1,5 cm colocada sobre o corpo absorve uma certa quantidade de calor e depois transforma-se logo numa espécie de cobertura quente (29º) que impede qualquer outra perda de calor.


A influência da forte pressão da argila no corpo é muito importante. Se a banheira tiver uma profundidade de 30 cm, a superfície do corpo coberta de argila molhada é de 1 m2. A pressão é de 570 kg por m2, número muito elevado, o que não deixa de provocar um efeito considerável de balneoterapia. Desde o começo do banho, o volume sanguíneo modifica-se, o hematócrito passa de 39,5 a 45%, a hemoglobina e os glóbulos vermelhos aumentam, a quantidade de açúcar no sangue diminui.

O primeiro fenómeno explica-se pelo refluxo de uma quantidade de sangue das extremidades e de certos órgãos onde está em depósito (baço, etc.) para a parte superior do tronco. O abaixamento do teor em açúcar provém do grande consumo de calorias devido ao frio do banho. Esta perda de calorias é compensada pela produção de energia calorífica por oxidação e combustão. O teor em açúcar do sangue contido nos vasos periféricos baixa momentaneamente. A fome bem pronunciada, sentida pelo paciente depois do banho de argila, testemunha estas reacções.


Os banhos de argila são indicados nas primeiras fases da diabetes, mas, para doentes sujeitos a hipoglicémia, convém ter o cuidado de lhe dar uma alimentação rica em glícidos. As reacções do córtex supra-renal são assim favorecidas. Estão em curso outros estudos para precisar a influência do banho de argila sobre a assimilação. A importante transferência de sangue para a parte superior do corpo durante o banho de argila produz um aumento de pressão do circuito venoso. No caso de se verificar um refluxo para os pulmões, é necessário um tratamento médico antes de retornar os banhos.


O banho frio de argila faz subir o pulso a 110 durante os quatro primeiros minutos, depois este retorna ao ritmo inicial de dez minutos. Trinta minutos mais tarde verifica-se uma acalmia seguida de uma ligeira aceleração após a massagem; depois é o definitivo retorno à normalidade.


O Dr. H. Dhonau verificou uma diminuição constante da capacidade torácica, indo até 33%, que ele explica pelo facto de que o afluxo de sangue aos pulmões diminuir progressivamente o volume destes durante o banho. Entra portanto menos ar, o que provoca uma regressão do teor em oxigénio no sangue. Pode igualmente produzir-se um aumento passageiro da tensão na artéria pulmonar. A duração destas diversas perturbações não foram ainda determinadas com precisão. Recomenda-se, portanto, prudência em caso de perturbações circulatórias que afectem a perfusão arterial pulmonar (afecções do coração direito, enfisema), assim como nos casos de pneumonia e de tumor pulmonar. É evidente que a pressão sanguínea deve ser atentamente vigiada durante o banho de argila. Os estudos empreendidos pelo Dr. Schlau deram os seguintes resultados:


- A tensão normal não é influenciada, ou apresenta apenas variações insignificantes.

- No caso de hipertensão, observa-se um ligeiro aumento da tensão no começo do banho.

- No caso de hipertensão de origem renal, não existe nenhum risco sério de aumento da tensão.


A hipertensão não constitui, portanto, uma contra-indicação para os banhos de argila. No entanto, o doutor Gottman não aconselha estes banhos de argila se a hipertensão for devida a arteriosclerose dos vasos do rim (hipertensão com nefroangiosclerose).

Segundo experiências realizadas por discípulos de Felke, a tensão instável dos hipertensos é em geral equilibrada pela “Cura Felke” integral. Esta inclui uma alimentação adequada, tratamentos em que intervêm a água, o ar e a luz, como conselhos de ordem psíquica.

O grande poder absorvente da argila actua também sobre a epiderme no momento em que a pasta seca ao ar e sob o efeito do calor da pele. O líquido dos inchaços hidrópicos e dos tecidos inflamados da derme têm tendência a sair para epiderme, cujas funções de eliminação são estimuladas. As secreções malcheirosas da pele, as inflamações, os eczemas, as feridas infectadas e as úlceras da perna podem por este facto ser atenuadas e até curadas com um tratamento sistemático com banhos de argila. Estes banhos são igualmente de uma grande importância para o sistema capilar. Ora, para um grande número de pessoas, o exame microscópico permite descobrir evoluções anormais no sistema capilar dos lábios e das unhas.

Os banhos e as compressas de argila têm um efeito curativo apreciável neste género de afecções.

Os banhos de argila são indicados nos seguintes casos: intestino descaído, afecções cutâneas e cardiovasculares, perturbações hormonais, esgotamento nervoso, neurastenia, afecções renais (excepto formas agudas), perturbações do metabolismo, afecções dos órgãos pélvicos, queimaduras, prisão de ventre. Favorecem também a convalescença depois de doenças graves ou de cirurgias.
















Utilização de pasta de argila

(compressas e banhos parciais)


São constantes as aplicações da pasta de argila, pois podem fazer-se em casa com preparações que se encontram no comércio.

São em geral argilas limpas e frescas recolhidas pelo menos a 50 cm da superfície do solo, ou terras curativas de diversas origens à venda nas farmácias e casas de dietética.


Para as compressas, diluir a argila com água avinagrada ou numa infusão de ervas. Espalhar a pasta sobre sob a pele com uma espessura de 1 ou 2 cm. Sobre os abcessos, os furúnculos e as erupções, podem aplicar-se terras não esterilizadas. Mas para as feridas vivas, ferver antes da aplicação da pasta líquida e depois cobrir esta compressa com tecido de algodão ou de lã (nunca utilizar plástico). Tirar a compressa logo que esteja seca (depois de uma ou duas horas) e renová-la caso seja necessário. Terminado o tratamento, lavar a pele com água quente, depois fazer uma fricção com óleo.


A compressa de argila deve ser aplicada fria: aquecerá com o contacto da pele, o que fará desaparecer a sensação desagradável inicial. No caso de não se dar este aquecimento, provocá-lo então com sacos de água quente ou uma almofada eléctrica. Quando a circulação sanguínea seja insuficiente, será conveniente renunciar à utilização de compressas frias. Se se sentir um aquecimento agradável, é porque o tratamento é normal e benéfico. Não esquecer que a argila deve ser utilizada apenas uma vez.

Os envoltórios com argila podem ser aplicados localmente ou sobre todo o corpo.


Indicações: feridas infectadas, úlceras da perna, furúnculos; artrite, estase venosa, flebites, picadas de insectos, acne, cuidados consecutivos a fracturas, entorses, contusões, escoriações, derrames sanguíneos. Em virtude do seu peso, as compressas de argila devem evitar-se quando existam tromboses ou haja perigo de embolia.


As compressas com água argilosa estão indicadas em certos casos. Mergulhar um pano numa solução de argila muito diluída, depois torcê-lo ligeiramente e aplicá-lo sobre a parte do corpo a tratar; cobri-lo em seguida com um pano de flanela para obter o aquecimento. Estas compressas são preferíveis ao simples envoltório com água, pois a pasta fica durante bastante tempo húmida e produz um efeito mais intenso e mais duradouro.






A marcha na argila


O processo é análogo ao da marcha na água preconizada por Kneipp. Empregar para isso uma fossa semelhante à do banho de argila ou usar uma bacia grande, mas menos profunda. Enchê-la com uma diluição argilosa moderadamente espessa, de modo que chegue até à metade da barriga das pernas do paciente, o qual marcha durante 5 a 10 minutos.

Este exercício bastante cansativo é uma excelente ginástica em casos de deformações nos pés, de perturbações da circulação venosa e de varizes. É contra-indicado em casos de tromboses e de perturbações da circulação arterial que exigem uma vigilância médica rigorosa.

Todo o tratamento frio pode com efeito bloquear a circulação periférica e provocar o aparecimento de necroses em vez de produzir uma reacção benéfica pela aceleração da circulação. O mesmo se passa nos casos de arteriosclerose e de diabetes, pois que o estreitamento (devido ao frio) dos vasos que continuam activos abranda a circulação do sangue em vez de activar como seria necessário.


Aplicação de argila seca


A argila seca em pó fino pode ser espalhada sobre as feridas infectadas, úlceras da perna, erupções cutâneas ressumantes, inflamações das mucosas, das gengivas e das amígdalas. Absorve as secreções da pele e feridas. Desodoriza e acalma o prurido. É preciso renovar o pó desde que humedeça e comece a secar. Facilita-se esta operação colocando um pedaço de gaze sobre a parte do corpo a tratar, antes de espalhar o pó.


Utilização de argila para uso interno


As terras curativas possuem um potente poder de absorção para um grande número de substâncias, em particular as bactérias e as suas toxinas. Certos elementos contidos nestas terras, nomeadamente o ácido salícico, são dissolvidos pelo suco gástrico do estômago. O cálcio, o magnésio, o ferro, o cobre, o manganés e o alumínio apresentam-se sob a forma de iões livres e são absorvidos em quantidades importantes no corpo. A presença do suco gástrico é indispensável a esta absorção.

Vogel estudou a influência das terras curativas sobre o suco gástrico.

Verificou que absorvem o excedente e compensam a insuficiência do ácido clorídrico.

As partículas da terra curativa, que arrastam à passagem as bactérias e as toxinas da cavidade bucal, ficam desembaraçadas delas pelo ácido gástrico, de modo que se encontram novamente activas à sua passagem pelo intestino.

Os efeitos da terra curativa sobre os elementos nutritivos chegados ao intestino são muito variáveis. Assim, os glícidos (açúcares) não são retidos, enquanto que as gorduras são largamente absorvidas. A ingestão de grandes quantidades de terra curativa pode por este facto provocar emagrecimento, e esta propriedade foi explorada em diversos países (Espanha, China, Índia, etc.).

Ignora-se ainda qual a acção da terra curativa sobre a albumina. Sabe-se que o carvão absorve principalmente a amina e o que o quartzo assimila apenas uma pequena quantidade de alanina. É praticamente tudo o que se sabe.

Foram empreendidos estudos para determinar a influência da terra curativa sobre a albumina em estado de putrefacção, tal como se encontra nas vias digestivas depois da ingestão de demasiada quantidade de albuminóides. Vogel verificou que os resíduos de albumina são absorvidos pelas terras curativas e perdem por este facto o seu cheio nauseabundo. Pode-se portanto evitar a intoxicação de origem intestinal com todas as suas complicações perniciosas com um tratamento natural dos mais simples. As terras curativas eliminam bastante outros produtos tóxicos contidos nas vias digestivas. Não se sabe se o seu efeito se estende à cafeína e À nicotina, nem tão pouco às vitaminas e aos seus fermentos. Os estudos efectuados sobre este assunto ainda não chegaram ao fim.

Supõe-se que as terras curativas absorvem determinadas vitaminas no tubo digestivo, mas sabe-se que a vitamina C não é praticamente tocada; pode-se presumir que aconteça o mesmo com todas as vitaminas solúveis na água. No que diz respeito às que são solúveis na gordura, o problema contínua em aberto.

Não há até agora nenhuma prova de acção desfavorável das terras curativas sobre os fermentos intestinais. Deve-se, no entanto, evitar a sua administração por via oral durante períodos demasiado prolongados (várias semanas), sobretudo a indivíduos cuja nutrição habitual seja pobre em gorduras; poder-se-ia assim correr o risco de provocar o desaparecimento de vitaminas lipossolúveis indispensáveis ao organismo.

O efeito das terras curativas sobre as bactérias do intestino é bem conhecido graças às pesquisas de Baumgartel. Observou ele que todas as bactérias intestinais, prejudiciais ou não, são absorvidas pelas terras curativas. Mas atribui a acção favorável destas terras ao facto de elas absorverem as toxinas produzidas pelas bactérias prejudiciais do intestino.

Conclui-se das pesquisas efectuadas sobre os antibióticos que a terra curativa contém um grande número de bolores utilizados no fabrico de medicamentos modernos célebres (aureomicina, estreptomicina, terramicina, cloromicetina). O professor Yung é de opinião que a acção positiva das terras curativas no intestino se deve frequentemente ao facto de os microrganismos do solo se desenvolverem facilmente no clima quente e húmido que aí encontram. Este capítulo da bacteriologia está ainda apenas esboçado.

O emprego das terras curativas para uso interno é muito simples: dissolver de manhã e à noite uma colher de café de argila em ½ copo de água e beber antes de cada uma das refeições. Contra as afecções agudas do estômago e do intestino, duplicar ou triplicar as quantidades três vezes por dia. Observaram-se curas nos seguintes casos: gastrite e colite, hiper ou hipoacidez gástrica, úlceras do estômago e do duodeno, dispepsia, vómitos, diarreias, prisão de ventre crónica, afecções cutâneas, envenenamentos, oxiúros, perturbações do metabolismo.

Indicações das pulverizações da terra curativa: afecções da cavidade bucal, do nariz e da vagina (estomatite, amigdalite, gengivite, inflamação e ulcerações das fossas nasais, vaginite e leucorreias).

Não há contra-indicações, excepto no caso de se ter seguido, durante um certo tempo, um regime de emagrecimento.

































Resumo das formas de aplicação das terras curativas segundo as doenças


Adenopatias (compressas, envoltórios).


Afecções cutâneas, inflamações (Banhos de argila, compressas).


Eczema agudo ou crónico (argila diluída, envoltórios).


Afecções gerais relacionadas com os órgãos digestivos - alergias, furunculose, febre dos fenos, enxaquecas, urticária crónica (argila diluída).


Afecções dos órgãos pélvicos, formas não inflamatórias (banhos de argila).


Afecções dos pés (marcha na argila, compressas).


Amigdalite (pulverização, envoltórios do pescoço, gargarejos de argila diluída).


Antraz (compressas, argila diluída).


Artrite (compressas).


Artrites inflamatórias (compressas).


Astenia neuropsíquica (banhos de argila).


Auto-intoxicação (argila diluída).


Colite (argila diluída).


Contusões (envoltórios, compressas).


Derrames sanguíneos – hematomas (envoltórios).


Diarreia (argila diluída).


Difteria (gargarejos de argila diluída, compressas).


Dispepsia (argila diluída).


Doenças cardiovasculares - todas as formas (banhos de argila).


Enterite (argila diluída).


Envenenamentos (lavagem do estômago, envoltórios, argila diluída).


Estase sanguínea (argila diluída, compressas).


Estomatite (gargarejos de argila diluída, pó de argila para uso interno).


Feridas, entorses, feridas infectadas (compressas, envoltórios).


Flatulências (argila diluída).


Flebite (banhos, envoltórios, compressas, argila diluída).


Fleimões (compressas).


Furunculose (argila diluída, compressas).


Gastrite (argila diluída).


Gengivite ulcerosa (gargarejos de argila diluída).


Gota (compressas).


Hemorróidas (argila diluída, compressas com envoltório em T).


Hidrosadenite – inflamação das glândulas sudoríparas (compressas).


Hipercloridria (argila diluída).


Insónia (compressas sobre a nuca).


Intestinos descaídos (banhos de argila).


Intoxicação intestinal (argila diluída).


Leucorreia (pulverizações, irrigações vaginais com água argilosa).


Linfangites (envoltórios do pescoço, gargarejos, compressas).


Mau hálito (gargarejos de argila diluída, pó de argila para uso interno).


Neurastenia (banhos de argila).


Oxiúros (argila diluída, algodão polvilhado no ânus).


Parodontose (gargarejos de argila diluída, pó de argila para uso interno).


Perturbações hormonais – excepto doença de basedow (banhos de argila).

Perturbações do metabolismo – nervos, insónia, reumatismo, afecções hepáticas e biliares, diabetes (argila diluída, banhos de argila).


Perturbações da tiróide (compressas).


Picadas de insectos (compressas).


Pleurisia (envoltórios do tronco).


Prisão de ventre (argila diluída, banhos de argila).


Queimaduras (compressas, envoltórios).


Reumatismo (banhos de argila, envoltórios).


Rinite (pulverizações).


Tenossinovite – inflamação de um tendão e bainha sinovial (envoltórios).


Úlcera duodenal (argila diluída).


Ulcera do estômago (argila diluída).


Ulcera intestinal (argila diluída).


Ulcera da perna (pulverização, envoltórios).


Varizes (envoltórios).


Vómitos (argila diluída).







































TÉCNICAS E QUADROS HIDROTERÁPICOS Dr. NOVAES



























Hidroterapia e higiene diária



A) Tratamentos diários – ao levantar – os primeiros sete dias.


1º Passagem com estimulação nos meridianos Yin e Yang (pernas, braços e costas – região interna e externa).

2º Pernas na água;

3º Semicúpio de manhã – ou meio banho;

4º Sauna – entre as 10h e as 11h00

5º Semicúpio à tarde – ou meio banho;

6º Toalha fria no abdómen;


1º Passagem com estimulação:


Ao acordar despe-se e passa o corpo todo desde os pés ao pescoço por água à temperatura natural, começando pelo pé esquerda, subindo pelo braço, até ao pescoço, caindo a água pelas costas e depois pelo braço até ao pé direito.

Embrulha-se numa toalha de banho e seca-se energeticamente, promovendo e activando a circulação periférica durante 10 minutos; veste uma camisola de algodão.


2º Pés na água


Num recipiente alto colocar água fria até aos joelhos, andar de um lado para o outro durante dois minutos. Ao fim deste tempo, sai e enxuga ao de leve os pés e calça umas meias turcas de algodão.


3º Semicúpio


A seguir ao tratamento número dois, senta-se dentro de uma alguidar de modo que depois de sentado a água lhe chegue acima do umbigo 3 dedos permanecendo por 5 a 10 minutos. Por vezes terá que se colocar mais água pois depende do volume de cada pessoa.


4º Sauna com cabeça de fora


Colocar no aparelho que faz o vapor chá de palha de aveia e cavalinha em dias alternados. Fazer a sauna durante 15 minutos e depois de sair fazer a passagem com estimulação. Enxaguar o corpo e vestir-se. Deve repousar na cama por 20 minutos. A sauna deve ser feita às 11h00.







5º Semicúpio à tarde


A seguir ao tratamento número dois, senta-se dentro de uma alguidar de modo que depois de sentado a água lhe chegue acima do umbigo 3 dedos permanecendo por 5 a 10 minutos. Por vezes terá que se colocar mais água pois depende do volume de cada pessoa. Poderá utilizar a água que usou de manhã.


6º Toalha fria no abdómen


À noite ao deitar, deverá molhar uma toalha de rosto com água gelada, espreme e dobra-a. Aplicar em cima do abdómen.


B) Tratamentos diários – ao levantar – Sete dias.


1º Passagem com estimulação;

2º Banho de braços;

3º Pés na água;

4º Semicúpio de manhã – ou meio banho;

5º Semicúpio à tarde – ou meio banho;

6º Pés na água.

7º Toalha fria no abdómen;


1º Passagem com estimulação:


Ao acordar despe-se e passa o corpo todo desde os pés ao pescoço por água à temperatura natural, começando pelo pé esquerda, subindo pelo braço, até ao pescoço, caindo a água pelas costas e depois pelo braço até ao pé direito.

Embrulha-se numa toalha de banho e seca-se energeticamente, promovendo e activando a circulação periférica durante 10 minutos; veste uma camisola de algodão.


2º Banho de braços:


Enche o lavatório ou uma bacia (alguidar) e coloca os braços em água fria, 1 a 2 minutos.


3º Pés na água


Num recipiente alto colocar água fria até aos joelhos, andar de um lado para o outro durante dois minutos. Ao fim deste tempo, sai e enxuga ao de leve os pés e calça umas meias turcas de algodão.







4º Semicúpio de manhã


A seguir ao tratamento número dois, senta-se dentro de uma alguidar de modo que depois de sentado a água lhe chegue acima do umbigo 3 dedos permanecendo por 5 a 10 minutos. Por vezes terá que se colocar mais água pois depende do volume de cada pessoa.


5º Semicúpio à tarde


A seguir ao tratamento número dois, senta-se dentro de uma alguidar de modo que depois de sentado a água lhe chegue acima do umbigo 3 dedos permanecendo por 5 a 10 minutos. Por vezes terá que se colocar mais água pois depende do volume de cada pessoa. Poderá utilizar a água que usou de manhã.


6º Pés na água


Num recipiente alto colocar água fria até aos joelhos, andar de um lado para o outro durante dois minutos. Ao fim deste tempo, sai e enxuga ao de leve os pés e calça umas meias turcas de algodão.


7º Toalha fria no abdómen


À noite ao deitar, deverá molhar uma toalha de rosto com água gelada, espreme e dobra-a. Aplicar em cima do abdómen.


C) Tratamentos diários – ao levantar – quinze dias.


Segunda, quarta e Sexta:


1º Passagem com estimulação;

2º Banho de braços;

3º Pés na água;

4º Semicúpio de manhã – ou meio banho;

5º Clister de camomila (ou usar bicarbonato de sódio diluído 1:1)

5º Semicúpio à tarde – ou meio banho;

6º Pés na água.

7º Toalha fria no abdómen;


Terça, Quinta e Sábado:


1º Passagem com estimulação;

2º Pernas na água;

3º Semicúpio de manhã – ou meio banho;

4º Sauna – às 11h00

5º Semicúpio à tarde – ou meio banho;

6º Toalha fria no abdómen;



Tratamento geral para fortalecimento


Todos os dias da semana:


Entre as 7h e as 8h00 – Passagem com estimulação nos meridianos Yin e Yang (pernas, braços e costas – região interna e externa) com água fria.


Entre as 10 e as 11h00 – sauna com chá de cavalinha ou palha de aveia; depois, passagem com estimulação nos meridianos Yin e Yang (pernas, braços e costas – região interna e externa) com água fria – fazer só no Inverno.


Andar na água – água até o joelho com água fria – 2 minutos.


Meio banho com água fria – 2 minutos.


BIO-DETOX pró (ionização com água nos pés – 45 minutos – 2 vezes por semana).





















































TÉCNICAS E QUADROS HIDROTERÁPICOS Dra. ODETE


























Equilíbrio térmico – fonte de vida e saúde!


Porque se desarmoniza e como se desarmoniza?


Pelo aumento de temperatura no abdómen, causada por:


- Má alimentação;

- Medicação química e vacinas;

- Hábitos sedentários;

- Meio ambiente;

- Ausência de contacto com o espírito – perda de identidade da Alma com o Ser e a Mãe Terra (principal fonte de fornecimento do equilíbrio).


Harmonizar pela Hidroterapia


O corpo humano possui 70 a 75% de água na sua composição.


Sistema de higiene com a água que activam pontos de energia e retornam o equilíbrio em paralelo com outros processos:


- A alimentação;

- Meditação, meditação andando;

- Observação do que está à nossa volta, retirando o ensinamento de cada situação:


- Primavera (floração – expansão, o despertar de todo o ambiente ao nosso redor).

- Outono (queda da folha – interiorização, a recolha e o silêncio da criação).


A Primavera e o Outono influenciam directamente no ser humano no seu equilíbrio térmico. Tudo isso alinha o ser humano com a terra e o cosmos.


O desequilíbrio


Como se instala? Como se manifesta?


Quando o desequilíbrio se instala de início, manifesta-se pelo chamado estado agudo. Apresenta febres, inchaços e inflamações, etc.

Quando o desequilíbrio está instalado temos o estado crónico!


Todo o organismo que faz febre é considerado um organismo forte – seja qual for o seu estado – alterado por vírus, bactérias, envenenamentos (internos e externos), agressões externas, etc.

A febre é uma resposta do sistema imunitário com poder de reacção; sem febre – estados altamente crónicos, sobrecarregados e sistema imunitário sem poder de reacção.


A Hidroterapia aplicada a cada um destes estados – crónico e agudo – vai provocar o equilíbrio no estado agudo e no estado crónico vai activar o sistema imunitário; por sua vez irá desencadear progressivamente o equilíbrio, no desequilíbrio térmico existente. Este altamente localizado, altera e bloqueia o funcionamento normal de todas as glândulas, órgãos e os sistemas normais de eliminação, até levar o organismo ao estado crítico.

Pela Hidroterapia complementada, pela Fitoterapia, Homeopatia, acupunctura, Geoterapia, alimentação e disciplina do paciente a vários níveis, tudo é restabelecido.


Tratamento S.O.S


Este tratamento é aplicado a qualquer estado patológico que surja, mesmo que não haja hipótese de sabermos qual a origem do problema.


É um tratamento de actuação muito profunda, que praticamente impede o paciente de morrer – só em casos em que o estado geral do paciente esteja já esgotado da sua energia vital e que tenha já gasto as suas reservas existentes nos seios malares) e por vezes até nestes casos resulta. É um tratamento que não tem limite de horas de aplicação, podendo durar entre 7 a 15 dias ininterruptamente de dia e de noite.

Nestes casos mais graves mantém-se o paciente a tomar uma colher de sopa de água de hora a hora, além disto deve-se também fazer aplicação de vários pequenos clisteres frios com alfavaca-de-cobra (Parietaria officinalis) – entre 7 a 9 clisteres nas 24 horas. A nível alimentar o paciente deve tomar uma colher de sopa de “Cergumil” de 2 em 2 horas, é de realçar que tal não deve ser feito nas primeiras 5 horas, para que dessa forma não haja mais sobrecarga além da já existente.














Como se executa o tratamento S.O.S


1º Colocar num recipiente uma chávena de chá de vinagre num litro de água (frios). A mistura destes dois líquidos serve para fazer passagens no corpo do paciente de hora a hora.

2º Toalhas ou faixas húmidas e frias que se colocam de hora a hora.

3º Saco de água quente sempre nos pés.

4º Toalhas húmidas e bem frias enroladas na cabeça (estilo turbante) mudadas de 15 em 15 minutos ou de 30 em 30 minutos dependendo das temperaturas apresentadas.

Nota, nas crianças este processo deve ser mudado de 10 em 10 minutos ou de 15 em 15 minutos mediante as temperaturas apresentadas, evitando desta forma as convulsões. Passagens ou faixas frias são renovadas de 30 em 30 minutos alargando progressivamente para uma hora de intervalo.

5º Nos casos muito graves quando o organismo não reage aos tratamentos até aqui referidos, deve-se usar a fustigação (suave) do corpo com urtigas.


Todos os tratamentos acima mencionados obrigam a família do paciente a manter o contacto directo com o técnico de saúde sobre a evolução do estado do paciente. O técnico caso não conheça o organismo do paciente deve fazer visita duas vezes por dia ao paciente. Este tem a obrigação de transmitir calma e confiança no seu trabalho.

Após a saída do processo S.O.S deve iniciar-se novos tratamentos visando a regeneração e a eliminação.


Hidroterapia completa diária de regeneração e eliminação


Consiste em:


1º Passagem do corpo com água e vinagre ou só com água (1:10).

2º Toalha fria abdominal ou faixa fria (renais).

3º Toalha fria na cabeça (só em casos de problemas cerebrais ou traumatismos).

4º Toalha fria na garganta (amigdalites frequentes, infecções por estafilococos/estreptococos) – a toalha deve ir de orelha a orelha.

5º Semicúpio (2 a 5 minutos).

6º Sauna de vapor individual com a cabeça de fora (seis passagens de 3 em 3 minutos) ou toalha grande quente de 1 a 1,5 hora mais 30 minutos de repouso.

Nota: estes dois tratamentos são sempre feitos às 11h00.

7º Banho genital (não vital) de 30 minutos (adultos) às 17h30. Crianças, substitui-se por faixa fria no sono da tarde.

8º Ao deitar tanto no adulto como na criança colocar uma cataplasma de argila com 1 cm de espessura no abdómen, que deve ser renovado de 3 em 3 horas podendo ficar toda a noite caso já exista um reequilíbrio térmico.

Estes tratamentos são repetidos diariamente até que:


Os adultos completem 30 toalhas grandes ou saunas completas e as crianças 15 dias. Após 30 dias todo o esquema do tratamento mantém-se alterado apenas nos adultos; a sauna e ou as toalhas grandes passam a ser dia sim, dia não; nas crianças passam a ser feitos de 2 em 2 dias. Crianças a partir dos 6 anos de idade poderão fazer sauna com 4 passagens de 3 minutos cada uma.

No caso de neste espaço de tempo voltem os sintomas iniciais ou semelhantes pára-se com o esquema que se estava a praticar e volta-se ao tratamento S.O.S e após sair da crise curativa, volta-se novamente ao esquema que se estava a praticar quando a crise curativa surgiu.

Durante o processo de cura todas as crises curativas são bem vindas, pois cada vez que isto acontece vamos estar mais perto da cura.


A alimentação durante todo o processo de cura cabe ao técnico elaborar um esquema adequado ao processo. Na crise de curativa a alimentação deve ser a mencionada no S.O.S em alguns casos poderá vir a adicionar-se alguns sumos de fruta naturais (pêra, maçã, cenoura, etc).


Hidroterapia diária e higienismo


Esta Hidroterapia é aquela que consideramos não serem tratamentos, mas higiene técnica, ela mantém-nos equilibrados minimamente no dia-a-dia. Ajuda-nos a manter o sistema imunitário em alerta, providenciando as nossas defesas e o nosso bem-estar.

Vamos dividir em duas fases os mesmos tratamentos ou alinhamentos térmicos, praticados por uma pessoa sem grandes problemas e fazendo uma vida diária, quer profissional quer doméstica.

Temos a seguir aquela que já apresenta maior agravamento e desequilíbrio térmico, que necessita de maiores cuidados, um pouco mais profundos.


Primeira fase – 7 dias


Tratamentos diários – ao levantar:


1º Passagem com estimulação;

2º Pés na água;

3º Semicúpio;

4º Semicúpio antes de jantar;

5º Toalha fria no abdómen ao deitar.





Explicação dos tratamentos:


1º Passagem com estimulação:


Ao acordar despe-se e passa o corpo todo desde os pés ao pescoço por água à temperatura natural, começando pelo pé esquerda, subindo pelo braço, até ao pescoço, caindo a água pelas costas e depois pelo braço até ao pé direito.

Embrulha-se numa toalha de banho e seca-se energeticamente, promovendo e activando a circulação periférica durante 10 minutos; veste uma camisola de algodão.


2º Pés na água


Numa bacia média colocar água fria acima dos tornozelos. Entra para o alguidar e faz o movimento de pisar uvas, elevando ao máximo os dois joelhos durante dois minutos. Ao fim deste tempo, sai e enxuga ao de leve os pés e calça umas meias turcas de algodão.


3º Semicúpio


A seguir ao tratamento número dois, senta-se dentro de uma alguidar de modo que depois de sentado a água lhe chegue acima do umbigo 3 dedos permanecendo por 5 minutos. Por vezes terá que se colocar mais água pois depende do volume de cada pessoa.


4º Semicúpio antes de jantar


A seguir ao tratamento número dois, senta-se dentro de uma alguidar de modo que depois de sentado a água lhe chegue acima do umbigo 3 dedos permanecendo por 5 a 10 minutos. Por vezes terá que se colocar mais água pois depende do volume de cada pessoa. Poderá utilizar a água que usou de manhã.


5º Toalha fria no abdómen


À noite ao deitar, deverá molhar uma toalha de rosto com água gelada, espreme e dobra-a. Aplicar em cima do abdómen.












Segunda fase


Tratamentos diários – ao levantar:


1º Passagem do corpo com água e vinagre;

2º Pés na água;

3º Semicúpio;

4º Clister – lavagem intestinal;

5º Semicúpio antes do almoço;

6º Banho genital às 17h00;

7º Semicúpio antes do jantar;

8º Faixa fria ao deitar ou cataplasma de argila.


Explicação dos tratamentos:


1º Passagem do corpo com água e vinagre


Colocar num litro de água fria uma chávena de chá de vinagre de maçã e misturar bem numa tigela grande.

Molha-se uma toalha de rosto em água fria, espreme-se e dobra-se no sentido do comprimento da toalha em 3 dobras. Faz-se o mesmo a uma toalha seca.

A seguir coloca-se um lençol de flanela na cama atravessado.

O paciente despe-se e deita-se de barriga para baixo sobre o lençol de flanela, colocando os braços ao longo do corpo com as palmas das mãos viradas para cima.

A pessoa auxiliar dos tratamentos molha a mão na tigela e passa o corpo todo do paciente desde a nuca até às solas dos pés. Vai molhando e passando sempre continuando desde a região que acabou de molhar. O paciente volta-se de barriga para cima e o auxiliar repete o processo iniciando logo no pescoço até aos dedos dos pés.

Coloca de imediato a toalha molhada e por cima a seca e envolve o paciente no lençol de flanela e cobre-o com a roupa da cama. Permanece neste tratamento 30 minutos.


2º Pés na água


Após os 30 minutos levanta-se e veste uma camisola de manga curta e faz exactamente o tratamento mencionado na fase 1 – tratamento nº 2.


3º Semicúpio


A seguir ao tratamento número dois, senta-se dentro de uma alguidar de modo que depois de sentado a água lhe chegue acima do umbigo 3 dedos permanecendo por 10 minutos. Por vezes terá que se colocar mais água pois depende do volume de cada pessoa.


4º Clister – lavagem intestinal


Caso o paciente tenha graves problemas intestinais fará um clister com chá de alfavaca-de-cobra (Parietaria officinalis) frio. A posição de dar o clister é de rabo para o ar.


Receita do clister:


3 colheres de sopa de alfavaca-de-cobra (Parietaria officinalis) moída;

Meio-litro de água mineral;

Ferve durante 5 minutos. Deixa de um dia para o outro de repouso. De manhã côa e faz o clister com este liquido.


5º Semicúpio antes do almoço


A seguir ao tratamento número dois, senta-se dentro de uma alguidar de modo que depois de sentado a água lhe chegue acima do umbigo 3 dedos permanecendo por 10 minutos. Por vezes terá que se colocar mais água pois depende do volume de cada pessoa.


6º Banho genital às 17h00 – duração 30 minutos


Enche-se o bidé com água fria até ao ralo e deixa-se um fio de água a correr da grossura de um dedo mindinho durante todo o tratamento.

Mulheres: a seguir a paciente senta-se de frente para as torneiras e usando uma bola de algodão hidrófilo vai molhando ao de leve os lábios da vagina.

Homens: a seguir o paciente senta-se de frente para as torneiras, puxa a pele tapando a glande e agarrando o pénis não permitindo que a pele destape a glande, vai banhando a ponta da glande com a bola de algodão.

Este banho pode ser feito de pé no lavatório seguindo o mesmo processo do bidé.


Atenção: não deve comer ou beber seja o que for senão 30 minutos após acabar o tratamento.


7º Semicúpio antes do jantar


A seguir ao tratamento número dois, senta-se dentro de uma alguidar de modo que depois de sentado a água lhe chegue acima do umbigo 3 dedos permanecendo por 10 minutos. Por vezes terá que se colocar mais água pois depende do volume de cada pessoa.






8º Faixa fria ao deitar ou cataplasma de argila


- Lençol de banho seco dobrado a meio no sentido do comprimento.

- Lençol de banho embebido em água gelada, espremido, dobrado a meio no sentido do comprimento.

- Plástico fino (melhor e mais confortável os das tinturarias para os vestidos compridos).

- Saco de água quente.


1º Puxa a roupa da cama para os pés da cama;

2º Coloca o plástico no sentido atravessado sobre o lençol da cama;

3º Por cima coloca o lençol seco, e sobre este o lençol molhado;

4º O paciente deita-se de costas sobre este tratamento, que deve ir debaixo dos seios até ao início das nádegas (lombar 5).

5º Envolve-se primeiro o lençol molhado e depois coloca-se o seco. Tapa-se com os cobertores da cama.

6º Colocar o saco de água quente nos pés.


Geoterapia


Como se prepara uma cataplasma de argila?


- Arranje um quadrado de tecido de algodão encorpado com 65X65 cm;

- Arranje uma rede fina (rede para mosquiteiro), corte um quadrado de 80X80 cm, se tiver um pouco mais não tem problema.

- Amasse um pacote de argila em pó com 1 kg com água mineral ou da nascente de modo que foque mais ou menos com a consistência de argamassa ou cimento.

- A seguir dobre a meio o tecido de algodão.

- Por cima centre a rede e a seguir barre com argila usando uma espátula de madeira, espalhe a argila por uma área de 55X30 cm e 1 cm de espessura.

- Dobre a rede a fazer um envelope, para que a argila ao secar não se espalhe, sujando e incomodando o paciente.

- Dobre a meio um lençol de banho e atravesse-o na cama.

O paciente deita-se sobre este lençol, coloca-se a cataplasma de argila no abdómen e ajusta-se com o lençol. Prende-se com uns alfinetes de dama com segurança, veste o pijama ajustando melhor ou tapa-se bem com os cobertores. Coloca o saco de água quente nos pés; tapa-se novamente o paciente. Pode ficar até de manhã.


Terá contra indicação caso o paciente tiver muita febre interna e se sinta incomodado. Isto também á aplicado à faixa fria. Tem também contra indicação se houver muita depuração e muita inflamação, e ai tanto a faixa como a argila serão mudadas de hora a hora. Estão nestes casos as queimaduras, drenagens e ulcerações de vários tipos.



Hidroterapia e patologias


Na primeira fase não há patologias específicas nesta higiene térmica, apenas recuperar e manter o equilíbrio térmico, é como fazermos diariamente a nossa higiene matinal. É sentir o cheiro a lavado por dentro, vendo-se gradualmente por fora a harmonia.


Na segunda fase já podemos ajudar em algumas patologias leves, pois o seu conjunto de tratamentos vai um pouco mais a fundo. Podendo reequilibrar o desequilíbrio térmico, mas nunca pensar resolver de vez o problema que se apresenta.


Patologias:


Gripes, sinusites, intoxicações alimentares, hepatite, cistite, reumatismo (problemas leves), colite, ácido úrico, colesterol, problemas digestivos, respiratórios, do foro ginecológico, corrimentos de vários tipos, hemorróidas.
































































NOÇÕES GERAIS DE HIDROTERAPIA

Fonte – Hidroterapia Kneipp”















As aplicações da água empregadas são as seguintes:

  • Compressas.

  • Banhos completos e meios-banhos.

  • Banhos de vapor – sauna

  • Afusões ou duches.

  • Loções ou fricções.

  • Faixas, enfaixamentos ou envoltórios

  • Uso interno (como bebida).

  • Jactos.


De acordo com o principio fundamental segundo o qual todas as doenças têm a sua origem nas alterações do sangue, causadas ou por uma circulação anormal e defeituosa ou por se terem misturado com ele substâncias estranhas e nocivas, têm as aplicações da água um destes três fins:


  • Resolver as substâncias mórbidas;

  • Separar e eliminar os germes do mal;

  • Fortificar o organismo;


Em geral pode-se dizer que todos os banhos de vapor e os banhos gerais quentes com cozimento de ervas realizam o primeiro destes três fins; para alcançar o segundo empregam-se as faixas nas suas diferentes formas e em parte também as afusões e as compressas; ao passo que para robustecer o organismo servem os banhos frios e as afusões nas suas diferentes formas, em parte as loções e, finalmente, todos os exercícios usados para fortalecer a natureza.

Já que toda a doença tem como causa a alteração do sangue, como foi dito, é evidente que uma mesma enfermidade pode-se combater com diferentes exercícios e aplicações hidroterápicas, porque todos contribuem, mais ou menos, para resolver, eliminar substâncias e fortificar o organismo. Além disso, é preciso ter em conta que de ordinário não se submete ao tratamento tão-somente a parte enferma, como a cabeça, os pés ou as mãos, mas sim todo o corpo, porque a todos os membros aflui o sangue infectado, participando todos, por conseguinte, da enfermidade; unicamente deve submeter-se a tratamento especial ou mais energético a parte enferma. Proceder diversamente nestes dois pontos importantes seria certamente grave erro;.

Em todo o caso quem adoptar o sistema tal qual eu exponho, não deve considerar as aplicações hidroterápicas como objecto final, ou, por outra, não deve nunca submeter-se a um tratamento só porque produz mais ou menos prazer; seria uma perda de tempo aquele que por simples divertimento empregasse a torto e a direito os banhos de vapor, as afusões, as faixas, etc.

Todo o indivíduo sensato deve considerar as aplicações hidroterápicas tão-somente como meios para chegar a um fim. Pode-se reputar feliz aquele que com a aplicação mais simples de água conseguir o seu objectivo, pois a missão da hidroterapia é ajudar a natureza a recuperar a saúde, a restituir ao membro enfermo a actividade perdida, e quebrar as correntes do mal, para que, sem impedimento e com o vigor primitivo, possa reencetar as tarefas quotidianas. Cumprida esta missão, o terapeuta retira-se satisfeito do campo de operação.

A observação que acabo de fazer é de maior importância, porque nada há que contribua tanto para desacreditar a água como o seu emprego indiscreto e irracional e os processos severos e rudes. Causam inumeráveis males quase sempre irremediáveis, os que, julgando-se mestres no sistema hidroterápico, afugentam os doentes com as suas faixas sempiternas, com os seus banhos de vapor intermináveis, capazes de esgotar todo o sangue. A isso não se pode chamar método hidroterápico; isso é antes um sistema violento que desonra a quem o emprega e os princípios em que pretende estribar-se, quem tiver adquirido perfeito conhecimento das virtudes da água e souber usá-la, nas suas inumeráveis aplicações, terá sempre à mão remédios que não cedem a nenhum outro em eficácia. Não há remédio mais elástico e de mais variados efeitos do que a água. Faz a sua aparição na história da criação sob a forma de átomos vaporosos, que logo se transformam em gotas, para constituir essas enormes massas que cobrem quatro quintas partes da superfície do globo. e isto é para a Hidroterapia um indicio de que em todo o tratamento, quer se aplique a água sob a forma de gotas quer sob a forma de vapor, pode-se observar uma gradação de menor para maior, e que, em caso algum, se há de acomodar o paciente ao tratamento, mas, pelo contrário, este é que se há de conformar com as condições e circunstâncias daquele.

É na escolha acertada das aplicações que se dá a conhecer a perícia do terapeuta. Antes de tudo é preciso submeter o doente a um severo exame, sem que todavia se mostre a menor impressão pelo seu estado.

Apresentar-se-ão logo à vista os padecimentos secundários, os desarranjos acessórios que como cogumelos brotam no terreno infectado, e que regra geral nos levam como que pela mão até a sede do mal, destapando-nos a doença e os estragos que tenha ocasionado. Continuando nas observações, ver-se-á se o doente é velho ou jovem, de constituição robusta ou débil, corpulento ou franzino, anémico, nervoso, etc.

Com estes e outros dados podemos formar juízo cabal da doença, e, uma vez alcançado este, achamo-nos em condições de aplicar o tratamento oportuno, sem nunca perder de vista este princípio: Quanto mais suave e benigna for a aplicação, mais eficazes e melhores serão os resultados.

Estabelecido este princípio, julgo ainda oportuno fazer algumas considerações gerais sobre as aplicações hidroterápicas. Nenhuma das muitas aplicações aqui indicadas, podem tornar-se prejudiciais, se forem efectuadas conforme as regras estabelecidas.

A maior parte das aplicações efectuam-se com água fria de manancial, fonte, rio, etc.; e nos casos a que se alude neste livro, empregar-se-á água fria toda vez que não se prescreva expressamente o uso da água quente. E quanto a este particular sigo o princípio: quanto mais fria a água, tanto melhor. Assim é que no inverno, tratando-se de pessoas que gozam saúde, adiciono neve à água destilada para afusões. Não me acusem de excessiva severidade, mas veja-se à curta duração de todas as minhas aplicações hidroterápicas. De resto não sou inexorável, posto que tenho a convicção de que, feita uma só vez a experiência, desaparecerão todos os preconceitos.

Com efeito, não é com sal ou vinagre, mas com mel que se apanham moscas. Da mesma maneira aos profanos da arte hidroterápica, às pessoas débeis, às crianças e aos velhos, aos enfermos nervosos e anémicos, e em geral, a todos aqueles que têm medo de água fria, permito-lhes, no inverno, quebrar-lhe a friagem, deitando um pouco de água tépida, sobretudo nas primeiras aplicações, e elevar até 15º R. (significa Réaumur) a temperatura dos aposentos. Em relação aos graus de temperatura, à duração do tratamento, etc., às aplicações em que se exige água quente, daremos a prescrições que se devem observar em cada caso particular.

Julgo oportuno dar ainda algumas regras quanto às aplicações frias (na terceira parte serão explicadas minuciosamente), regras que devem ser observadas antes das aplicações, durante as mesmas e depois delas.

Ninguém se submeta a tratamento com água fria, estando com o corpo frio ou sentindo arrepios, a não ser que se prescreva o contrário no lugar respectivo.

A operação efectuar-se-á com a maior rapidez possível, (todavia sem receio nem perturbação) e o mesmo cuidado terá o banhista ao despir-se e ao vestir-se, deixando as operações secundárias do abotoar-se, etc., para depois quando o corpo estiver de todo coberto.

Assim por exemplo, um banho completo de água fria, compreendendo a operação de vestir e despir, não deve durar mais de 4 a 5 minutos. Isso consegue-se com um pouco de prática. Quando neste livro marcamos para uma aplicação 1 minuto, queremos dizer com isso a menor duração possível; se dizemos de 2 a 3 minutos, a acção da água fria deve ser mais duradoura.

Depois de nenhuma das aplicações com água fria, deve-se enxugar o corpo, à excepção da cabeça e das mãos para evitar que se molhe a roupa ao vestir.

Pelo contrário, deixa-se húmido o resto do corpo, tapando-o, sem a menor demora com a roupa bem enxuta afim de impedir o contacto com o ar. Muitos julgam inconveniente este processo, supondo que andarão todo o dia com a roupa húmida. Antes, porém, de formularem juízo tão leviano, façam a experiência uma só vez e logo se convencerão da bondade do meu conselho. O enxugo do corpo exige fricções que, não sendo uniformes em todas as partes, produzem desigualdades de temperatura, sendo prejudiciais, especialmente às pessoas débeis e doentes. Muito pelo contrário, a humidade que se deixa na cútis desenvolve rapidamente um calor uniforme e altamente benéfico. À semelhança do que acontece quando se lança água no fogo, a água que adere à cútis, serve de combustível, com que o calor interior aumenta rapidamente de intensidade. Faça-se a experiência e ver-se-á que não me engano nem exagero.

Em compensação é condição indispensável para o bom resultado do tratamento, que o paciente, depois de cada aplicação, faça exercício, ou dando um passeio ou entregando-se a trabalhos corporais, até que todas as partes do corpo estejam completamente secas e tenham adquirido o grau normal de temperatura. Logo que começa a sentir a reacção, diminui-se um pouco a rigidez do movimento. Ninguém melhor que o próprio individuo compreenderá quando chegou a ser normal a temperatura do seu corpo, para dar por acabado o exercício. Os doentes que se aquecem e suam facilmente, farão sempre um exercício mais moderado, embora tenham que prolongá-lo, pois que em tal estado é muito fácil, ainda nos aposentos aquecidos, apanhar uma constipação ou ficar com catarro.

Por via da regra, a duração mínima do exercício, após qualquer tratamento hidroterápico, será de um quarto de hora, ficando à escolha do paciente se aquele deve consistir em passeio ou em trabalho corporal.

Em relação às aplicações que obrigam o paciente a meter-se na cama, especialmente as compressas ou faixas, serão dadas as instruções oportunas no lugar correspondente a cada uma delas. Se durante a aplicação o sono se apodera do paciente, é deixa-lo dormir tranquilamente, embora tenha passado o tempo prescrito. Em casos tais a melhor norma é deixar a obra à natureza sábia.

Colocar panos, entendo sempre tela de cânhamo tosca ou de linho grosso e em caso algum linho fino.

Por conseguinte o pobre que não tiver outra coisa à sua disposição, pode supri-los perfeitamente com aniagem, lona ou tecidos análogos. Para lavar o corpo pode-se empregar igualmente um pedaço de pano grosso de cânhamo ou de linho.

Pelas razões apontadas na introdução, reprovo o uso da lã nas peças de vestuário que estejam em contacto com a pele. Julgo-a, porém, excelente para mantas e cobertores nas faixas, etc., por causa da rapidez com que desenvolve grande quantidade de calor.

Pela mesma razão recomendo nas mesmas aplicações o uso de cobertores (colchas de penas – climas muito frios).

As fricções quer se façam por meio de escovas, quer com a mão ou outro qualquer processo, ficam banidas do meu sistema hidroterápico, pelo que os fins que com elas se conseguem, podem alcançar-se melhor de outra maneira; o desenvolvimento do calor é mais uniforme e simultâneo deixando-se secar o corpo; as camisas de tela tosca abrem os poros e aumentam a actividade da pele, com a vantagem que a sua acção é constante, dura dia e noite e não alguns minutos como o da escova, que, além de tudo, ocasiona perda de tempo e de forças. Quando às vezes prescrevo uma loção energética, entendo por tal uma simples loção rápida da parte submetida ao tratamento; porque o fim principal que se quer conseguir é humedecer, e não a fricção.

Ainda um reparo e término. A maior parte dos pacientes recusam submeter-se a qualquer tratamento antes de se deitarem, alegando que perdem o sono: outros, entretanto, preferem essa hora, porque o banho, pelo contrário, concilia o sono. Da minha parte não recomendo essa hora como a mais adequada, entendo, porém, que este ponto deve deixar-se à escolha de cada um, pois ninguém melhor do que o interessado conhece a sua própria natureza.

Na primeira parte deste livro expõem-se os pormenores especiais para cada aplicação e na terceira parte ensina-se o uso das aplicações hidroterápicas nas diferentes enfermidades, indicando-se, ao mesmo tempo, as que se devem considerar como aplicações gerais e quais as aplicações parciais ou locais, que se fazem sempre combinadas ou conjuntamente com outras. Tive também o cuidado de indicar quais os exercícios, que, como as aplicações de vapor, exigem precauções especiais.

Aqui ponho ponto a estas observações gerais, expressando o desejo de que o meu método hidroterápico contribua para fortalecer mais e mais as pessoas sãs e restituir a saúde aos doentes; e entro a expor primeiramente as aplicações que se podem fazer para fortalecer ou endurecer o organismo, e em seguida as aplicações que constituem propriamente o meu sistema curativo.





















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Fortificantes

Ou

Meios para fortalecer e endurecer o corpo

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Os meios para fortalecer e endurecer o nosso corpo são:


Andar descalço.

Andar descalço na erva molhada.

Andar descalço em pedras molhadas.

Andar descalço na água fria.

Banhar em água fria os braços e as pernas.

As afusões ou duches nos joelhos (com ou sem as afusões superiores).



1º Andar descalço


O mais natural e simples dos exercícios que servem para fortificar o corpo, é o andar descalço; operação que se pode efectuar de muitas maneiras, conforme os diferentes estados e a idade das pessoas.

As criancinhas que ainda andam ao colo, devem ter sempre os pés destapados. Oxalá me fosse dado gravar este princípio no coração de todas as mães de modo que o observassem como regra invariável da vida! Que os pais extraviados por prevenções, se não querem acomodar-se a esta norma, tenham ao menos piedade dos seus inocentes pequerruchos e lhes ponham um calçado leve que não impeça completamente o contacto com o ar.

Pelo que diz respeito às crianças que já caminham, essas melhor do que ninguém sabem o que hão-de fazer neste particular. Sem considerações de ordem alguma, lançam para um lado as meias e os sapatos molestos e reputam-se felizes quando especialmente na primavera, lhes permite correr e saltar descalças.

Acontece às vezes que o sangue lhes escorre de algum dedo do pé; isso porém, não as impede de continuar a gozar de se verem livres dos sapatos importunos.

Nisso obedecem as crianças a um impulso instintivo e natural, que também nós os velhos experimentaríamos, se uma civilização refinada, tão inimiga do natural, e que tudo mistifica e transtorna, não tivesse desterrado o bom senso de quase todas as práticas da vida.

Os filhos dos pobres com a sua grande liberdade de acção levam nisto notável vantagem dos filhos dos nobres e ricos, que de bom grado imitariam esse naturalismo de vida. Eu mesmo tive a ocasião de observar este facto nos filhos de um alto funcionário. Mal os pequenos se julgavam longe da severa vigilância do pai, arrojavam para longe os sapatos delicados e as meias finas, e lá iam alegres a correr e a saltar pelo prado coberto da relva verdejante. A mãe, senhora de muito bom senso, presenciava com certo prazer esse folguedo dos pequenos; entretanto, se o pai por acaso os surpreendia naquele estado inconveniente, vinha com um longo sabonete e um sermão ainda mais longo sobre a boa e a má educação, e sobre a condição social das pessoas e as obrigações que impõe. Os rapazes tomavam tão a peito as admoestações paternas que logo, no dia seguinte, se entregavam com mais entusiasmo àquela diversão favorita. Eis a razão porque não me cansarei nunca de recomendar que nisto se deixe seguir às crianças o seu instinto natural.

Os pais, que vivendo na cidade, não têm à sua disposição um jardim ou um quintal, podem proporcionar a seus filhos esse exercicio fortalecedor permitindo que andem descalços de quando em quando pela casa, para que os pés respirem alguma vez livremente, do mesmo modo que o rosto e as mãos, e, aspirando o ar fresco, se movam no seu próprio elemento.

Os adultos das classes pobres, principalmente os que vivem no campo, não têm precisão das minhas recomendações; embora por necessidade costumem andar descalços, não invejam e nem têm motivos para invejar os mais abastados burgueses nem as suas botas justas, de polimento, nem as suas meias finas, verdadeiro tormento dos pés, que assim se vêem privados do elemento mais indispensável para a vida.

Os néscios camponeses que, envergonhando-se de viver como os seus éguas, imitam os costumes efeminados dos burgueses, esses levam consigo o castigo da sua vaidade. As modas antigas são as mais racionais; conservemos as tradições do passado. No campo, ao tempo da minha infância, andávamos todos descalços, velhos e crianças, pequenos e grandes, pai e mãe, irmão e irmã. Grande era a distância que separava as nossas casas da igreja e da escola. Os nossos pais davam-nos um pedaço de pão e algumas frutas para a jornada e também sapatos e meias para agasalho dos pés. O calçado e as meias, porém, pendiam do braço, ou eram carregadas às costas até à porta da escola ou da igreja não só no verão como ainda no rigor do inverno. Mal assomava a primavera e a neve da montanha começava a fundir-se, todos os rapazes da aldeia, satisfeitos, lançavam-se descalços para a erva molhada e chapinhavam nos charcos, respirando de alegria e saúde em todo o corpo.

Os que residem nas cidades, especialmente os indivíduos pertencentes à alta sociedade, não podem submeter-se a semelhante exercício, isso é natural. Se a sua prevenção chega a ponto de recearem que só com o tocar no chão com os pés descalços, no momento de se vestirem ou despirem, irão pilhar algum catarro, dores de garganta, reumatismo ou outras doenças, que tais, deixemo-las viver nesta crença. Aqueles porém, que tenham vontade de fortificar o seu organismo, recomendamos um breve passeio de um quarto ou de uma meia hora, com os pés descalços, no pavimento fresco da casa, antes de se deitarem ou também logo ao se levantarem de manhã.

Para mitigar um pouco a impressão, podem nos primeiros dias andar de meias, depois de completamente descalços e por último, argumentar a impressão, emergindo na água fria os pés até aos tornozelos, por alguns minutos, antes do passeio.

Com um pouco de boa vontade e desejo de conservar a saúde, todos, ainda o mais aristocrata, e por mais elevada que seja a sua função na sociedade, encontrará tempo para por em prática tão útil exercício.

Um sacerdote meu conhecido passava todos os anos alguns dias em campanha de um amigo que possuía um jardim, onde aquele, descalço, dava diariamente o seu passeio matinal. Enquanto o seu espírito estava entretido com a reza do breviário, os pés nus deleitavam-se com o pisar a relva mole coberta de orvalho. Muitas vezes exaltou-me aquele sacerdote os excelentes resultados do andar descalço.

Aqui poderia eu citar o nome de grande número de pessoas ilustres da alta sociedade que não desdenharam o conselho de amigo, e que no verão ao menos, pela manhã, se retiravam a um bosque vizinho ou a um prado apartado, para, descalços, darem o seu passeio com o fim de endurecer o corpo. Uma dessas pessoas, cujo número é ainda relativamente pequeno, confessou-me uma vez que dantes era rara a semana em que nãos e sentisse apoquentada por alguma constipação, mas que com este simples exercício se tinha livrado para sempre dessa facilidade de ficar com catarro, tornando-se muito menos sensível ao frio.

Resta-me dirigir algumas palavras às mães de família. Serei breve, porque tenciono em breve, se Deus me der vida e saúde, publicar um pequeno tratado prático sobre a maneira de cuidar e conservar a saúde. As mães são chamadas, em primeiro lugar, a criar uma geração vigorosa e robusta e a desterrar a efeminação, debilidade, anemia, afecções nervosas e todas estas doenças sem número que encurtam a vida e causam tantas mazelas à família humana. O melhor meio para conseguir esse resultado é fortalecer, confortar o corpo desde os mais tenros anos. A alimentação e o vestuário são os factores que se podem empregar principalmente como fortificantes e deles precisa tanto o velho como a criança.

Quanto mais puro é o ar que respira a criança, melhor é o sangue que circula nas suas veias. Para habituar as crianças a viverem num ambiente fresco, farão bem as mães lavá-las todos os dias com água fria ou banhá-las com água morna ao sol logo apôs o banho quente. Este por si só produz debilidade e moleza, ao passo que a loção fria conforta, endurece e favorece um desenvolvimento regular do organismo. O medo e a sensação desagradável que se experimenta a principio, desaparecem no terceiro e quarto banho; em compensação este exercício preserva as crianças das constipações tão frequentes e das suas consequências, ao mesmo tempo que poupa as mães, que quiserem evitar estes inconvenientes, o cuidado fastidioso de envolver e forrar as suas criaturinhas em lãs e outras fazendas pesadas que impedem o contacto do ar e lhes tolhem os movimentos.

Neste ponto cometem-se verdadeiras atrocidades com as crianças. Com efeito as pobres criaturas sufocam como encerradas dentro de uma estufa de lã ardente; o seu corpinho geme sob o peso de faixas e roupas; a cabeça de tal forma agasalhada que não podem nem ouvir nem ver, e o pescoço, que também deve ser endurecido às influências atmosféricas, está envolvido num montão de panos que o subtraem totalmente ao contacto do ar. E quando a criança já está nos braços da ama que há-de levá-la a passear, eis a extremosa mãe toda solicita a examinar ainda se o filhinho está hermeticamente encerrado nas suas vestes. Que muito, pois, que um procedimento tão contrário aos mais elementares princípios da higiene, tenha como consequência os catarros, as anginas de todas as classes e outras mil enfermidades que arrebatam tão considerável número de crianças, que se tornaram assim impotentes para resistir ao mais leve sopro de vento? Não há que admirar que haja legiões de famílias anémicas e doentias, e que ocorram tantos casos de histerismo, de que são atacados os filhos suspeitos hoje a enfermidades outrora desconhecidas! E quem seria capaz de enumerar os males de espírito, companheiros inseparáveis de um corpo que começa a decair e a decompor-se antes de chegar ao seu completo desenvolvimento, frutos apodrecidos de uma árvore mal cultivada desde a sua origem? Mens Sana in Corpore Sana, só um corpo são, vive uma alma sã. O desenvolvimento normal das forças do corpo humano exige, como condição preliminar, que se fortaleça a natureza por meio de exercícios como os que acabámos de expor. Oxalá que as mães compreendessem de uma vez para sempre a sua missão e a sua responsabilidade e abraçassem os conselhos de pessoas com critério!


2º Andar na relva molhada


Andar na relva molhada, é um género especial e muito eficaz do andar descalço, quer a relva esteja molhada pelo orvalho ou pela chuva, quer tenha sido regada (este passeio, de pés descalços, é muito mais saudável do que o que se faz na terra molhada).

Na terceira parte, teremos ocasião de citar repetidas vezes este exercício, que não hesito em recomendar a toda a classe de pessoas sem distinções de idades, e ainda aos doentes. Quanto mais molhada estiver a erva, quanto mais se prolongar o exercício, e quanto mais frequente for, tanto melhores serão os resultados. Em regra deve durar 15 a 45 minutos.

Terminado o passeio, limpam-se os pés das substâncias estranhas que se lhes tenham aderido, como fios de erva, areia, etc., e com a maior presteza possível, e sem enxugá-los, revestem-se de meias e do calçado bem secos. Logo em seguida se empreende novamente, em terreno seco, o passeio, a principio bastante rápido, que se vai moderando paulatinamente, e cuja duração depende da maior ou menor presteza com que se enxuguem e aqueçam os pés, e nunca deve exceder de 15 minutos.

Deve-se evitar, com o maior cuidado que as meias e os sapatos, que se calçam apôs o exercício, estejam húmidos, pois do contrário bem depressa far-se-iam sentir as consequências na cabeça e na garganta, e o remédio seria contraproducente. Eis aqui porque nunca se devem deixar aquelas peças de roupa (as meias e o calçado) na relva molhada, mas sim em lugar seco, para que com o seu auxílio os pés entrem logo em reacção e recobrem o calor perdido. Este, como os demais exercícios similares, pode-se praticar ainda quando se tenham os pés frios.


3º Andar descalço em pedras ou chão molhados


O passeio descalço em pedras ou chão molhados, que para muitos é mais fácil e cómodo, pois que em quase todas as casas há alguma divisão com o pavimento em pedra, e onde se possa praticar este exercício. Caminhar-se-á na pedra molhada, com os pés descalços, a passo rápido; se se tem à disposição quatro ou cinco pedras, far-se-á o exercício à maneira do pisador de uvas no lagar, tendo porém grande cuidado de não parar. As pedras podem ser molhadas com regador ou com jarro qualquer, sempre com a água mais fria que se tenha à mão, e deve-se repetir a rega quantas vezes for necessário para manter uniforme a humidade, todo o tempo que durar o passeio.

Se isto se pratica como meio medicinal, não deve durar mais de 15 minutos nem menos de 3, conforme as condições do paciente e o estado das suas forças; em geral o exercício durará de 3 a 5 minutos. Se, porém, se efectua como fortificante, em bom estado de saúde, pode ser prolongado durante meia hora e até mais, sem risco algum. Eu o recomendo encarecidamente a todos os que tiverem verdadeiro desejo de fortalecer a sua constituição física, embora tenham chegado a um grau de debilidade extrema. Os que costumam ter os pés frios, os que sofrem de males de garganta, os que facilmente se constipam ou são propensos a ataques apoplécticos (acidente vascular cerebral) ou a fortes dores de cabeça, devem combater esses males com o passeio aqui indicado, o qual tornar-se-á mais eficaz se se adicionar um pouco de vinagre à água com que se regam as pedras.

As normas que se devem observar após este exercício, são as mesmas que estabelecemos para depois do passeio na relva molhada. Finalmente este exercício se pode empreender embora estejam os pés frios.





4º Andar descalço na água fria



Por mais simples que possa parecer o imergir na água as pernas até cobrir-lhes a barriga, todavia este exercício serve muito bem para se conseguirem os seguintes resultados:


  1. Actua sobre todo o corpo, fortalece o organismo.

  2. Actua favoravelmente sobre os rins e favorece, como revulsivo, a secreção da urina, servindo também de profilático contra várias doenças que têm a sua origem nos rins, na bexiga ou no baixo-ventre.

  3. Estende a sua benéfica influência ao peito, facilita a respiração e expulsa os gases do estômago.

  4. Serve especialmente para combater as dores e peso da cabeça.


Esta aplicação fortalecedora consiste em imergir, a principio, os pés até os tornozelos numa bacia, tina ou banheira com água fria, fazendo o paciente movimento com os pés como se estivesse a pisar uvas e a caminhar. A eficácia desta aplicação aumenta elevando-se o nível da água paulatinamente até à barriga das pernas e até abaixo dos joelhos. O resultado será tanto mais eficaz quanto mais fria for a água.

No primeiro dia durará o exercício um minuto, prolongando-se gradualmente até 5 a 6 minutos nas aplicações sucessivas. Após o exercício na água, é indispensável que o paciente faça movimento até que a parte molhada tenha adquirido o calor natural; no verão este movimento pode-se fazer ao ar livre; no inverno, num quarto quente. As pessoas fracas podem começar este tratamento empregando água tépida, nas outras aplicações irá baixando gradualmente a temperatura da água.









5º Meios para fortalecer as extremidades, principalmente os braços e as pernas


O paciente conserva-se de pé dentro de água até à altura dos joelhos ou pouco acima destes, durante um minuto. Em seguida calça-se, destapa os braços até aos ombros e imerge-os e imerge-os na água durante um minuto. Muito melhor será se estas aplicações se fizerem ao mesmo tempo. Quem tiver à sua disposição uma banheira grande, pode faze-lo facilmente.

Esta dupla aplicação pode-se também efectuar, metendo os pés numa vasilha colocada no chão, e as mãos e os braços noutra posta numa cadeira.

Este exercício, eu recomendo especialmente depois de certas doenças para atrair o sangue às extremidades. A imersão dos braços por si só, actua vantajosamente sobre as pessoas que são propensas a frieiras nos dedos ou que costumam ter as mãos frias.

Convém enxugar as mãos logo em seguida ao banho para evitar que, pelo contacto do ar frio, se formem bolhas; o mesmo porém não se faz com os braços.

Para aplicar este banho aos braços e às pernas é necessário que todo o corpo tenha calor normal. Entretanto se o frio está localizado nos pés até ao tornozelo ou nos braços até ao cotovelo, pode-se sem susto tomar banho.


6º As afusões ou duches nos joelhos


A maneira de aplicar encontrar-se-á no capítulo que trata das afusões ou duches. Esta espécie de afusão actua favoravelmente sobre os pés atraindo para as suas veias o sangue.

Julgo conveniente advertir aqui que, tratando-se de pessoas sadias, que tomam a afusão dos joelhos como fortificante, pode-se aplicá-la sob uma forma mais enérgica, e isto se consegue deixando cair o jorro de água de uma altura mais elevada ou adicionando, no inverno, à agua um pouco de neve ou gelo.

Também este exercício só se deve fazer quando o corpo tem a sua temperatura normal. Todavia quem estiver com os pés frios até aos tornozelos, pode sem susto fazer utilização desta aplicação hidroterápica. Além disso a afusão dos joelhos não deve ser muito repetida consecutivamente (não deve ir além de 3 a 4 dias), quando não é alternada com outra aplicação hidroterápica, como a afusão da parte superior ou a imersão dos braços, aplicando-se uma pela manhã e a outra à tarde.

Como meios fortificantes bastam os exercícios descritos que se podem fazer em qualquer época, inverno ou verão. Na estação invernosa deve-se abreviar a aplicação e prolongar o exercício que lhe deve servir. Aqueles, porém, que não estiverem acostumados a estas aplicações não devem começá-las no inverno. Esta regra serve também para os que padecem de anemia., para os que pelo uso da lã, são muito sensíveis ao frio, ou atreitos a constipações. Faço esta recomendação não porque receie algum perigo, mas unicamente para não espantar aos tímidos. Fazendo-os cobrar aversão a um sistema evidentemente bom.

Tanto as pessoas sadias como as que sofrem de alguma doença podem submeter-se a qualquer dos exercícios hidroterápicos descritos, contando que observem sempre as instruções dadas para cada tratamento, certos que os maus resultados provêm sempre de alguma imprudência. Tratando-se de tísicos em que o mal já tinha feito progressos sensíveis, apliquei como fruto os processos descritos sob os números 1,2, 3 e 6.

Nem todas as pessoas a quem dedico o meu pequeno trabalho, necessitam de estímulos para fortalecerem o seu organismo. A sua posição e as suas ocupações quotidianas proporcionam-lhes inúmeras ocasiões de robustecerem as suas forças e, como vulgarmente se diz, de se curtirem. Esses não têm motivos para invejar aos que parecem achar-se em melhor situação. Nisso de posições há muitas, muitíssimas ilusões.

Quando aqueles dos meus leitores que nunca ouviram falar sequer nas aplicações que acabo de descrever, convido-os a fazer uma experiência, embora ligeira, antes de pronunciarem sentença condenatória.

Se a experiência resultar favorável ao meu sistema, folgarei não tanto por mim, como pela importância suma do assunto.

Quantos golpes não sofrem a saúde do homem? Feliz deve reputar-se aquele que, robustecendo o seu organismo, conseguir que a sua saúde lance profundas raízes, pois assim poderá facilmente resistir aos frequentes assaltos a que está exposta a frágil humanidade.






















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Aplicações hidroterápicas



Como ficou exposto, as aplicações da água, como meios curativos, no meu sistema são:


  1. Compressas.

  2. Banhos comuns.

  3. Banhos de vapor.

  4. Afusões (duches).

  5. Faixas (embrulhos).

  6. Uso interno ou em bebida.



a) Compressas

As compressas ou panos molhados aplicam-se sob diversas formas:


1º Compressa superior


Toma-se um pano de linho grosso, dobrado em 3, 4, 6, 8 ou 10 dobras longitudinalmente dando-lhe a largura e comprimento necessários para que possa cobrir o corpo desde o pescoço até ao baixo-ventre inclusive; dos lados não deve terminar como se fosse cortado, mas deve cair livremente.

O pano assim preparado molha-se na água fria (no inverno pode empregar-se água tépida, torce-se bem e aplica-se no paciente que deve estar de costas. Por cima coloca-se um cobertor de lã ou um pano duas ou três vezes dobrado, de modo que cubra hermeticamente a compressa afim de impedir a entrada de ar, e finalmente cobre-se tudo com os cobertores da cama. Convirá além disso aplicar em volta do pescoço um pano ou um pedaço de lã, para que o ar não possa penetrar pela parte de cima. É preciso haver o maior cuidado no tapar o paciente para evitar constipações.

Este vai conservar-se nesta posição 45 minutos ou 1 hora; e, se se julgar oportuno continuar a aplicação por mais tempo, torna-se a molhar o pano, se estiver quente, e proceda-se da mesma maneira como acima ficou indicado.

Passado o tempo necessário, tiram-se os panos molhados, o paciente veste-se e dá o seu passeio pela casa, se é que não prefere demorar mais algum tempo na cama.

Esta aplicação serve especialmente para expulsar os gases do estômago e do baixo-ventre, e para se submeter a ela é necessário que o corpo tenha a temperatura normal.




2º Compressa inferior


A compressa superior corresponde à compressa inferior, devendo esta aplicar-se antes daquela, se as duas aplicações tiverem de se efectuar sucessivamente.

A compressa inferior, como a superior é aplicada na cama, e para evitar que se molhe o colchão ou enxergão, estende-se sobre o lençol outro pedaço de tela ou plástico e sobre este, um cobertor de lã de iguais dimensões.

O pano que serve de compressa, dobrando-se em 3 ou 4 dobras, é banhado em água fria e torcido, estendendo-se no sentido do comprimento em cima do cobertor de lã de modo a que abranja toda a coluna vertebral, desde o pescoço até à base da mesma. O paciente deita-se de barriga para cima, envolve-se cuidadosamente com o cobertor de lã e os outros cobertores da cama de modo que se impeça a entrada do ar. Esta aplicação deve durar 45 minutos, e, se for preciso prolongá-la, molhar-se-á de novo o pano, porquanto esta compressa como a anterior, deve servir de refrigerante.

Este tratamento aplica-se com vantagem para fortalecer a espinha dorsal e a medula espinal, como também contra as dores nas costas, os lumbagos ou dor nos rins. Duas aplicações no mesmo dia bastaram muitas vezes para fazer desaparecer este último incómodo.

Nos casos de ingurgitamentos do sangue ou de grande calor febril é muito eficaz a compressa inferior.

Quando tratarmos das diferentes doenças, indicaremos em que casos se deve fazer a aplicação e quantas vezes se há-de renovar.


3º A compressa superior e a inferior usadas simultaneamente


Estas duas compressas também podem ser aplicadas ao mesmo tempo. Prepara-se a compressa inferior como ficou indicado no número dois, e logo em seguida a compressa superior que se deixa ficar ao pé da cama. O paciente despe-se, deita-se em cima da compressa inferior, aplica-se-lhe imediatamente a superior, tendo-se o cuidado de envolvê-lo no cobertor de lã estendido por cima do colchão de modo que as duas compressas adiram perfeitamente ao corpo, e cobrindo-se tudo finalmente com as roupas da cama afim de impedir que penetre o ar.

Esta aplicação deve durar pelo menos 45 minutos e nunca exceder de uma hora.

Para mitigar as febres de temperatura elevada, expulsar gases, bem como nas congestões, na hipocondria e padecimentos análogos como finalmente nas múltiplas afecções do baço, presta esta dupla aplicação os melhores resultados.






4º A compressa ao baixo-ventre


Deitado que esteja o paciente, toma-se um pano de linho grosso, dobrado em 4 ou 6 dobras, e depois demolhá-lo e torcê-lo até que não goteje, aplica-se ao baixo-ventre (isto é: do estômago para baixo), tapando-se perfeitamente com o cobertor de lã e as mais peças da roupa da cama. A duração pode variar de 45 minutos até 2 horas: neste último caso, porém deve ser a compressa renovada depois da 1ª hora.

Esta compressa é de grande utilidade nas indisposições do estômago, nos espasmos ou cãibras, como também serve para desviar o sangue do peito e do coração.

Frequentemente embebe-se o pano em vinagre em vez da água, empregando-se também para o mesmo fim, conforme se dirá na 3ª parte, cozimentos de flores de feno, de palha de aveia (Avena sativa), de cavalinha (Equisetum arvensis).

Para poupar vinagre, molha-se um pano dobrado em dois, uma mistura de vinagre e água (partes iguais) e aplica-se ao corpo do doente, e por cima outro pano dobrado em 3 ou 4 dobras e molhado na água. Quanto ao mais, procede-se como fica determinado.

Por vezes tenho sido instado para manifestar a minha opinião acerca das compressas de gelo, das sangrias, etc., etc. Vou expor em poucas palavras o que penso a respeito desses pontos.

Quem de sobrolho carregado estende a mão ao inimigo em sinal de reconciliação, não conseguirá tão facilmente o seu objectivo como aquele que o faz tendo o sorriso nos lábios e a alegria no coração. Este símile vem aqui muito a pêlo. Considerei sempre o emprego de gelo especialmente sobre as partes mais nobres do corpo (como a cabeça, os olhos, as orelhas, etc) como um dos remédios mais rudes e violentos que se podem imaginar. Longe de auxiliar a natureza a recuperar a actividade perdida, quer-se-lhe arrancar à viva força alguma coisa que ela pretende reter; ora isso não se faz impunemente. Eis a razão porque as compressas de gelo são completamente desconhecidas no meu sistema hidroterápico, e creio que nunca terão entrada nele. Imagine-se com efeito o contraste colossal que resulta de semelhante aplicação: interiormente, no corpo, um calor excessivo, fora uma camada de gelo, e no meio a parte enferma, objecto sempre delicado sofrendo a acção de dois factores tão opostos. Infelizmente na maioria dos casos tive ocasião de verificar os efeitos detestáveis de tão rude tratamento. Conheço um cavalheiro a quem durante um ano inteiro, dia e noite, sem interrupção, foram aplicadas compressas de gelo nos pés. Claro está que uma acção tão constante do gelo devia acabar por desaparecer não só o calor excessivo mas ainda o indispensável calor natural; o que porém não desapareceu foi o mal que se pretendia combater.

“Entretanto – objectar-me-á alguém – em muitos casos produziu o uso do gelo bom resultado”. Convenho em que alguns incómodos não possam resistir a esse tratamento violento. Quais são, porém, as consequências? Inumeráveis enfermos têm-se-me apresentado queixando-se de fraqueza de vista, de surdez, de dores reumáticas de índole muito diversa, especialmente na cabeça, que de ordinário achava-se, além disso, atacada de uma sensibilidade extrema e outras mil doenças. Perguntando-lhes eu donde lhes tinha vindo o mal, a resposta era sempre a mesma: “A aplicação do gelo devo eu este incómodo, que há tantos e tantos anos me atormenta”. E o pior é que muitos tiveram de aguentá-lo ate ao fim da vida.

Por conseguinte reprovo absolutamente o uso de compressas de gelo, e sustento que a água empregada de um modo racional, é capaz de mitigar e amortecer totalmente o calor interior mais intenso, em qualquer órgão ou parte do corpo que se tenha concentrado. Um incêndio que não se pode extinguir com a água, não se apagará de certo também com gelo. Isso é fácil de compreender.

Acabo de afirmar que a água bem aplicada é o melhor remédio. Não quer isto dizer que se, por exemplo, se se trata de uma inflamação na cabeça, em lugar das compressas de gelo, se apliquem sem discernimento panos molhados, etc. Cem compressas não serão capazes de impedir a afluência do sangue para a parte inflamada, causa do ardor que sente. Distribui-lo, ou, por outras palavras, é preciso distrair a doença com aplicações simultâneas em outras partes do corpo. Assim o inimigo que assentou os seus arrais na cabeça, combatê-lo-ei em primeiro lugar com remédios aplicados aos pés do paciente, que irão sucessivamente se estendendo em direcção ao ponto atacado.

Do resto, já os nossos leitores tiveram ensejo de observar os serviços excelentes que de uma maneira indirecta presta o gelo em determinados tratamentos hidroterápicos; assim, por exemplo, no verão serve para refrescar a água quando começa a aquecer.

Ainda duas palavras acerca da sangria, das sanguessugas e demais processos para extrair sangue.

Uns 50, 40, anos atrás não havia quase uma senhora que não fizesse sangrar 2, 3 e 4 vezes no ano. Um traço encarnado ou azul feito no calendário no dia de ano bom, marcava os dias destinados para a operação; os mais favoráveis eram os semi-festivos, e os que tinham algum sinal de bom agoiro. Médicos, barbeiros e até os banheiros consideravam este exercicio como uma verdadeira carniceria. Os estabelecimentos públicos e até os conventos, etc., tinham marcado as suas épocas de sangria e prescrita, com severidade extrema, a dieta que se devia então observar. Antes da sangrenta operação, os que iam submeter a ela, auguravam-se mutuamente bom êxito e felicitavam-se do resultado se tinham sido bem sucedidas. Para alguns tinha a operação as suas peripécias. Um eclesiástico daquele tempo assegura que se fizeram sangrar 4 vezes no ano, por espaço de 32 anos consecutivos, e que cada operação lhe tinha custado 8 onças de sangue, o que corresponde à enorme soma de 1024 onças.

Além das sangrias estavam em voga as sanguessugas, as ventosas, etc., etc. Para todos havia o seu processo especial, para os jovens e para os velhos, para os homens e para as mulheres, para os fidalgos e para a plebe.

Como mudam em tempos! Este processo considerava-se então como o Unum Necessarium, como a verdadeira, a única chave de saúde da vida, e entretanto que se pensa hoje a respeito de tudo isso? Não há quem não se ria dessa crença errónea dos nossos maiores, que julgavam que o homem podia ter sangue em demasia. Dois anos, faz, um médico estrangeiro autor de trabalhos científicos, e que segue uma das novas escolas da ciência médica, garantiu-me que nunca em dias da sua vida tinha visto sanguessugas; e não faltam médicos que atribuem o carácter anémico da geração presente ao enorme abuso que fizeram os nossos antepassados da sangria e das sanguessugas. Talvez tenham toda a razão; essa, porém, não é a única causa do mal.

Mas voltemos à vaca fria – como se diz vulgarmente – e ai vai a minha opinião clara e bem exposta. Tudo no corpo humano acha-se disposto com ordem e medida, e com tão admirável harmonia, que até os mais exigentes consideram este maravilhoso organismo como uma obra de arte, única em seu género, cuja concepção portentosa só podia existir na mente infinita de Deus e cuja execução era só possível à sua força criadora. A mesma ordem, a mesma medida e harmonia existe entre a produção e o consumo das substâncias necessárias à manutenção e conservação do corpo, uma vez que o homem livre, porém racional, faça uso correcto que Deus lhe confiou e não perturbe com abusos a ordem preestabelecida, destruindo assim a harmonia que todos admiramos.

Sendo assim, não se compreende como precisamente o sangue, o mais importante dos factores que compõem o organismo humano, tenha sido distribuído nele sem ordem, peso nem medida e que a sua acção não obedeça a leis bem definidas.

A meu ver, a criança recebe da mãe, ao nascer, juntamente com a vida, certa quantidade de substância sanguínea, essência ou como lhe queiram chamar, da qual se forma o sangue. Quando se acaba essa essência, cessa também a formação do sangue e com ela se apaga a vida. Sem sangue não há vida possível, e o anémico vive morrendo. Toda a perda de sangue, qualquer que seja a sua causa – ferida, sangria, ventosa ou sanguessugas – produz uma diminuição de essência vital, que traz consigo a abreviação da vida porque uma é condição essencial da outra. Objectar-me-ão que o processo da formação do sangue é muito rápido e que este se recupera tão depressa como se perde. A objecção é muito justa; porém a meu turno vou opor-lhe outro argumento, para cuja confirmação apelo para o testemunho dos lavradores. Quem quer engordar rapidamente um animal, sangra-o para tirar uma boa quantidade de sangue, é então que começa a época da ceva. Pouco tempo depois repete a sangria, com o que o quadrúpede engorda de um modo extraordinário e com suma rapidez. Ao cabo de 3 ou 4 semanas pratica a mesma operação, ministrando-lhe alimentação abundante e nutritiva; o animal engorda a olhos vistos e, embora velho, depressa adquire tão bom sangue e em abundância como um animal novo. Examinando, porém, de perto o sangue formado por esse processo artificial, veremos que é um líquido aquoso, esbranquiçado, insípido, impróprio para a vida. O animal carece de força e actividade, a sua existência é tão efémera que logo manifestar-se-á a hidropisia, se não for imediatamente abatido.

Não acontecerá o mesmo com o homem? Quem já passou os sessenta e adquiriu alguma experiência da vida, conhece muito bem a influência que o abuso da sangria exerce sobre as faculdades, aptidões e forças corporais dos filhos. O sacerdote de quem falámos acima e que perdeu tantas onças de sangue, morreu tísico na flor da idade. E se uma senhora se fez sangrar 300 ou 400 vezes (isto são factos), tornando-se assim fraca e doentia, será possível que não tenha deixado uma prole raquítica e predisposta para as convulsões e outros muitos males?

Não desconheço que pode haver casos sempre raros e excepcionais, em que, à míngua de outros meios eficazes, a sangria pode servir para conjurar um perigo iminente. Porém, fora desses casos, diga-me quem ainda não perdeu o uso da razão se prefere deixar cortar-se paulatinamente o fio da vida, ou, mediante a aplicação racional da hidroterapia, repartir e moderar de tal maneira o sangue que o mais pletórico tenha somente a quantidade do precioso liquido necessário para as funções da vida. No lugar oportuno exporemos os processos que se devem empregar para conseguir esse resultado.

Nada mais corrente do que a crença de que nos ataques apoplécticos não há outra solução senão a sangria. A este propósito lembro-me um caso em que o primeiro médico chamado para um doente aplicou-lhe logo uma sangria, ao passo que o segundo médico declarou formalmente que em consequência da sangria o doente morreria, o que de facto aconteceu. Geralmente não é o excesso de sangue que produz a apoplexia, como vulgarmente se julga, sem a falta deste liquido vital. Portanto as mais das vezes – morrer de apoplexia – é o mesmo que extinguir-se a vida por se haver esgotado o sangue, como se apaga a lamparina à míngua de azeite.

Na terceira parte revelaremos os incalculáveis benefícios que nos ataques de apoplexia presta a água.

Aqui apenas direi que o meu predecessor na paróquia sofreu três insultos apoplécticos e no terceiro o médico o desenganou. Pois bem, a água não só o salvou nessa ocasião, como o conservou ainda alguns anos aos seus paroquianos.









b) Banhos


  1. Banhos aos pés (pedilúvios).


Os pedilúvios podem ser frios ou quentes.


    1. O pedilúvio frio


Consiste em imergir na água fria, durante um a três minutos, as pernas até cobrir-lhes a barriga das pernas (até abaixo joelho).

Tratando-se de doentes servem estes pedilúvios principalmente para atrair o sangue e diminuir o seu fluxo para a cabeça e o peito. Quase sempre são empregados conjuntamente com outras aplicações sobretudo em casos em que o paciente por qualquer motivo não possa suportar outra classe de banhos.

Tratando-se de pessoas sadias servem para refrescar, fazer desaparecer o cansaço e fortalecer; pelo que se recomendam às pessoas do campo, na época do verão, quando em consequência do excessivo trabalho perdem o sono. Mitigam o cansaço, restabelecendo a tranquilidade e com ele um sono aprazível.


    1. O pedilúvio quente


Pode fazer-se de diferentes modos:


Deita-se na água quente (à temperatura de 25 a 26º R.) um punhado de sal e dois de cinza vegetal. Depois de bem misturado, toma-se o banho por espaço de 12 a 15 minutos.

Às vezes faço tomar este banho com uma temperatura de 30º R., porém sempre com a prescrição expressa de tomar logo em seguido outro de água fria, durante meio minuto somente.

Os banhos aos pés se recomendam, quando por fraqueza geral, falta de calor natural, ou outra doença, onde não se possam empregar aplicações frias e enérgicas, pois a água fria, à mingua do sangue, não pode desenvolver o calor necessário, isto é, não pode produzir a reacção.

Por conseguinte devem aplicar-se estes banhos às pessoas débeis, anémicas, nervosas, Às crianças e aos velhos, muito particularmente às senhoras; e a sua acção se faz sentir muito pronunciadamente nas alterações da circulação dos sangue, em congestões, dores de cabeça e garganta, ataques espasmódicos, e enfermidades semelhantes. Atraem o sangue para os pés e servem de calmantes; não se devem, porém aplicar às pessoas que são propensas a suores nos pés.

A gente do campo emprega com muita frequência os pedilúvios quentes conhecendo os seus excelentes resultados.




O pedilúvio com flores de feno (aplicar a planta toda, mas seca) é um bom reconstituinte. Numa vasilha com água fervendo deixam-se 3 a 5 punhados de flores de feno, tapa-se a vasilha e deixa-se arrefecer a água até à temperatura de 25 a 26º R.

É indiferente deixar as flores de feno no banho ou retirá-las.

Estes banhos exercem uma acção resolutiva e são, por conseguinte, ao mesmo tempo detergentes e confortantes; pelo que curam as doenças dos pés, o suor, os golpes de toda a classe, as contusões, com ou sem sangue, os tumores, a gota dos pés, as excrescências cartilaginosas e as supurações nos dedos, as calosidades ao lado das unhas, as feridas causadas pelo calçado, etc., etc. Em geral pode-se dizer que estes banhos são um remédio excelente para todos os que têm alguma doença nos pés, é uma arma poderosa para combater as impurezas do sangue.

Um cavalheiro sofria horrivelmente de gota, que lhe fazia soltar gritos horríveis. Um só pedilúvio destes, com a sua faixa correspondente, molhada no mesmo cozimento, mitigou as dores ao cabo de uma hora.


Com o banho aos pés com flores de feno tem grande analogia o pedilúvio com “palha de aveia”. Numa vasilha com água a ferver, coze-se durante meia hora, uns pedaços de palha de aveia, deixa-se arrefecer o cozimento até à temperatura de 25º a 26º R. e com este se aplica o banho, que deve durar de 20 a 30 minutos.

A experiência tem-me ensinado que esses banhos são muito eficazes quando se trata de resolver as calosidades ou durezas nos pés, quer sejam excrescências cartilaginosas, protuberâncias, tofos, etc., provenientes da gota; quer sejam calos, unhas encravadas, bolhas originadas pelo exercicio ou pelo calcado. Também as supurações e as feridas produzidas pelo suor excessivo curam-se com estes banhos.

Uma vez certo cavalheiro cortou um calo, sobrevindo-lhe logo no dedo uma grande inflamação de tão mau carácter que fez recear um envenenamento do sangue. Três pedilúvios de palha de aveia por dia, como também faixas e panos, envolvendo o pé até ao tornozelo, molhados no mesmo cozimento, curaram completamente o mal em 4 dias.

A um outro enfermo apareceu um inchaço nos dedos dos pés, de cor arroxeado e de tão feio aspecto, que parecia iminente uma total decomposição do sangue. Os banhos aos pés e as faixas em modo indicado fizeram desaparecer o perigo em pouco tempo.

Em alguns casos (veja-se o capitulo “banhos gerais quentes”) prescrevo conjuntamente com estes pedilúvios, como também com os banhos gerais quentes, a tríplice alternativa. O tratamento termina sempre, num e noutro caso, com o banho frio, à excepção do pedilúvio quente, à temperatura de 25 a 26º, com sal e cinza. Pois, tendo por objecto este pedilúvio atrair o sangue de cima para baixo, e distribui-lo proporcionalmente nas extremidades inferiores, um banho de água fria depois do quente só faria destruir o efeito deste último, repelindo de novo o sangue para a região superior, ao menos em grande parte, de sorte que não se lograria o resultado que se busca. Segue-se, portanto, que após um pedilúvio quente com sal e cinza não se deve tomar nunca um pedilúvio frio.


Não devo passar em silêncio outra classe de pedilúvios de natureza mais sólida que liquida. Quem tiver ocasião de os empregar não os despreze; usei-os frequentemente e com grande vantagem.

Numa gamela ou bacia própria para banhos de pés, deita-se malte de cevada, antes de arrefecer; metem-se dentro os pés durante 15 a 20 minutos. Ainda mais eficaz é o banho com o bagaço de uva, muito usado entre a gente do campo.

Estes banhos são indicados especialmente para quem sofre de reumatismo, de gota e doenças análogas.


Aqui devo fazer uma observação aplicável a todos os pedilúvios. As pessoas varicosas ou propensas à dilatação das veias, podem usar dois pedilúvios, porém a água deve chegar tão-somente à raiz da barriga das pernas, e a temperatura não deve exceder de 25º R.

Eu não prescrevo nem emprego nunca pedilúvios quentes com água pura, isto é, sem mistura de outra substância.


Meios-banhos


Chamo assim aos banhos parciais em que a água chega no máximo até à metade do corpo, ou até à região do estômago aproximadamente, ficando, em regra, abaixo deste nível; representam por conseguinte um meio-termo entre o banho geral e o pedilúvio, limites máximo e mínimo, que às vezes não se podem aplicar com vantagem.

Podem usar-se de três maneiras diferentes:


1) Permanecendo o banhista de pé na água de modo a que esta cubra a barriga das pernas ou também os joelhos.

2) Ajoelhando-se dentro de água, de modo que esta lhe cubra completamente as pernas inclusive as coxas.

3) Sentando-se dentro de água de maneira que esta chegue até metade do baixo-ventre e até À região do umbigo (3 dedos acima do umbigo – dedo indicador – ponto de flor de lótus). Este terceiro modo de aplicação é que é propriamente o meio banho ou banho aplicado à metade do corpo.


Estas três classes de banho devem-se tomar com água fria e considerar como um dos melhores reconstituintes e fortificantes. Por consequência recomenda-se o seu emprego às pessoas sadias que quiserem fortalecer-se mais, às debilitadas que tenham necessidade de recobrar as forças, e aos convalescentes que quiserem recuperar de toda a saúde. As pessoas doentes devem tomá-los somente quando forem expressamente prescritos, aliás o resultado poderia ser-lhes prejudicial.

De qualquer maneira que forem empregados, tanto para as pessoas sadias como para as doentes, constituem os meios-banhos um tratamento incompleto, parcial, e por isso devem ser sempre empregados com outras aplicações, a sua duração não excederá os 3 minutos, e não será nunca menor de meio minuto.

De ordinário tenho empregado as duas primeiras classes destes banhos, com excelentes resultados, em pessoas que por causas diversas, achavam-se reduzidas a um estado de extrema debilidade. Não me deterei a enumerar essas causas, apenas direi que há muitíssimos pacientes que não podem logo a principio suportar a pressão da água nos banhos gerais; podia citar centenas de exemplos de pessoas de todas as classes sociais. Foram precisamente esses doentes, reduzidos a um estado de extrema debilidade, os que me inspiraram o uso destas duas aplicações; porquanto o seu estado reclamava um tratamento prudente e às vezes era forçoso prolongá-lo por várias semanas até que tivessem recuperado parte das forças perdidas e pudessem suportar a pressão da água em todo o corpo. A estas duas classes de banhos de quer acabo de tratar, vai unindo, por via de regra, outro exercício confortante: a imersão dos braços, até aos ombros, na água fria (Vide “Banhos parciais”). Este duplo tratamento, eu o prescrevo não somente para fortalecer o organismo todo como também para combater a frialdade dos pés.

A terceira classe desses banhos – ou meio banho propriamente dito – merece especial atenção, e recomendo-o encarecidamente às pessoas que gozam boa saúde.

O emprego deste banho combate, na sua origem, as enfermidades e debilidades do baixo-ventre que não têm outra causa senão o enervamento das forças produzidas por uma educação efeminada. Estes banhos vigorizam o organismo, conservam e aumentam as forças em toda a região inferior do corpo por mais debilitadas que estejam. Suprem, portanto, com grande vantagem, as faixas em duas ou mais dobras, com que milhares de pessoas oprimem o baixo-ventre, e que parecem destinadas a impedir que a doença possa separar-se do mísero corpo humano. Experimente-se animosamente esta nossa aplicação e ver-se-á como diminuem de um modo sensível as hemorróidas, as cólicas ventosas, a hipocondria, o histerismo, e todo esse cortejo de enfermidades que têm a sua sede no baixo-ventre onde fazem estragos sem conta.

As pessoas sadias recomendo-lhes que, ao levantarem-se pela manhã, se lavem a parte superior do corpo e que à tarde tomem este meio banho. Se não têm tempo para esta loção pela manhã, façam-na quando tomam o banho à tarde.

Para terminar, citaremos alguns exemplos que servirão para esclarecer o uso destas três aplicações nos casos de doença.

Um jovem em consequência do tifo, tinha perdido as forças de tal maneira que não podia empreender o mais leve trabalho. Por espaço de muito tempo, de dois em dois ou três dias, permanecia ajoelhado na água, a princípio um minuto, e depois dois a três minutos. De semana em semana foi recobrando as forças até que voltou ao seu estado primitivo.

Outro doente sofria de fortes congestões (disso dão-se frequentes casos que têm a sua origem no baixo ventre). Um dia lavava bem a parte superior do corpo e no outro tomava banho ajoelhando-se na água ao fim de alguns dias via-se livre do hospedo importuno.

Não é inferior a sua eficácia para combater os incómodos de estômago que provém de flatulências ou gases ali detidos; este banho é o específico mais específico para expulsar esses gases, ordinariamente molestos resíduos de graves enfermidades.


III – Banhos de assento ou semicúpios


Estes banhos podem ser frios ou quentes.


  1. Semicúpio frio


Toma-se da seguinte maneira: enche-se de água fria, até à quarta ou quinta parte da sua altura, a vasilha destinada para o banho, e, na falta desta, qualquer recipiente de madeira ou plástico pouco fundo. O banhista despe-se, senta-se na banheira de modo que a água o cubra desde a parte superior das coxas até à região dos rins, ficando fora de água o resto do corpo, conforme se vê na figura. Por isso muitos não se despem completamente. Este banho dura meio minuto a 3 minutos.

Os semicúpios são remédio assaz eficaz contra todos os males do baixo-ventre e actuam como laxantes, expelem os gases, favorecem a digestão, auxiliam a evacuação, regularizam a circulação do sangue; são também confortantes, pelo que se recomendam para combater a clorose, os fluxos e hemorragias e enfermidades e análogas, como todas as doenças do baixo-ventre de qualquer classe que sejam. Não há que recear o uso deste banho, durando um ou dois minutos, porquanto tomado conforme é prescrito não pode causar dano algum.



Para evitar constipações, fortalecer-se e tornar-se insensível às frequentes mudanças de temperatura, tomem-se com frequência estes semicúpios ou ao deitar-se ou algum tempo depois de se ter deitado; assim poupa-se o trabalho de despir-se, e mais fácil e rápida se torna a reacção, lembrando-se da recomendação de não enxugar o corpo. Contudo não se devem tomar estes banhos mais de duas ou três vezes por semana, porquanto o uso excessivo dos mesmos faria afluir o sangue para as partes inferiores produzindo porventura desarranjos hemorroidais.

Quem sofre de insónia e não pode conciliar um sono tranquilo, o que desperta a miúdo durante a noite, tome um semicúpio frio. Este banho, de um ou dois minutos de duração acalma a irritação nervosa e produz um sono sossegado.

Um indivíduo tinha perdido o sono de tal modo que quase nunca conseguia dormir mais que uma ou duas horas, resolvendo-se na cama o resto do tempo, no meio de uma grande excitação nervosa. Este banho restitui-lhe com a tranquilidade o sono aprazível.

Quem se levantar pela manhã com peso de cabeça, e sentir-se mais cansado do que estava ao deitar-se, fará desaparecer este incómodo com o banho de assento.

Finalmente não me cansarei de recomendar o seu emprego às pessoas sadias.


  1. Semicúpio quente


Não o emprego nunca com água pura, de ordinário misturo com a água quente um cozimento das seguintes ervas que dão o nome ao banho:


  1. Cavalinha (Equisetum arvensis);

  2. Palha de Aveia (Avena sativa);

  3. Flores de feno.


A preparação é a mesma para as três classes de banhos. Numa vasilha com a erva medicinal deita-se água a ferver, faz-se ferver o liquido algum tempo, depois do qual se retira o recipiente do fogo, deixa-se arrefecer o cozimento a 25 ou 26º R., raras vezes até 30º; despeja-se então na banheira e toma-se o banho, que não deve durar mais do que quinze minutos; o mesmo cozimento pode servir para outras duas ou três aplicações. A segunda que será fria efectuar-se-á 3 ou 4 horas depois da primeira, e a terceira, também fria, uma hora depois da segunda.

Estes dois banhos frios não devem demorar mais de um a dois minutos.

Estes semicúpios devem-se tomar, quando muito, 3 vezes por semana, e se tomarão mais frequentes somente alternando-os com banhos frios, ou também quando for preciso debelar incómodos muito arraigados, como hemorróidas inveteradas, fistulas no recto, desarranjos do intestino cego (cecum).

As hérnias ou quebraduras não impedem de se tomar estes banhos. Vejamos agora os usos especiais de cada classe.


  1. O de cavalinha serve principalmente para combater os ataques espasmódicos e reumáticos dos rins e da bexiga, os males da pedra e cálculos, e todas as moléstias das vias urinárias.


  1. O de palha de aveia é excelente remédio para os padecimentos da gota.


  1. O de flores de feno tem aplicações mais gerais, porquanto, na falta das duas ervas anteriores, supre-as em todos os incómodos acima mencionados do baixo-ventre posto que menos eficazmente. Em compensação, porém é um poderoso agente para resolver os enfartes do baixo-ventre e toda a classe de tumores e inchaços exteriores; para combater herpes, a zona, a prisão de ventre, as hemorróidas, as afecções espasmódicas e cólicas ventosas.


IV – Banhos gerais


Os banhos gerais ou de todo o corpo, dividem-se igualmente em duas classes: frios e quentes. Ambos são aplicáveis tanto aos doentes como às pessoas que gozam saúde.


    1. Banho geral frio


Toma-se de dois modos: o banhista sentado ou de pé, imerge o corpo todo na água fria, ou imerge o corpo tão somente até aos sovacos de modo que a base dos pulmões fique fora do liquido para evitar que sofram a pressão da água (embora não haja nisso o maior perigo) e neste caso lava-se rapidamente a parte superior do corpo com as mãos ou com um pano grosso.

Em caso algum devem estes banhos durar mais de 3 minutos nem menos de 30 segundos.

No decurso deste trabalho terei ensejo de expor novas razões em apoio desta minha opinião; por ora basta observar que 20 anos atrás seguia eu uma opinião diametralmente oposta, marcando maior duração para estes banhos, na firme convicção de que se não podia adoptar outro sistema.

Uma longa experiência, porém, fez-me mudar de parecer, e avisadamente, conforme creio. Esta grande mestra da vida tem-me ensinado que, em relação aos banhos frios, deve seguir-se como norma invariável o princípio: Quanto mais curto é o banho, maior é a sua eficácia. Por conseguinte quem se demora um só minuto na água procede com mais prudência do que o que nela se conserva 5 minutos. Por isso reprovo todo o banho frio que passar dos três minutos, quer seja usado por pessoas sadias quer por doentes.

Esta minha opinião é confirmada por inúmeros factos; pelo que reprovo os processos rudes que se põem em prática em alguns estabelecimentos hidroterápicos, como também o abuso que se faz dos banhos no verão.

Nesta estação há muitos que tomam um ou dois banhos diários, de meia hora cada um pelo menos.

Tratando-se de bons nadadores que fazem bastante exercício e após o banho tomam alimento substancioso, nada há que objectar, portanto o seu organismo torna a haver o que lhe havia tirado o banho; para aqueles, porém, que não sabem nadar e que passam a meia hora acorados na água, como o cágado debaixo da concha, o banho não lhes aproveita, se é que não os prejudica, como muito bem pode acontecer se o abuso se prolonga. Banhos desta natureza debilitam as forças e produzem o cansaço. Em vez de fortalecerem o organismo, o enervam, em lugar de robustecer e alimentar, gastam e consomem.


  1. Banho geral frio para as pessoas sadias


De diversas partes me têm vindo observações, fazendo-me notar que o uso da água fria ocasiona diminuição de calor, o que é muito prejudicial às pessoas anémicas, produzindo sempre irritação dos nervos.

Concordo com esta observação se se trata das aplicações rudes a que há pouco me referi; porém os banhos que eu prescrevo, podem aplicar-se principalmente às pessoas que gozam de saúde, em qualquer época do ano, tanto no inverno como no verão; e posso garantir que os mesmos contribuem poderosamente para fortalecer e conservar a saúde; limpam e estimulam a pele, refrescam, reanimam e fortificam todo o organismo. Quanto ao número, devem-se tomar, no inverno, dois banhos por semana, quando muito; em geral basta tomar um de 8 em 8 dias e até de 15 em 15 dias.

Resta-me tocar ainda em dois pontos.

Um dos meios mais seguros para conservar a saúde consiste em acostumar a natureza a suportar o frio e o calor, a resistir às mudanças bruscas de temperatura. Infeliz aquele que sente a influência de mais leve aragem, e cuja garganta e pulmões se ressentem da menor alteração atmosférica, vendo-se obrigado a cada instante a consultar a direcção do cata-vento. A árvore criada é intempérie, resiste tanto ao frio como ao calor; à calma como à tormenta; o hábito endureceu-a. Quem se acostuma a tomar o nosso banho, tornar-se-á robusto como a árvore criada ao ar livre.

A ideia da perda do calor é como que o pesadelo que infunde a muitos pavor e medo às aplicações da água fria. O frio – assim se diz – debilita forçosamente se não vier logo a reacção. De acordo. Mas além do exercicio activo que se prescreve logo em seguida a toda a aplicação de água fria, os banhos como eu os indico, longe de roubarem calor, o conservam e fomentam. Em lugar de raciocínios, formulemos uma simples questão: se um indivíduo doente e debilitado por falta de exercício a ponte de se não atrever a subir à rua no inverno, se não em caso de estrema necessidade, consegue fortalecer-se por meio dos banhos ou loções frias podendo assim desafiar o calor e o frio e tornando-se insensível às intempéries, não é claro, pergunto eu, que esse individuo aumentou também em calor natural? Ou será tudo isso ilusão e farsa?

Apontarei aqui um exemplo dentre milhares que poderia citar:

Um cavalheiro que passava dos 60 anos, era inimigo encarniçado da água. O seu único cuidado, ao sair de casa, era não esquecer nenhuma das mantas de lã com que se agasalhava; porque, lá no seu entender, esse descuido acarretar-lhe-ia toda a classe de constipações e catarros. Sobretudo aterrorizava-o a ideia de que o pescoço poderia constipar-se e não sabia já como abrigá-lo do ar e que cuidados prodigalizar-lhe.

A este ponto tinham chegado as coisas quando ele se achou um dia diante do “bárbaro” hidroterapeuta, o qual com sorriso malicioso lhe ordenou que tomasse os banhos frios, como acabámos de indicar. O velho cavalheiro obedeceu como um autómato. E as consequências? Estas foram eminentemente favoráveis. Ao cabo de poucos dias pôde livrar-se da primeira manta: a série interminável de camisa e camisolas de lã e flanela, foram a pouco e pouco desaparecendo, e o mesmo destino tiveram as mantas e os cachenés em que estufava o pescoço. Com o tempo chegou a julgar perdido o dia em que não tomava o seu banho de água fria, tamanho era o bem-estar que sentia sob a sua influência e tão insensível se tinha tornado aos rigores do tempo. E o mais singular é que ainda no mês de Outubro, é hora do passeio, costumava banhar-se no rio, porque a água fria da corrente lhe parecia mais agradável do que a banheira em casa.

Eis aqui os principais pontos que se devem ter em vista para tomar estes banhos.

Em que estado ou disposição há de achar-se o corpo de uma pessoa sã, para poder tomar com vantagem os banhos gerais frios?

Quanto tempo deve uma pessoa sadia demorar-se no banho geral frio?

Qual é a estação do ano mais apropriada para se começar este tratamento hidroterápico?

O uso dos banhos frios exige, como condição absolutamente necessária, que todo o corpo esteja quente.

Por conseguinte acha-se nas condições exigidas, aquele que tenha aquecido o corpo ou pelo trabalho ou pelo exercício ou finalmente por ter permanecido em algum quarto quente.

Quem pelo contrário, sentir frio, ou tiver frios os pés deve abster-se de semelhantes banhos enquanto por meio de exercício não tiver cobrado o calor normal. Em compensação, quem de boa saúde, estiver transpirando ou ainda alagado em suor, pode tomar sem receio o nosso banho frio.

Pessoas criteriosas e de grande experiência consideram altamente prejudicial tomar um banho frio quando se está com o corpo quente ou suando. Entretanto nada há mais inocente. Ainda mais, não hesito em assentar o princípio seguinte comprovado por larga experiencia: Quanto mais abundante for o suor, mais eficaz será o banho.

Um sem número de pessoas que julgavam sucumbir a um ataque de cabeça em consequência de tão “brutal tratamento” perderam o medo e dispuseram os prejuízos depois de uma só prova (quem se tiver molhado por efeito da chuva, abstenha-se do banho, porque com certeza não lhe assentará bem. Convém notar também que a roupa que se há de vestir depois do banho deve estar bem enxuta).

Haverá alguém que, ao voltar para casa, coberto de suor e pó, tenha receio de lavar as mãos e o rosto, e até o peito e os pés? Absolutamente ninguém, porque todos sabem que isso conforta e alivia. Sendo assim, porque não há de produzir o banho o mesmo efeito benéfico em todo o corpo? Como admitir que uma coisa que assenta bem às diversas partes e lhes faz benefícios, há de ser tão prejudicial ao todo?

Quer-me parecer que a ideia errónea e o temor infundado de que os banhos frios prejudicam a quem os toma suando, provém principalmente do facto que pessoas banhadas em suor, por se exporem ao ar frio ou a alguma corrente de ar, buscaram-se graves enfermidades, arruinando a saúde para toda a vida.

Vou ainda mais longe, e concedo que muitos ao meterem-se a suar na água fria, adquiriram os germes de graves doenças. Mas onde está a verdadeira causa disto? O suor? O banho frio? Nem uma nem outra coisa. Como em todas as coisas da vida, assim também aqui neste particular, a questão particular não é o que? Mas o como? Isto é, a maneira de fazer uso da água fria estando-se suado. Não pode por ventura um louco furioso causar males incalculáveis com uma simples faca de mesa ou um canivete? Assim a imprudência ou falta de cuidado pode tomar nocivo e maléfico o remédio mais salutar. E, pois singular que nesses casos só condenem sempre o uso e não os abusos que se cometem.

Como quer que seja, tudo depende da boa ou da má aplicação do tratamento; quem prefere seguir os seus caprichos, que aguente as consequências da sua leviandade.

Passo agora a responder à seguinte questão:

Que tempo deve durar o banho geral frio para uma pessoa sadia?


Um cavalheiro a quem eu tinha prescrito dois destes banhos por semana, apresentou-se-me ao cabo de quinze dias queixando-se de que o seu estado de saúde tinha piorado e que parecia uma estátua de gelo.

Com efeito o seu aspecto era lastimoso e eu não podia capacitar-me como a água me pudesse de um momento para o outro pregar-me essa peça. Perguntando-lhe eu se tinha observado em tudo as minhas instruções, respondeu-me: “Observei-as à risca, e ainda fiz mais do que você me recomendou; em lugar de um minuto permanecia 5 minutos; mas de então para cá não me foi possível tornar a aquecer-me”. Desde aquele dia tratou de emendar a mão e não tardou muito a recobrar o calor natural perdido.

Este facto verdadeiro dá por si só a razão de todos os casos em que a água produz resultados desfavoráveis. Bem se vê claramente que não é a água nem o tratamento em si mesmo, senão as imprudências e caprichos dos homens que dão lugar a estes resultados; porém é muito mais fácil e cómodo lançar a culpa toda à conta da água!

Para se tomar banho geral frio é preciso despir-se rapidamente e permanecer apenas um minuto na água. Se o banhista até suando, senta-se na banheira de modo que a água o cubra até três dedos acima do estômago, lavando ao mesmo tempo depressa a parte superior do corpo, saia imediatamente do banho, e vista-se logo sem enxaguar o corpo. O operário e o trabalhador do campo podem voltar para as suas ocupações; as outras pessoas devem fazer movimento durante quinze minutos ao menos, até que o corpo esteja enxuto e tenha readquirido o calor natural. É indiferente que o seu exercicio se faça dentro de casa ou ao ar livre; eu prefiro este último ainda no inverno. Em tudo quanto fazes, caro leitor, procede racionalmente e não ultrapasses nunca a justa medida. Regra geral não se devem tomar mais de três banhos gerais por semana.

Qual a melhor época para se começar o uso dos banhos frios?

Nunca é cedo demais para se dar começo à importantíssima operação de fortalecer o corpo, que é o mesmo que preservá-lo das enfermidades e pô-lo em estado de defesa tornando-o capaz de resistência. Portanto hoje mesmo mete mãos à obra, não começando, com os tratamentos mais enérgicos, que poderiam talvez fazer-te perder a coragem. Apôs algumas aplicações preparatórias, estarás em condições de poder tomar os banhos frios, se a tua constituição é robusta: do contrário a preparação deve ser mais demorada.

Importa muito não perder isto de vista; seria loucura pretender atacar um mal com os tratamentos hidroterápicos mais energéticos, sem ter antes aplainado o caminho com algumas das aplicações mais brandas.

Um médico recomendou a certo doente, que sofria de febre nervosa, que se metesse na água fria durante quinze minutos. Assim fez o paciente, sentiu, porém, tais temores de frio que não quis ouvir falar mais em semelhante banho, do qual dizia cobras e lagartos. O médico declarou então que do resultado da experiência se devia concluir que a água não fazia bem ao enfermo, não sendo conveniente repetir o tratamento, e que, além de tudo, a doença era incurável. Desenganado com esta sentença de morte, veio ter comigo o doente. Aconselhei-o a que fizesse segunda experiência com a água, porém, que se demorasse nela apenas dez segundos (entrar e sair logo). O resultado foi muito outro; em poucos dias o doente estava curado de tudo.

Diante de factos desta natureza cheguei a pensar que se receitava o uso da água dessa forma violenta e desarranjada com o propósito deliberado de fazer com que o público tome aversão e medo às suas aplicações. Bem sei que sou um esquisito, e estou certo que o leitor não dará grande peso a este meu modo de encarar as coisas.

Como quer que seja, que se propuser a fazer um ensaio sério do meu processo, deve começar pelas aplicações brandas, próprias para fortalecer o corpo, depois das quais seguir-se-ão as loções gerais, que devem efectuar-se de manhã ao levantar-se, ou melhor à noite ao deitar-se, se ao paciente não causarem insónia e agitação. Quer se façam à noite quer de manhã, não há nisso a menor perda de tempo porquanto as loções duram apenas um minuto. Se pela manhã, logo apôs a loção, não vos é possível entregar-vos ao trabalho ou fazer exercício, deitai-vos durante um quarto de hora, para que o corpo se enxugue e adquira o calor natural.

Semelhante exercício posto em prática duas e quatro vezes por semana é o melhor preparativo para o nosso banho geral frio. Faça-se uma só experiência, e ver-se-á como a impressão desagradável do primeiro momento segue-se logo uma sensação de bem-estar, e o que antes causava aversão e temor, tornar-se-á em breve uma necessidade.

Um cavalheiro meu conhecido tomou, durante 18 anos, todas as noites um banho geral frio. Eu não lho tinha prescrito; ele, porém, não quis nunca abrir mão desse exercício, e com razão, porque durante todo esse tempo não esteve doente uma hora sequer.

Os outros assentava-lhes tão bem o banho, que não se contentavam com menos de três todas as noites; e foi preciso que eu interviesse proibindo-lhes esse abuso. Em todo o caso estes factos provam que o tratamento não é tão “Arrepiante! Nem tão molesto como alguns crêem.

Quem de veras se propõe a fortalecer o seu organismo e a conservar a saúde, não encontrará remédio mais eficaz; por conseguinte mãos à obra e nada de vãos propósitos.

Os povos vigorosos, as famílias e as gerações robustas tiveram em grande estima os banhos de água fria.

Quanto mais o nosso século se vai efeminando, tanto mais urge voltarmos aos hábitos e princípios sãos e racionais dos nossos maiores. Há ainda famílias, e das mais distintas pela sua posição social, que conservam como tradição doméstica justamente o nosso método hidroterápico, considerando-o como um dos principais factores do desenvolvimento das forças e, por conseguinte, como elemento principal da educação. Não há, pois, motivos para nos envergonharmos da nossa causa.


  1. O banho geral frio para doentes


Na terceira parte, quando tratar das diversas enfermidades, determinarei quando e como deve ser aplicado o banho geral frio. Aqui limito-me a algumas observações gerais.

As naturezas sãs e os organismos robustos possuem em si mesmos a força suficiente para eliminarem os elementos mórbidos; pelo contrário as naturezas enfermas ou debilitadas pela enfermidade necessitam do concurso de outros agentes para conseguirem esse resultado; um dos mais poderosos é o banho frio, excelente auxílio e poderoso reconstituinte.

O banho frio tem a sua aplicação principal nas afecções febris, isto é, em todas as doenças que vêm acompanhadas ou precedidas de febre muito alta. Esta começa a causar apreensões quando alcança 39 a 40º, porque debilita em extremo, abraça e consome o corpo humano. Muitos que escapam da enfermidade, sucumbem à míngua de forças. O método expectante, que consiste em esperar pelos resultados do terrível incêndio, parece-me coisa por demais perigosa e cheia de séries consequências. Que efeito pode produzir então a receita de uma colher de hora em hora ou da quinina tão cara, ou da antipirina que está ao alcance de todas as bolsas, ou da digital venenosa e cujas consequências para o estômago são tão funestas? Quando a febre alcançou esse grau de intensidade, todos esses medicamentos não passam de paliativos e meios muito fracos para combater o ardor violento. E que diremos dessas substâncias tóxicas que, injectadas no corpo do paciente, produzem-lhe uma embriaguez artificial tornando-o completamente insensível e inconsciente? A parte da questão moral e religiosa, causa dó e lastima ver o doente assim tratado jazendo no leito, o rosto desfigurado, os olhos inquietos. E para quê? Não parece mais racional que o que urge fazer em tais casos é apagar o fogo da febre? Os incêndios extinguem-se com água; o excessivo calor do corpo, onde tudo parece estar em chamas, extingue-se de vez por meio do banho geral. A cada novo acesso, isto é, logo que o calor e a ânsia aumentam de intensidade, repete-se a operação de meia em meia hora, e, aplicada a tempo a água fria acabará por diminuir o incêndio (vide inflamações, escarlatina, tifo, etc.). Há tempos ouvi dizer que nos grandes hospitais se usavam os banhos em lugar da quinina, para evitar as grandes despesas que ocasiona o emprego desta substância; li também ultimamente nos periódicos, com grande satisfação minha, que nos hospitais militares da Áustria se combatem com a água fria várias enfermidades, entre as quais o tifo. O que eu não cheguei ainda a compreender, é que se aplique o tratamento hidroterápico ao tifo e não se faça o mesmo, como aconselha, em todas as enfermidades que têm análoga precedência. Por isso muitos, ainda dos que professam a arte médica, esperam com impaciência essa prova de coerência e bom senso.

Devo fazer aqui uma observação que mais cabimento teria no capítulo das loções. Nem todos os doentes estão em condições de tomar banhos gerais; alguns nem sequer se podem mover da cama por falta de forças. Devem por isso os coitados renunciar ao benefício da água fria? Certamente que não. As nossas aplicações são tão variadas e oferecem tantas gradações, que qualquer pessoa, por mais fraca que esteja, encontrará nelas o que mais convenha ao seu estado. O que importa é saber escolher com acerto.

Se se trata de pessoas gravemente doentes, que não podem tomar o banho geral frio, supre-se este com as loções gerais, que se podem aplicar na cama, conforme notaremos quando tratarmos das loções. Estas repetem-se, do mesmo modo que os banhos gerais, todos as vezes que a febre acusa uma temperatura elevada. Nas doenças graves, evita-se qualquer tratamento severo, com o qual nada mais se faria do que agravar o mal.

Muito a propósito, poderia eu citar aqui o nome de um doente que havia onze anos jazia prostrado, preso à cama e sob tratamento médico. Tentaram-se também diversas aplicações hidroterápicas, porém tudo me vão. Mediante a aplicação do meu sistema, curou-se em seis semanas. O médico teve de confessar que a cura lhe parecia um milagre e veio pessoalmente perguntar-me como eu conseguira; pois, no seu entender, não havia naquele corpo a menor sombra de actividade, não tendo por isso as suas aplicações hidroterápicas produzido resultado algum. Dei-lhe a conhecer o processo e as aplicações simplicíssimas que tinha posto em prática. Isto fez-lhe compreender que nãos e precisa de uma manga para apagar cavacos em chamas; o seu tratamento tinha sido demasiado rude e precipitado; o meu, porém, suave, moderado, lento e de acordo com as forças e resistências do mísero corpo enfermo.

Sinto-me tomado de indizível compaixão toda a vez que ouço falar em doentes que por espaço de dez, vinte anos e mais, não puderam abandonar o leito da dor. Na verdade essas criaturas são bem dignas de lástima, e, salvo alguns casos excepcionais, não compreendo como isso se possa dar; também a Sagrada Escritura faz menção de um doente que suportou a sua enfermidade por espaço de 36 anos.

Estou profundamente convencido que muitos desses infelizes condenados a passar anos e anos no fundo de uma cama, poderiam reaver a saúde com uma simples aplicação da água, continuada com pontualidade e perseverança.







    1. O banho geral quente


Aplica-se como o banho frio, Às pessoas sadias e aos doentes. Pode-se tomar de duas maneiras:



Numa banheira cheia de água quente (a), senta-se o paciente de modo que a água lhe cubra todo o corpo, sem que parte alguma fique fora do líquido. Depois de permanecer, no banho de 25 a 30 minutos, passa logo para uma segunda banheira (b) que contém água fria, tendo, porém o cuidado de não mergulhar a cabeça.

Na falta da segunda banheira, lava-se o paciente todo o corpo com água fria, com a presteza possível, de modo que esta operação não deve durar mais de um minuto. Sem enxaguar o corpo, veste-se e faz exercicio durante meia hora pelo menos, até que o corpo esteja enxuto completamente e tenha adquirido o calor natural. Este exercicio pode-se fazer ao ar livre ou em casa. O trabalhador pode voltar imediatamente para as suas tarefas habituais. A água do banho quente deve ter uma temperatura de 26 a 28 º para as pessoas robustas; para as pessoas idosas, a temperatura de 28 a 30º R.

Convém medir exactamente a temperatura por meio de um termómetro que se deixará algum tempo dentro da água para se obter uma medida precisa.

É desnecessário dizer que a pessoa encarregada de preparar o banho, deve desempenhar-se escrupulosamente da sua tarefa. Nunca se devem evitar tanto os descuidos e desacertos como quando se trata de prestar serviços aos enfermos.

Vejamos agora o outro processo que se pode seguir para tomar o banho geral quente.

Enche-se a banheira, como da primeira vez, com água à temperatura de 30 a 35º R, tendo sempre presente que não deve baixar de 28º nem exceder de 35º (em que casos se deve chegar a este grau, será expressamente indicado no lugar oportuno). Eu marco, como termo médio, 31 a 33º R.

Este banho, porém, consta de três imersões na água quente alternadas com outras tantas na água fria, pelo que chamo – banho geral quente de tríplice imersão ou de tríplice alternativa. A sua duração é de 33 minutos exactos, entre os quais se repartem as diversas imersões do seguinte modo:


10 minutos na água quente.

1 minuto na água fria.

10 minutos na água quente.

1 minuto na água fria.

10 minutos na água quente.

1 minuto na água fria.


O banho deve acabar sempre pela imersão na água fria. As pessoas robustas e sadias sentam-se na banheira da água fria e imergem pouco a pouco todo o corpo até ao pescoço; as que são muito sensíveis e delicadas, depois de sentarem, lavam-se rapidamente o peito e as costas (isto é, com as mãos deita-se água sobre os ombros de modo que corra ao longo das costas) sem mergulhar. O banho de água fria, pode-se suprir por uma loção de todo o corpo. Não se molha nunca a cabeça; e se isso acontecer, deve-se enxugá-la imediatamente ao sair do banho, como também se enxugarão as mãos, para que não molhem a roupa ao vestir-se.

Quanto ao mais, especialmente quanto ao exercício subsequente ao banho, observem-se as prescrições dadas para o banho da água fria. Julgo oportuno acrescentar aqui algumas observações.

Não prescrevo nunca banhos quentes exclusivamente, isto é, sem que sejam seguidos de banhos ou de loção fria; porque aqueles, se são de alguma duração, longe de fortalecerem, esgotam o vigor e debilitam o organismo; em vez de endurecerem a pele, tornam-na muito mais sensível ao frio, aumentando por conseguinte o perigo em vez de afastá-lo. É coisa sabida que a água quente abre os poros, e correr-se-ia grave perigo, se por eles chegasse a penetrar o ar. Todos esses inconvenientes evitam-se com os banhos ou as loções de água fria que seguem ao banho quente; é por isso que nunca prescrevo estes sem aqueles.

Por outro lado a água fria conforta, mitiga o calor elevado, refresca, e ao mesmo tempo que protege o corpo fechando os poros, fortifica a pele.

Aqui temos contra nós de novo o prejuízo que existe contra a passagem rápida do calor para o frio.

Entretanto precisamente por causa do banho frio subsequente é que se deve elevar a temperatura do banho quente acima da normal e ordinária. Por esse meio o corpo se acha saturado de calor, e em condições de poder muito bem suportar a impressão da água fria. Não obstante, quem sentir horror invencível ao banho frio, supra-o a primeira vez com uma loção geral e logo perderá o medo. Tudo depende do primeiro ensaio; quem o tiver feito, não tomará um banho temperado sem o banho frio subsequente. Muitos que a principio sentiam essa aversão, acostumaram-se logo de tal modo a essa mudança brusca, e acharam-lhe tanto prazer, que me foi preciso refrear-lhes os ímpetos e impor-lhes certos limites, para que abusando não se prejudicassem.

Ninguém se arreceie do formigamento e da comichão que sente na pele, especialmente nos pés, ao passar do banho temperado para o frio; bem depressa se converte numa espécie de fricção agradável.

Quando se tomam alternadamente esses banhos, como ficou descrito, não são necessários preparativos preliminares de espécie alguma, como por exemplo, para restabelecer a temperatura normal do corpo.

Como em todos os banhos quentes em geral, assim também nos banhos alternados não emprego nunca água pura (a não ser raras vezes para as pessoas sadias), mas adiciono-lhe sempre algum cozimento de ervas medicinais.


  1. O banho geral quente para pessoas sadias


Se alguma vez prescrevo banhos quentes às pessoas que gozam boa saúde, porém de compleição débil, é porque estas mostram certa renitência aos banhos frios, e com a loção que segue ao banho quente, vão-se habituando insensivelmente à água fria.

Quanto a este ponto, eis o meu modo de proceder e os meus princípios.

As pessoas fortes e sadias, cujo aspecto indica que têm sobra de calor no corpo, não lhes receito banhos quentes senão em casos muito excepcionais.

De resto nem elas mesmas sentem a necessidade de tais banhos, e, como os peixes, suspiram pela água fria.

Ao contrário recomendo esses banhos às pessoas jovens, débeis, anémicas e nervosas, e particularmente aquelas que são propensas a ataques espasmódicos, reumatismos e doenças análogas. Aqui devo fazer menção em primeiro lugar das mães de família que, em consequência dos trabalhos da vida, já nos primeiros anos se acham extenuadas e expostas mais do que ninguém a esses males.

Para estas bastará um banho quente uma vez por mês, de 28º R. de temperatura, e de 25 a 30 minutos de duração, com a loção fria subsequente.

Os que são propensos a reumatismo articular, a gota devem tomar dois banhos mensalmente.

O verão é a época mais adequada para as pessoas jovens estrearem os banhos frios.

As pessoas fracas bem como aos velhos recomendo com insistência um banho quente mensalmente, à temperatura de 28 a 30º R. de 25 minutos com a loção fria subsequente, que, como sempre, serve de reconstituinte. Este banho não só contribui para manter o asseio como também fortalecer o organismo e refrescar o corpo. Quem observar com perseverança este costume, verá acrescer as suas forças à medida que a transpiração vai aumentando e a circulação do sangue tornando-se mais activa.


  1. Banho geral quente para doentes


Em que doenças se deverão recorrer aos banhos quentes gerais?

A esta pergunta responderemos na terceira parte deste livro quando nos ocuparmos das diferentes enfermidades. Aqui bastará observar que o emprego destes banhos não oferece perigo algum, se se aplicam com as devidas precauções.

Dois fins se alcançam com o uso destes banhos: aumentar o calor natural do corpo, ou dissolver e segregar substâncias que o organismo enfraquecido não poderia eliminar pelas suas próprias forças.

Conforme as substâncias com que se preparam, recebem estes banhos diferente denominação, a saber:

Banhos de flores de feno;

Banhos de palha de aveia;

Banhos de botões, flores e raminhos de pinheiro;

Banhos mistos;


Quanto à preparação e às aplicações dos dois primeiros, prevalecem as mesmas prescrições dadas para os banhos de assento ou semicúpios quentes. Para mais esclarecimento ampliamos aqui alguns pontos.


aa) Banho de flores de feno


Enche-se um saquinho com flores de feno que se põe num recipiente com água a ferver, deixando-se cozer um quarto de hora. O cozimento assim preparado despeja-se na banheira com água quente, cuja temperatura regula adicionando água fria, até alcançar os graus marcados. Este banho é o mais simples e fácil, e, por seu carácter inofensivo, o mais usado para restituir ao corpo o calor normal, assim é que também as pessoas sadias possam tomá-lo em qualquer tempo. Não poucos hidrófilos saem da minha clínica saturados do aroma deste banho, cujas águas cor de café abrem sobremaneira os poros e são um poderoso remédio para resolver ingurgitamentos.


bb) Banho de palha de aveia


Deixa-se cozer na água, durante meia hora, um manípulo de aveia, e usa-se do cozimento como no caso anterior. Este banho é mais eficaz que o de flores de feno, e recomenda-se particularmente nas afecções dos rins e da bexiga, nos cálculos ou pedras e na gota.







cc) Banho de folhas e botões de pinheiro


Prepara-se do seguinte modo: tomam-se botõezinhos, agulhas do pinheiro, tenras, bem frescas, raminhos, quanto mais resinosos melhor, e também frutos bem triturados, mistura-se tudo e deixa-se cozer por espaço de meia hora em água a ferver. Com o cozimento procede-se do mesmo modo como acima ficou dito. Também se emprega para combater os sofrimentos dos rins e da bexiga, posto que não seja tão eficaz como o anterior. Não obstante serve para aumentar a actividade da pele e fortalecer os vasos internos; pelo que se considera como o mais adequado para pessoas de idade avançada.


dd) Banhos mistos


Como está a indicar o nome, chamo assim aos banhos em que se empregam simultaneamente cozimentos de várias plantas medicinais; o que de ordinário se faz quando não se tem à mão alguma das mencionadas, ao menos em porção suficiente. Emprega-se também esse processo para aromatizar o banho de palha de aveia.

Os banhos em si são bons – dirá alguém – porém se tornam bastantes caros e um tanto complicados.

Semelhante objecção teria fundamento se eu prescrevesse aos meus leitores banhos de Carlsbad, de Reichenhall, ou se lhes mandasse comprar algum frasco de extracto de folhas de pinheiro (que pelo seu preço elevado não está ao alcance de todas as bolsas), e prescrevesse a metade ou terça parte ao menos de um frasco para cada banho. As minhas prescrições hidroterápicas, porém, não podem dar a quem quer que seja o menor pretexto para escusar-se de segui-las. O mais pobre pode preparar por si mesmo todos os banhos sem dificuldade alguma e obter, sempre que o queira, um extracto puro e tão legítimo como o que lhe poderia ministrar a melhor farmácia.

De propósito pus particular cuidado em dispor os banhos de maneira que possam usá-los até as pessoas pobres, para que os deserdados da fortuna não se vejam privados dos benefícios que trazem e da salutar influência que exercem sobre o organismo.

Para se obterem as substâncias mencionadas não é preciso mais do que um pouco de boa vontade para dar um passeio até o pinhal ou ao lugar onde se guarda a palha de feno. E em último caso bastam alguns passos e duas palavras corteses, porque ninguém será capaz de negar um punhado de feno ou de palha de aveia; nem tão pouco os abetos recusarão de certo as suas folhas e botões. Quanto à gamela ou tina, mal haverá quem não a tenha, e em todo o caso o vizinho não se negará a emprestá-la. Isso quanto às despesas do banho. Pelo que diz respeito ao trabalho e minúcias que acarreta, digam-me se não seria mais incómodo ver-se obrigado a estar de cama semanas inteiras, ou expor-se a ir perdendo as forças a pouco e pouco e viver extenuado e sempre doentio. Ninguém será capaz de sustentar que os meus banhos ocasionam enfados e trabalho; quem tal afirmasse, só daria provas de indolentes e poltrão, e seria na verdade indigno dos benefícios que produz um banho.


    1. Banhos minerais


Direi aqui algumas palavras acerca dos banhos minerais, a cujo respeito tenho sido por vezes interrogado. Eis aqui a minha opinião franca a respeito:

De conformidade com os princípios em que se funda o meu sistema hidroterápico, deve reprovar o uso desses banhos, como condeno tudo quanto for violento e forçado, pouco importando se a sua aplicação é externa ou interna. Repito e não me cansarei nunca de o repetir: O melhor tratamento é o mais brando, quer se trate de processos hidroterápicos quer de medicinas, etc., etc.; e uma vez conseguido o resultado, não se devem repetir as aplicações.

Devemos prestar auxílio à natureza, ajudar o organismo enfermo e debilitado, porém de um modo suave, não com violência e aspereza; é preciso guiar, para assim dizer, pela mão o corpo doente, tomá-lo Às vezes nos braços com carinho para ajudá-lo a levantar-se, porém não maltratá-lo nem levá-lo aos safanões; devemos cooperar para que o corpo recobre a sua actividade, volte ao seu estado normal, e retirar-lhe o nosso auxílio assim que ele por si mesmo se possa valer; nunca, porém, empregar remédios bruscos para forçá-lo e violentá-lo.

Coerente com este sistema desterrei dos meus processos, entre outras coisas, as escovas e os lençóis para fricções tão em uso em outros estabelecimentos hidroterápicos.

Tive ocasião de experimentar-lhes os efeitos, posto que em casos excepcionais; e experiência, porém me tem ensinado que a água, por si só, produz excelentes resultados, se se aplica com inteligência, não havendo necessidade de recorrer a essas manipulações que só servem para atormentar o pobre corpo.

No meu método essa fricção é produzida de um modo permanente e uniforme, de dia e de noite, pela camisa tosca de linho ou cânhamo, à raiz da carne, e cujo uso recomendo com máximo interesse.

Os banhos minerais, por sua natureza, produzem um efeito enérgico, pois que todas as águas minerais, seja qual for o seu nome e origem, contêm sais mais ou menos fortes e irritantes e em quantidade mais ou menos considerável. Estas águas, perdoe-se-me a comparação, fazem o ofício da escova e da areia, se fossem empregadas para limpar a prata e outros metais preciosos; a sua acção sobre a superfície delicada do ouro ou da prata seria desastrosa. Serão por ventura menos delicados os órgãos internos do homem? Um simples sopro empana os metais: poli-los com meios ásperos seria estragá-los. É verdade que a escova e a areia que limparam os metais e os tornaram lúcidos: mas quanto tempo resistiria eles a esse tratamento?

A aplicação é tão clara que qualquer pode faze-la, e não há necessidade de fazer sobressair a extrema delicadeza e sensibilidade do nobilíssimo metal sobre que exercem a sua acção às águas minerais.

E para que nos diz a experiência relativamente aos resultados da sua aplicação?

Nos grandes estabelecimentos balneares, é costume levar os mortos para o cemitério, não de dia mas de noite, em silêncio, sem canto nem dobres, para não impressionar e molestar os vivos. Todos os anos registam-se ali grandes números de Óbidos. Fulano de tal esteve aqui em tal ano pela primeira vez, e colheu excelentes resultados. Mas o sofrimento, que era antigo, recrudesceu de novo, e ele voltou aos banhos. Dessa vez, porém, já não lhe assentaram bem.

O mal tomou maior incremento, e ele insistiu por lá voltar a terceira vez. Veio dos banhos visivelmente forte e melhor: a cura, porém, era ilusória; pouco tempo depois baixou à sepultura. A outros veio surpreendê-los a morte nos próprios estabelecimentos, poupando-lhes assim as despesas de viagem. Tal é a história que sob diferentes formas ouvimos todos os dias.

Quem procura essas casas por distracção ou para ter anseio de frequentar uma sociedade agradável, limitando-se a fazer o uso externo das águas, nada tem que recear; só tem de deitar contas à sua bolsa que, com certeza, passará por um tratamento desapiedado, que muito se assemelha a um saque.

Até camponeses que andam com a cabeça transtornada e cheia de fumaças, querendo imitar aos de alto contorno e remediar-lhes os costumes refinados, deixem-se arrastar pelo mau exemplo e, se não frequentam os banhos, é porque a falta de cum quibus lho impede.

Uma vez apresentou-se-me um camponês dizendo-me: “Afina, descobri o melhor meio para purgar o corpo; é uma espécie de água higiénica de que faço uso frequente”. “E que consiste essa água?” perguntei-lhe eu. Depois de um momento de hesitação, confessou que dissolvia na água uma colherada de sal e que tomava essa beberagem em jejum; acrescentando que era um excelente purgativo e valia mais que as mais celebradas águas minerais. Tratei de dissuadi-lo, não houve, porém, meios de fazê-lo abrir mão da sua “maravilhosa” invenção; continuou a beber a sua panaceia por algum tempo; começou então a sentir dores de estômago, dificuldade na digestão e por último caiu numa debilidade tal que o levou à sepultura, ainda na flor da idade e exausto de forças.

Nada, pois, de invejar aos ricos e nobres que parecem ter melhor fortuna, porque isto sobre ser próprio de néscio, é contrário aos princípios cristãos. Tão pouco são para invejar aqueles, quem, doentios e predispostos à tísica, etc., podem transportar-se a climas benignos e frequentar luxuosas casas de saúde em Meran ou no Sul da França, de Itália e até de África.

Para o peixe não há melhor morada do que a água e para a ave é o ar a mais linda pátria; do mesmo modo não há para mim, clima mais favorável, mais saudável do que o país onde a bondosa mão do criador me fez ver a luz da vida. Se o acho demasiado rígido, nas minhas mãos tenho o remédio; trato então de fortalecer o corpo: e ainda nas doenças nunca duvidei que a água da minha terra natal me presta tão bons serviços como a que corre por países estrangeiros. Quando aprouver ao Senhor que eu morra – é esse o destino de todos nós – a terra da pátria ser-me-á mais leve e ai descansarei melhor e mais sossegado.

E porque se tornam públicas as experiências que se verificam anualmente nos estabelecimentos de banhos em que se pretende respirar ar tão saudável?

Tomo a liberdade de fazer aqui duas perguntas:

Quantos dentre os que, realmente doentes, vão a esses estabelecimentos, voltam para as suas casas perfeitamente curados? Quantos não ficaram enterrados nesses lugares, especialmente nos banhos termais?

Como as respostas a estas perguntas não podem ser muito satisfatórias, resta-me, caro leitor, aconselhar-te que te deixes ficar na tua terra natal, vivendo honestamente e fazendo uso da água todos os dias.


V. Banhos parciais


Sob esta denominação compreendem-se todos os banhos locais, isto é, aplicados alguma parte do corpo, e assim me dispenso de fazer para cada um deles um capítulo à parte.


  1. Banhos às mãos e aos braços.


O nome os define suficientemente, e em lugar oportuno, quando tratarmos das diferentes enfermidades, serão dadas as instruções necessárias acerca do seu emprego e duração (se 2-3 minutos ou se 15 minutos), se devem tomar frios ou quentes, quantas vezes se hão de repetir, e finalmente com que cozimento se devem preparar.

Quanto ao seu emprego, limito-me aqui a uma observação.

Supúnhamos, por exemplo, que alguém tem um dedo doente. Não devo limitar-me a exercer acção sobre o dedo somente, mas sobre toda a mão, sobre todo o braço e até sobre todo o corpo, porquanto o dedo doente não é outra coisa senão o fruto pode de um ramo, estragado ou de um tronco avariado. Se o tronco está são, se ministra boa seiva e em quantidade suficiente, o fruto será igualmente bom.

Para restituir a saúde aos ramos enfermos, isto é, às mãos e aos braços, por exemplo, usam-se os banhos aos braços e os manilúvios, ou banhos às mãos, juntamente com as faixas hidroterápicas.





  1. Banhos à cabeça


(Repetidas vezes temos dito que não se deve molhar a cabeça. A razão principal é porque, se não se tem bastante cuidado em enxugar a cabeça, acarreta-se facilmente algum mal. Por outro lado a cabeça, sobretudo nos homens que a trazem meio destapada, é um dos membros que aguentam melhor a intempérie.)


É um dos banhos parciais mais importantes. Pode-se tomar frio ou quente, do seguinte modo:



Em cima de uma cadeira ou de um mocho coloca-se uma bacia com água fria e mergulha-se nela o alto da cabeça de modo a que a parte ocupada pelo cabelo fique debaixo de água e isto durante 1 minuto; em seguida passa-se durante 5 a 7 minutos para a água quente. Se a água não chegar a cobrir a nuca, banha-se com a mão esta parte.

Após o banho é preciso secar cuidadosamente o cabelo. E isso deve-se fazer com todo o cuidado, sempre que a cabeça se molhar seja pelas afusões seja pelos banhos de vapor, porque de contrário podem sobrevir fortes dores de cabeça e outras enfermidades, como reumatismo, etc. Isto feito, deve o banhista cobrir a cabeça com um gorro que abrace toda a parte molhada, e deixe-se ficar no quarto até que o cabelo e a pele estejam completamente enxutos.

Muitos seguem outro processo mais simples e rápido, particularmente as pessoas do campo. Mergulham várias vezes a cabeça dentro do tanque da fonte, como fazem os patos na lagoa, ou também colocam-na debaixo da bica. É um excelente sistema; é preciso, porém, não ultrapassar os limites da prudência, prolongando demasiado as imersões, nem tão pouco descuidar-se do enxugo da cabeça.

Para tomar bem este banho é preciso ter o cabelo curto, afim de que a água penetre melhor até à cútis, que é o objecto do tratamento, e possa secar mais facilmente.

Às vezes prescrevo este banho para combater as dores de cabeça, no qual caso há de ser frio e de curta duração; eu recomendo-o às pessoas propensas a abcessos, a úlceras na cabeça, erupções dartrosas e secas, caspa e a toda essa classe de erupções epidérmicas neta parte do corpo, sem contar outros humores, etc., que se desenvolvem facilmente quando devem tomar banhos quentes de maior duração, que terminam por uma afusão ou uma loção de água fria.

Não posso deixar de recomendar vivamente o uso destes banhos.

Se no inverno o medo do frio e da humidade impede que se abram as acanhadas janelas para dar entrada franca ao ar e à luz, forma-se nos aposentos uma atmosfera tão espessa que, por assim dizer, se pode cortar à faca, fazendo recuar logo da soleira a quem vem de fora. Se se deixa de varrer e lavar a casa, acaba esta por se tornar um foco de imundice.

E não há de suceder o mesmo com o couro cabeludo, se as melenas, as grossas tranças e ainda em cima duas ou três coberturas não deixam penetrar nem o ar nem um raio de sol até à pele da cabeça? É claro que, se não a lavarmos com cuidado e perseverança, tornar-se-á também um foco de imundice, formar-se-ão crostas e caspa; e penetrará a podridão onde não entra a água, e as mães sabem perfeitamente que consequências dai resultam.

Muitos – ainda mal! Negligenciam completamente o asseio da cabeça! Há muita gente que julga que lavando o rosto todos os dias, fizeram tudo quanto prescreve a higiene. Entretanto ainda resta fazer muito; sobretudo é indispensável para a saúde conservar constantemente limpa a cabeça, e a isto estão obrigados jovens e velhos e de um modo mais particular as mães.


  1. Banhos aos olhos.


Pode-se tomar frio ou quente, e em ambos os casos aplica-se do modo seguinte: mergulha-se o rosto na água fria, abrindo os olhos, e conservando-se assim durante ¼ de minuto levanta-se a cabeça e ao cabo de ¼ de minuto no máximo, imerge-se novamente, repetindo-se a operação 4 ou 5 vezes. Tomando-se o banho com água temperada (24 – 26º R.) deve fazer-se seguir de uma loção fria que se pode substituir tomando o ultimo banho com água fria. Na água quente deita-se sempre um dos cozimentos indicados em outro lugar; uma meia colher de chá preto, camomila e funcho, Eufrásia, prestaram-me sempre bons resultados.

    1. O banho de água fria é um excelente confortativo dos olhos que não tenham outro sofrimento que não a debilidade. Fortalece e refresca todo o aparelho visual, não só exterior como também interiormente.

    2. O banho com água quente emprega-se principalmente para abrandar, molificar os tumores que aparecem na parte exterior dos olhos, como também para resolver e segregar os humores malsãos, espessos, saniosos que se formam interiormente.




C) Banhos de vapor


Como em todas as outras aplicações hidroterápicas do nosso sistema, empregamos os banhos de vapor sob a forma mais suave possível, que os torna em todo o caso inofensivos. No entanto, o uso dos vapores de água exige sérias precauções. O mesmo remédio que aplicado convenientemente cura o doente, pode causar um grande mal a uma pessoa sã, se no seu emprego se cometem descuidos e desleixos. Assim, por exemplo, se alguém logo após um banho de vapor se expõe ao ar livre, sem previamente se ter se ter refrigerado, corre risco de adoecer gravemente, embora a aplicação desse banho seja simples e inocente. Esta observação não tem outro objecto senão fazer precaver o banhista e não já dissuadi-lo desse exercicio. Repito que não há que recear o menor perigo, observando-se uma aplicação racional

Agora bem. Serão os banhos de vapor um factor indispensável na hidroterapia, isto é, serão eles necessários para se conseguir a cura?

Uma lavadeira para fazer a barrela emprega água quente e água fria. A primeira serve para dissolver as impurezas, a segunda tem por fim separá-las. Processo análogo observa-se com todo o sistema curativo.

Nas enfermidades é preciso também dissolver e separar substâncias estranhas, como ingurgitamentos sanguíneos, humores alterados, etc., o que se consegue por meio do calor. Depois disso é preciso fortalecer o organismo e torná-lo capaz de resistir, e esta é a missão especial do frio.

Donde se conclui que todo o corpo deve ter certa quantidade de calórico para que possa exercer as funções que lhe são próprias. Em seu estado normal, sadio, possuem os corpos este calor natural sem que seja preciso argumentá-lo.

Porém todo o corpo enfermo sente logo a falta de calor interior necessário, que se deve tratar de suprir por processos artificiais. Em alguns pacientes consegue-se isto por meio das compressas ou das faixas de água fria; noutros, é preciso recorrer aos vapores afim de realizar essa infusão artificial de calor.

Qual é o melhor processo na aplicação dos banhos a vapor?

Não é fácil responder a esta pergunta, pelo que limitar-me-ei a expor as minhas experiências, não sem confessar ingenuamente que me vi obrigado a modificar, logo no princípio, repetidas vezes o seu processo.

A princípio abracei a prática seguida então de aplicar banhos de vapor gerais; como porém, no decurso de 13 anos consecutivos visse que não me produziam quase nunca os resultados que esperava, mudei de sistema. No espaço de três anos introduzi três novas alterações no processo, até que afinal fixei-me no sistema que ponho em prática há muitos anos, com magníficos resultados, e que consiste em aplicar o vapor a uma parte do corpo somente, e não a todo ele ao mesmo tempo, afim de evitar as impressões bruscas que raras vezes produzem bons resultado.

Aqui, porém, julgo oportuno lançar um olhar retrospectivo acerca destes banhos.

Há cerca de 30 anos começaram a usar-se aqui no sul da Alemanha os banhos russos (No seu excelente livro – O meu testamento – recém-publicado, e que acabamos de verter em português, a página 114 – 116, tratando dos banhos a vapor gerais, modifica Kneipp o seu modo de ver a respeito dos mesmos. Já não os condena; recomenda, porém, que se tomem com grande precaução e parcimónia, com longos intervalos (um ou, quando muito, dois por semana), devendo ser alternados com aplicações frias. Na opinião do ilustre hidroterapeuta não devem tomar esses banhos as pessoas fracas, anémicas e linfáticas. Aconselha-se, porém, aos que sofrem de gota crónica, impigens e outras moléstias cutâneas, bem como Às pessoas obesas e que são atreitas a ingurgitamentos de sangue. Como dissemos, numa nota da 1ª edição, tivemos ocasião de experimentar em nós mesmo e de observar em outras muitas pessoas a eficácia benéfica dos banhos de vapor gerais chamados banhos russos. Não há, no nosso humilde entender, melhor depurativo do sangue e podemos afirmar sem receio de contestação que aqui em Poro Alegre muitos indivíduos devem a eles a saúde que em vão procuraram reaver por outros meios terapêuticos; e de alguns médicos sabemos que não só recomendam os banhos de vapor a seus clientes como também eles próprios fazem frequente uso dos mesmos. - nota de tradução).

Como, porém, muitas famílias não podiam frequentar as casas de banhos (privilégios então das grandes cidades), inventaram-se para substitui-las essas estufas, ou caixas diaforéticas, próprias para promover o suor em grande abundância.

Também eu mandei fazer uma caixa semelhante, com a sua porta bem justa e uma abertura na parte superior, por onde se podia passar a cabeça comodamente. O vapor vinha de fora, o paciente estava sentado ou de pé no interior da caixa, examinando em silenciosa resignação o termómetro que lhe ficava diante dos olhos. Cobriram-lhe o pescoço com um pano seco, afim de impedir a saída do vapor, e envolviam-lhe a cabeça em compressas ou panos molhados com o fim de manter nela a frescura ao mesmo tempo que o corpo todo alagava em suor, o que acontecia geralmente 10 a 15 minutos depois de começada a operação. Ao banho de vapor seguia-se logo uma loção ou um banho geral frio. Se se queria alcançar maior abundância de suor, encerrava-se o paciente, segunda vez, na caixa por espaço de 15 minutos, seguindo-se logo uma loção fria de meio minuto.

Estes banhos de vapor pareciam-me muito úteis, apenas não podia eu compreender a razão porque os efeitos não correspondiam à expectativa. Sobretudo no inverno tropeçava eu em séries dificuldades. Porque o suor copioso que em poucos minutos cobria o corpo todo, elevando-lhe de um modo extraordinário a temperatura, tornava-o extremamente sensível às mudanças atmosféricas, e na quase impossibilidade de preservar completamente a pele do contacto do ar frio do inverno, resultava que uma ou outra parte se ressentia e às vezes sofria dores violentas.

Muitos foram os ensaios que fiz para remediar tão grave inconveniente, e muito seriamente reflecti acerca do assunto. Eis senão quando, um dia, levaram-me as minhas ocupações ao Mónaco. Era no coração do Inverno; sofria eu então de um catarro muito forte.

A casualidade me fez cair nas mãos um papel em que se encareciam os maravilhosos resultados dos banhos russos. Entre outras coisas dizia-se “Faça-se uma prova; um só banho de vapor basta para curar o catarro mais rebelde”. Tomei a resolução de fazer a experiência em mim mesmo. Sem demora lá fui ao estabelecimento, e mal tinha tomado o primeiro banho, que bem merece o qualificativo de russo, desapareceram como por encanto até os menores sintomas do catarro. Tudo, porém, foi uma ilusão; pois não tinham passado seis horas, quando me senti acometido por uma nova constipação muito mais forte do que a que eu tinha deixado nos banhos russos.

Tate! – disse eu de mim para mim – sem dúvida há um grave erro na maneira de tomar esses banhos; porque se comigo, que estou são e robusto, se acaba de passar isto, que não sucederá com uma pessoa débil, doentia e achacosa? Indubitavelmente deve este tratamento ser aplicado de uma maneira muito diversa.

Todos os ensaios e pesquisas que fiz sobre o assunto, convenceram-me que também para os banhos de vapor rege o princípio que se deve observar em todos os exercícios hidroterápicos: - Quanto mais suave for a aplicação, tanto melhores serão os resultados. Uma aplicação é tanto mais suave, quanto mais simples e menos molesta para o corpo.

Assim, eu não prescrevo nunca um banho de vapor, quando se pode conseguir o mesmo resultado com um simples banho de água ou com uma afusão ou com um banho parcial, como acontece quando se trata de aumentar o calor natural; nem tão pouco ordeno um banho de vapor geral, se um banho local produz o mesmo efeito. Para quê atormentar inutilmente todo o corpo? Ne quid nimis, nada de exageros: e nos banhos de vapor a virtude está num termo médio. Não convém forçar a natureza, em lugar de ajudá-la, de estender-lhe a mão e proporcionar-lhe os meios para que por si só possa exercer as suas funções.

Todos os banhos de vapor, no meu sistema, são banhos parciais, isto é, aplicados directamente a uma parte do corpo; a sua influência, porém, estende-se a todo o organismo. E é nisto especialmente que consiste a sua grande vantagem. Porque deste modo se molesta e se debilita tão-somente a parte enferma ficando intacto e sem sofrimento algum o resto do corpo. Este conserva assim todo o seu vigor e descansa enquanto a parte enferma sofre a acção do vapor e está por sua vez em actividade. Ainda mais, este sistema oferece a vantagem de que a parte não atacada conserva forças para suprir as que perde o órgão enfermo.

Em muitos casos faço aplicar o vapor exclusivamente como preparativo para as aplicações hidroterápicas, quer para facilitar o seu emprego aumentando o calor natural do corpo, quer para tornar mais eficazes as mesmas aplicações, quer finalmente com o fim de abrir passagem à acção da água até o interior do organismo, pelo efeito que produz o mesmo banho de vapor nos brônquios e nos pulmões. Só muito raras vezes emprego os banhos de vapor sem outra aplicação hidroterápica.

Quando nos ocuparmos dos diferentes banhos de vapor, indicaremos as medidas e precauções que se devem tomar relativamente à refrigeração do corpo, ao vestir-se, ao exercicio, etc.

Aqui só me resta fazer uma observação com o fim de prevenir um perigo.

Acontece com frequência que o doente sente desde logo a influência favorável destes banhos, particularmente quando se aplicam aos pés ou à cabeça.

Pela sua virtude depurativa e resolvente produzem um bem-estar indizível no paciente que se sente então alegre e feliz. Dai o perigo de se abusar, repetindo a miúdo esses banhos, o que poderá acarretar grave dano à saúde. “Est modus un rebus”. É preciso que haja moderação em tudo.

Ilustrarei estes pontos com alguns casos práticos.

Um convalescente de tifo ou de outra grave enfermidade sofre ainda de congestões na cabeça ou em outra parte do corpo. Em tais casos são os banhos de vapor de incontestável utilidade. Devem ser, porém, moderados e rápidos, aplicados à cabeça e aos pés, pois temos diante de nós um indivíduo débil e anémico. É claro que para apagar um fósforo, não se precisa de um fole do ferreiro; um leve sopro é quanto basta. Isto aplica-se em geral a todas as pessoas anémicas. Os banhos de vapor produzem-lhes bem-estar, aplicados, porém, em excesso fariam o efeito de ventosas que lhes chupariam o sangue, o calor da vida.

Mas poderão as pessoas gordas, corpulentas suportar frequentes banhos de vapor e por conseguinte, suores copiosos? Precisamente essas pessoas menos do que ninguém, pela simples razão que em geral são pobres de sangue. Com esses pacientes sou sempre muito parco em prescrever os banhos de vapor, e recomendo-lhes de preferência faixas (embrulhos) que produzem uma transpiração abundante. Esta supre com vantagem o suor copioso.

Um paciente queixa-se de forte dores nos pés, e pede que lhe apliquem os banhos de vapor aos pés, não obstante ser, como se costuma dizer, uma “caixa de ossos”. Seria insensatez aceder a semelhante pedido. Um espicho, um esqueleto ambulante como este, nada mais tem que suar; por conseguinte, em vez dos banhos de vapor, convém aplicar-lhe afusões nos joelhos, com alguma frequência.

Vejamos agora as diferentes formas em que se podem aplicar os banhos de vapor.






  1. O banho de vapor aplicado à cabeça


A aplicação deste banho demanda certas pequenas operações preliminares. Os objectos que se exigem para tomá-los são: uma banheira de madeira mais funda do que larga com duas asas dispostas de modo que nelas se possam apoiar as mãos, e uma tampa perfeitamente justa que sirva para fechar hermeticamente a mesma banheira; dois assentos sem encosto, um mais alto para o banhista sentar-se, outro mais baixo em que se coloca a banheira; e finalmente um grande cobertor de lã que possa cobrir o corpo do paciente.



Dispostos estes objectos, deita-se na banheira água a ferver até encher ¾ partes da sua capacidade e fecha-se com a tampa cobrindo-a também com panos molhados para impedir que escape o vapor. Entretanto o paciente despe a parte superior do corpo, cingindo a cintura com um pano seco, afim de impedir que o suor lhe molhe as calças e as ceroulas. Senta-se no banco mais alto, e, apoiadas as mãos nas asas da banheira, inclina a parte superior sobre a mesma, como se vê na figura. Em seguida cobre-se o corpo e a banheira com o cobertor de lã de modo que se não deixe escapar o vapor. Em acto contínuo afasta-se a tampa e o pano molhado (operação essa que deve praticar outra pessoa levantando um pouco o cobertor). Os vapores levantam-se então como uma torrente abrasadora invadindo toda a parte superior do corpo.



A pessoa encarregada do serviço do enfermo deve cuidar que este esteja sentado comodamente, mas não faça caso algum dos seus lamentos, embora o ouça gritar “que não pode mais aguentar, que sufoca, que vai ter um ataque da cabeça, etc.”

A princípio alguns assustam-se ao sentir uma temperatura tão elevada; não tarda, porém, em habituar-se aquele calor tropical e descobrem o meio de evitar as sensações desagradáveis da aplicação. No primeiro momento da inundação do vapor deve tomar-se uma posição recta, levantar um pouco a cabeça e desviá-la para os lados; à medida, porém, que o calor vai diminuindo, volte o paciente a tomar a posição inclinada, como se acaba de indicar.

O banhista não tem que recear absolutamente nada; não conheço um só caso em que o vapor, aplicado à cabeça com estrita sujeição às minhas prescrições, tenha causado o menor mal; antes pelo contrário, sempre produziu-me óptimos resultados, aplicados em mui diversas doenças a pessoas de diferentes condições. Os banhos de vapor nunca fizeram mal a ninguém; e, se algum mal houve alguma vez, foi devido à temeridade e fatuidade dos que, julgando-se mais sabedores e experimentados, os tomaram sem as devidas precauções e obedecendo unicamente aos seus caprichos. Cada banho de vapor dura 20 a 24 minutos, durante os quais os pacientes conservarão a posição descrita, e, até onde lhe for possível aguentar, terá aberto os olhos, o nariz e a boca, para que o vapor penetre livremente em todos estes órgãos.

Passados os 20 ou 24 minutos, retira-se o cobertor e lava-se bem a parte superior do corpo com água fria. Em acto contínuo o banhista faz exercicio, em casa durante o inverno e ao ar livre no verão, até secar-se completamente e recobrar a temperatura normal do corpo.

Aqui devo fazer algumas observações que se devem ter muito em conta.

Em alguns casos o vapor da água pura prejudica a vista e o estômago, se se aspira; por essa razão ponho sempre algumas ervas medicinais na água quente. A mais indicada, pelos excelentes resultados que produz é o funcho ou a erva-doce moída; uma colherada desta planta basta para cada banho. Também se podem empregar: Sálvia (Salvia officinalis), Milefólio (Achillea milefolio), a hortelã (Mentha piperita), o sabugueiro (Sambucus nigra), a tanchagem (Plantago lancelata), e as flores de tília (Tília cordata); na falta destas plantas deita-se na água um punhado de urtigas ou de flores de feno; pois estas plantas, apesar do desprezo com que são olhadas, dão óptimos resultados.

Em circunstâncias normais, produzem os banhos de vapor imediato efeito; pois na maioria dos casos depois de cinco minutos começa a escorrer o suor pela fronte e o rosto abaixo, depois de dez minutos bagas de suor manam de todos os poros.

Em alguns indivíduos, porém, especialmente se anémicos e faltos de calor natural, o efeito não é tão imediato. Para remediar este inconveniente, deixa-se incandescer a sexta parte de um tijolo (um pedaço de tolha presta o mesmo serviço), que se põe na banheira uns 10 minutos depois de começada a operação. Com este novo combustível levantam densas nuvens de vapor, que acabam de abrir os poros.

Depois deste banho, que no inverno tomar-se-á num quarto quente, é preciso lavar a parte exposta ao vapor com água fria, para que os poros se voltem a fechar, antes do que não se deve nunca sair ao ar livre. Convém igualmente na mesma estação invernosa, fazer o exercício subsequente em casa, durante meia hora antes de sair à rua. Sem essas precauções, seria fácil pilhar não só alguma constipação mas até alguma doença grave.

A loção com água fria de que falo, pode tomar-se de diferentes maneiras. A mais simples e que recomendo quando se trata de pessoas débeis que carecem de auxilio alheio, consiste em lavar rapidamente aquela parte do corpo com uma toalha embebida em água fria. Tratando-se de tumores ou erupções na cabeça, purgações nos ouvidos, ou em geral de padecimentos que exigem, para a sua cura, fortes secreções na cabeça, deve empregar-se esta espécie de loção depois dos dois primeiros banhos de vapor. Se se descuida essa precaução, sobrevirá zumbidos nos ouvidos e outros incómodos que, senão perigosos, são bem molestos. Nas aplicações subsequentes, se se conseguirem abundantes secreções, pode-se recorrer à segunda maneira de ablução, isto é, a afusão superior, que consiste em despejar com vagar um ou dois regadores de água fria sobre as partes que foram submetidas ao vapor, exceptuando a cabeça, isto é, o couro cabeludo; em compensação lava-se bem o peito.

As práticas que se devem ulteriormente observar, são as mesmas que se observam depois das afusões: isto é, depois de enxugar o rosto e o cabelo, o paciente veste-se com a maior pressa, possível sem enxugar o resto do corpo e faz exercicio ou se entrega ao trabalho corporal até sentir-se enxuto de todo e recobrar o calor normal.

Mais proveitoso seria tomar, depois do banho de vapor, sempre que se tenha a comodidade de o fazer.

Os efeitos deste tratamento são realmente importantes, pois não estende a sua acção somente à superfície de toda a região superior do corpo, abrindo-lhes os poros, como também ao interior, onde os vapores, penetrando pelas narinas e a faringe até os pulmões, etc., resolvem e eliminam o que ali estorva. Nas constipações produzidas pela humidade ou por mudanças da temperatura, nos incómodos da cabeça zumbido nos ouvidos, afecções reumáticas e espasmódicas na nuca e nos ombros, nas afecções asmáticas, febre tifóide (ao aparecerem os primeiros sintomas do mal), doenças todas que acompanham ou seguem de ordinário os catarros, são remédio excelente estes vapores aplicados à cabeça. Por via de regra esta aplicação repetida duas vezes no espaço de três dias basta para se alcançar a cura completa; os catarros ainda incipientes e de qualquer classe que sejam, curam-se com um só destes banhos de vapor. Quem tiver a cabeça avultada, o pescoço desproporcionalmente grosso ou as amígdalas inflamadas deve tomar semanalmente dois ou três destes banhos, os quais se prescrevem igualmente na inflamação dos olhos que provém do frio, as constipações, etc., como também para as purgações do mesmo órgão. Neste último caso colher-se-á melhor resultado, se o paciente, além do banho de vapor, tomar pedilúvio quente, com sal e cinza, pelo espaço de quinze minutos, à noite do mesmo dia.

Em congestões e até em ataques cerebrais tenho empregado com excelente resultado os banhos de vapor aplicados à cabeça.

Alguns receiam que em casos delicados como estes, semelhante aplicação faça subir o sangue para a cabeça agravando assim a situação. Esse receio é infundado; nestes dois casos, porém, faço durar a operação 15 a 20 minutos somente e em acto contínuo aplico outro banho a vapor nos pés.

Como, porém, os banhos de vapor exercem uma acção resolutiva muito enérgica e o suor copioso que provocam, debilitam sobremaneira as forças, não se devem aplicar com demasiada frequência à cabeça; de ordinário não convém tomar mais de dois banhos por semana. Só em casos excepcionais, quando for necessário provocar abundantes secreções e eliminações, podem-se tomar três na primeira semana, isto é, de três em três dias, com uma duração de 15 a 20 minutos no máximo.


  1. Os banhos de vapor aos pés


O banho de vapor aplicado aos pés produz nas extremidades inferiores do corpo o mesmo resultado que os banhos de vapor à cabeça, na região superior.

Eis como se aplica:

Numa cadeira estende-se em todo o seu comprimento um cobertor de lã bem largo e bem grosso. O paciente senta-se, tendo despido os pés e as pernas até aos joelhos. Nos seus pés está colocada a vasilha destinada para o banho cheia até metade de água a ferver; podendo empregar-se a vasilha que serve para os banhos aplicados à cabeça. Na vasilha está colocada uma tábua horizontal cujos extremos entram nos buracos das asas, de modo que fique imóvel para que o paciente possa firmar nela os pés sem o risco de resvalar e queimar-se.



Quando tudo estiver preparado e o paciente se achar no seu posto envolvem-se com o cobertor as pernas e a banheira, de modo que não possa escapar o vapor, ficando encerrado como num tubo de lã, para subir ao longo das pernas até ao abdómen.



Para preparar o banho costumo empregar um cozimento de flores de feno. Como se disse a respeito do banho a vapor aplicado à cabeça, se se quiser conservar igual à temperatura do líquido ou aumentá-lo, introduz-se de 5 em 5 ou de 10 em 10 minutos, um pedaço de tijolo (ou de telha) bem quente, com a devida precaução, porém, para que a água não salpique e queime o paciente. A duração do banho, e, por conseguinte, o número de pedaços de tijolo que se hão de deitar no líquido, regular-se-ão conforme o efeito que se pretende alcançar. Porque algumas vezes quer-se somente provocar o suor nos mesmos pés, como quando se trata de combater o suor nos mesmos pés; outras vezes, porém, deseja-se produzir esse resultado em toda a perna ou até às coxas, ou em toda a metade inferior do corpo e às vezes procura-se um suor geral. Com efeito, há pessoas em quem com este banho tão simples se provoca um suor tão copioso e geral como se estivessem abafadas debaixo de duas ou três cobertores. Segue-se, dai que para conseguir um efeito moderado, tomar-se-á um banho de 15 a 20 minutos, bastando um só pedaço de tijolo quente; para provocar um suor geral, como se consegue com um banho de vapor ordinário, devem-se repetir os pedaços de tijolo de 5 a 10 minutos e prolongar a operação de 25 a 30 minutos.

Logo em seguida ao banho de vapor refrigera-se com água fria a parte que foi submetida ao vapor.

Para uma simples banho de pés, em que o suor não passou dos joelhos, bastará uma loção rápida com um pedaço de pano de linho; às naturezas mais fortes poderá aplicar-se uma afusão aos joelhos. Nos casos em que o vapor alcança as coxas e o baixo-ventre, é necessário que o paciente se refrigere tomando um meio banho frio; se, porém, o feito do vapor se estender a todo o corpo, é indispensável um banho ou uma loção geral, ou também um meio-banho com uma loção da parte superior do corpo.

As prescrições relativas a essas aplicações, encontram-se nos respectivos capítulos (vide loções e afusões) e as que se devem observar depois do banho aos pés, são as mesmas que fizemos na descrição dos banhos de vapor aplicados à cabeça.

Os banhos de vapor aos pés são indicados especialmente em todas as doenças dos pés, como nas grandes exsudações com mau cheiro que provém de humores mórbidos que é preciso resolver e eliminar; nas inflamações dos pés, que têm causas análogas ou obstruções de sangue nessa parte; como também para combater a excessiva frialdade dos mesmos pés, nos quais a transpiração é nenhuma e para onde o sangue, por assim dizer, não encontra mais o caminho.

Nesses casos o banho de vapor comunica actividade e nova vida aos membros sobre os quais actua servindo além disso, muitas vezes de excelente preparativo (como se dirá na parte das respectivas enfermidades) com que se aplaina o caminho para outras aplicações hidroterápicas.

Os que sofrem de abcessos nas unhas, de unhas encravadas; os que receiam alguma infecção do sangue em resultado de alguma imprudência ao cortar os calos, recorrendo sem demora a esse banho, encontrarão remédio eficaz para esses males.

As aplicações mais enérgicas que devem mais ou menos actuar em todo o corpo, emprega-se nas afecções espasmódicas do baixo-ventre, especialmente se originadas por alguma constipação, e também nos males de cabeça como causa congestões ou excessiva afluência de sangue para essa parte do corpo.

Nos indivíduos anémicos, em que é preciso aumentar o calor do corpo, antes de dar tratamento hidroterápico, tem-me estes banhos prestado excelentes serviços; nesse caso, porém, devem ser aplicados com moderação.

Em geral deve-se proceder com grande parcimónia do que diz respeito ao emprego desses banhos.

Como nos banhos aplicados à cabeça bastará um ou dois destes banhos por semana, e só se tomarão três em casos muitos especiais e quando forem expressamente prescritos.

Ainda me resta fazer uma observação:

Não poucas vezes me têm sido dirigidas queixas, criticando os excessivos preparativos e as molestas precauções que exigem os meus banhos de vapor. Em resposta, só faço a seguinte pergunta: “Que é mais simples os meus banhos de vapor aos pés ou um suador tomado durante muitas horas na cama sob o peso sufocante dos cobertores, e provocado por meia dúzia de chávenas de café, e que no fim de contas é sempre seguido de dores de cabeça e outras indisposições?”




  1. Banho de vapor de assento


Estes banhos, pela sua fácil e incómoda aplicação, como pelo seu carácter inofensivo, recomendam-se especialmente aos enfermos. Ainda nas moléstias graves, se lhes provoca por este meio o suor, muito difícil de obter, às vezes, por outro processo.

Deita-se o cozimento em ebulição no vaso da cadeira de retrete; o doente assenta-se: procurando a pessoa encarregada de assistir-lhe que não se perca a mais leve nuvenzinha do benéfico vapor. A acção é tão rápida e tão enérgica que ainda nos mais refractários produz um suor mais ou menos copioso, provocando de ordinário uma transpiração geral. O banho dura 15 a 20 minutos ao cabo dos quais o paciente deita-se, cobrindo-se com a roupa ordinária da cama, se quer continuar a suar. Depois do banho de vapor deve refrigerar o corpo, por alguns dos processos até aqui indicados, ou seja uma loção ou um banho geral, ou um meio banho com uma loção da parte superior do corpo, conforme o estado do doente. Tratando-se de doentes graves, o meio mais simples e inofensivo é a loção geral.

Como facilmente se compreenda, a acção deste banho é resolutiva e eliminadora, provocando pelo suor uma secreção abundante. Na aplicação destes banhos nunca emprego água pura; misturo-lhe sempre algumas ervas mencionadas em aplicações análogas como flores de feno, palha de aveia, e principalmente cavalinha (Equisetum arvensis).

Para combater os males da pedra e dos rins, emprego nas fumigações o cozimento de palha de aveia.

Nas afecções espasmódicas e reumáticas do baixo-ventre, nas inflamações da bexiga e na hidropisia incipiente, faço uso do cozimento de flores de feno.

Na terceira parte, onde se trata das respectivas enfermidades, expor-se-á a maneira de alternar os vapores com as aplicações de água fria.

Os vapores do cozimento de cavalinha têm-me produzido resultados verdadeiramente assombrosos nas retenções da urina, enfermidade dolorosa e tão molesta que leva a não poucos pacientes até o desespero. As afecções espasmódicas da bexiga provenientes, na maioria dos casos, de alguma constipação ou de alguma inflamação, curam-se rapidamente com os vapores da referida erva, restituindo-lhe assim ao órgão ofendido a sua actividade normal.










  1. Aplicações parciais dos banhos de vapor


Alternados com outras aplicações hidroterápicas, costumam os banhos de vapor dar bons resultados nas afecções da vista, dos ouvidos, da boca, dos dedos, das mãos, dos braços, dos pés, etc. Alguns exemplos servirão para esclarecer o assunto.

Se um insecto venenoso vos picar na mão ou no braço, o órgão ofendido incha e dói; bem depressa a inflamação toma proporções assustadoras. Apliquem-se vapores à parte ofendida, juntamente com as faixas e não se tardará em sentir alivio e melhora.

Para este fim expor-se-á a mão ou o braço aos vapores de liquido fervendo contido numa vasilha.

O pus venenoso de uma ferida ameaça contaminar o sangue; na demora está o perigo. Com a presteza possível devem-se aplicar os vapores aos pés e às mãos, afim de favorecer secreções nessas partes.

Se fores mordido por algum cão que se desconfia estar hydrophobo (irritado), enquanto o médico não chega e prescreve algum outro remédio, trata de aplicar imediatamente os vapores ao órgão mordido e encontrarás alivio.

Quando sentires cãibras nos pés e nas mãos, não tardes em aplicares os vapores.

Em todas estas aplicações externas emprego, por via da regra, cozimentos de flores de feno.

Para as afecções da vista recomendo o cozimento de funcho em pó, ou de Eufrásia ou de milefólio ou mil em rama.

Para os incómodos de ouvidos, a decocção de urtiga-branca.

Os catarros e inflamações da garganta combatem-se com a decocção de mil em rama ou de tanchagem (Plantago lanceolata) ou de urtigas (Urtica dioica).

A duração varia entre 10 a 20 minutos, limite que nunca se deve ultrapassar.

Os vapores que penetram no organismo pela respiração e os que se aplicam directamente aos olhos e aos ouvidos, não devem ser demasiado quentes.

D) Afusão ou duche (regadores)


Eis aqui as diferentes afusões empregadas no meu sistema hidroterápico:










  1. Afusão dos joelhos.


Arregaçadas as calças até acima dos joelhos, senta-se o paciente tendo os pés metidos numa banheira e cobrindo com uma toalha as coxas para evitar que se molhem as calças (figura 21). Se lhe é mais cómodo, pode tomar o banho de pé. Efectua-se a afusão ou duches com um regador pequeno, que se possa facilmente manejar com uma só mão. Com o primeiro regador molha-se toda a parte compreendida desde os dedos dos pés até aos joelhos, deixando cair com força o jacto; com os seguintes regam-se mais suavemente todos os pontos compreendidos entre esses dons extremos, variando a altura do jacto de água, de modo, porém, que esta caia com bastante uniformidade pela perna abaixo; o conteúdo do último regador despeja-se do cofre, não pelo bico mas pela boca superior, em duas ou três vezes, sobre as pernas para lavar toda a parte banhada. Em cada um destes banhos gastam-se 2 a 10 regadores de água, de uns 13 a 15 litros cada um.


Esta afusão produz, a principio nos doentes e nas pessoas débeis uma impressão muito desagradável.

Tive ocasião de observar indivíduos que se riam e faziam troça a principio dessa aplicação tão simples e que, postos depois à prova, tremiam como varas verdes e choravam de dor sob a acção do jorro de água que lhes produzia o mesmo efeito de uma corrente eléctrica.

Os convalescentes e as pessoas pobres de sangue e de humores, todos aqueles que sofrem de flacidez de carnes nas extremidades inferiores, devem nas primeiras aplicações estrear com 2 ou 3 regadores somente, e em geral nenhum principiante deve gastar mais de 2 na primeira vez, aumentando sucessivamente este número até 8 e 10 nas aplicações imediatas. Depois de 8 a 10 afusões desaparece qualquer sensação dolorosa, e espera-se com verdadeira ansiedade a benéfica aplicação, que restitui aos pés a fortaleza perdida.






  1. Afusão das coxas.


É o complemento da afusão dos joelhos, subindo até ao baixo-ventre sem atingi-lo. Claro está que participam do banho todas as partes inferiores desde as coxas até aos pés. O primeiro regador despeja-se rapidamente de maneira que se banhem as ditas partes uniformemente, ao passo que os seguintes se derramam suavemente de modo que a afusão seja também uniforme; isto consegue-se muito melhor se se toma o banho de pé, porque a água se reparte então igual e simultaneamente o que consiste uma das principais vantagens desta afusão.




Embora a afusão das coxas possa suprir, com vantagem, a dos joelhos em muitas ocasiões, considero-a todavia como os substitutos ou suplentes nos empregos públicos; e só lanço mão dela em casos excepcionais. É como a ponte, a transição da afusão dos joelhos para a afusão inferior, que supre a das pernas com evidente vantagem, porquanto a sua acção é mais enérgica. Eis porque, quando nas minhas prescrições ordeno a afusão das coxas, deve-se entender quase sempre a afusão da parte inferior do corpo.












  1. Afusão da parte inferior do copo.



É a afusão das coxas, porém, mais energética.

Aplica-se regando primeiramente a região posterior, desde os pés até aos rins e tornando a molhar depois, com o conteúdo de 3, 4 e até 6 regadores mais, toda essa parte do corpo tanto pela frente como por trás, demorando-se principalmente na região lombar. Como se vê, enquadra-se perfeitamente o nome da afusão inferior, e, como a antecedente, deve tomar-se em pé.

Esta afusão toma-se depois dos banhos a vapor aplicados aos pés, a menos que não se prefira tomar o meio banho, na forma ordinária ou permanecendo de joelhos na banheira. O efeito será tanto mais energético quanto maior for a quantidade de água empregada e quanto mais força tiver o jacto.

Todavia a altura do jacto de água não deve de exceder de um palmo.


  1. Afusão das costas ou afusão dorsal.



É o complemento e como que a continuação da afusão precedente na direcção já indicada de baixo para cima; de modo que com o primeiro regador molha-se toda a parte posterior do corpo desde os calcanhares até à nuca, e os três, quatro, cinco subsequentes derramam-se, dando ao jacto diferente intensidade e altura, desde o pescoço até às nádegas por um lado, e desde uma omoplata à outra, tendo-se o cuidado de repetir a água igualmente. Em circunstâncias normais deve-se carregar um pouco a mão na espinha dorsal, tratando-se, porém, de pessoas muito sensíveis e impressionáveis, não convém atacar demasiado a coluna vertebral. A operação termina sempre com uma rápida loção no peito, do baixo-ventre e dos braços, quando não se quiser aproveitar a água que durante a afusão corre pelas partes anteriores do corpo.

O mais conveniente é proceder a uma loção em seguida a cada afusão; porém, tomando esta de pé, pode-se suprimir a loção das pernas, que são banhadas pela água que corre de cima para baixo. Esta afusão é um excelente confortativo da espinha dorsal, e auxilia melhor do que outra qualquer circulação do sangue.


  1. Afusão geral




Esta afusão, como indica o seu nome, estende-se a todo o corpo desde o pescoço até aos pés. Aplica-se do seguinte modo:

O banhista em calções ou em camisa de banho, senta-se numa tábua que assenta nas bordas da banheira. Querendo pode tomá-lo de pé.

A afusão efectua-se ao mesmo tempo anterior e posteriormente, empregando-se aproximadamente, 5 regadores. Com o contendo do primeiro banha-se todo o corpo, e os demais se repartem de maneira que o jorro molhe o corpo todo, dirigindo-o especialmente sobre a espinha dorsal e as partes principais do sistema nervoso, como a nuca de ambos os lados e toda a região do estômago. Este duche ou afusão recomenda-se particularmente às pessoas sadias e corpulentas; porque enrijece, favorece a circulação do sangue, refresca e faz desaparecer a sensibilidade excessiva em indivíduos anémicos e inimigos da água.

Deve abster-se de tomar esta afusão quem sentir frio ou arrepios, se antes não conseguir restabelecer a temperatura normal quer por meio de exercício quer por outro processo artificial, como por exemplo os banhos de vapor aplicados aos pés ou à cabeça. Afora este caso pode tomar-se no inverno ou no verão, contanto que durante a estação invernosa se faça a aplicação em lugar aquecido.

Tratando-se de pessoas doentes ou débeis, deve quebrar-se a friagem da água, de modo que tenha pelo menos a temperatura própria do verão isto é 15 a 18º R.

Na terceira parte, indicar-se-ão os casos em que se deve tomar a afusão ou duche geral. Muitas vezes prefiro-a ao banho geral, e aplico-a em lugar deste, sobretudo quando se quer produzir um efeito especial e duradouro sobre uma parte afectada de algum mal, o que se consegue facilmente com a afusão. Isso acontece frequentemente nos reumatismos. Querendo-se produzir no paciente fortes resoluções e secreções, aumenta-se a acção da afusão com a seguinte aplicação: torce-se rapidamente a camisa com que se tomou a afusão, de modo que não goteje, e emprega-se como faixa em que permanece o paciente uma hora até uma hora e meia (veja-se o capitulo faixas); no caso que se não queira fazer esta aplicação, deve a camisa molhada ser substituída por outra seca. Depois da afusão, o banhista faz exercício até que o corpo esteja completamente seco e tenha recuperado o calor normal.

Resta-me apenas fazer uma ligeira observação. Eu nem emprego nem aprovo os duches fortes nem as afusões ou banhos de regador de alto jacto, usados em alguns estabelecimentos, com que se pretendem produzir impressões violentas; pois não compreendo qual o fim de semelhantes aplicações irracionais. Para lavar o corpo não se precisa do jorro de um bombo de incêndios; isto salta aos olhos. Tão pouco são necessárias essas torrentes de água para tomar um banho de regador; porque ou a enfermidade é curável, e neste caso são mais eficazes, como já disse, os processos suaves; ou é incurável, e então, longe de aproveitar tratamento tão áspero, só poderá ser prejudicial.


  1. Afusão da parte superior do corpo


Esta afusão é o contrário da afusão aplicada à parte inferior do corpo. O paciente despe-se até à cintura, tendo o cuidado de cingi-la com uma toalha de modo que a água não lhe molhe as calças.

A banheira destinada para receber água é colocada, para maior comodidade, em cima de um banquinho, afim de diminuir a inclinação do corpo que poderia afluir o sangue à cabeça. O paciente apoia as mãos no fundo da banheira de modo que a parte superior venha a ficar em posição horizontal e a água caia na vasilha.

Despeja-se o conteúdo do primeiro regador sobre as costas, partindo do braço e do ombro direito até o ombro e o braço esquerdo. Tem por objecto principal molhar toda a região que se quer submeter à afusão. O segundo regador (b) e o terceiro (c) aplicam-se especialmente à rede do nervo simpático, de ambos os lados da 7ª vértebra cervical e depois às costas e à espinha dorsal, terminando sempre num dos ombros. Desta maneira recebe toda a parte indicada três a quatro irrigações uniformemente repartidas, caindo a água pelo peito na vasilha.



Quem não tiver a prática necessária, deve procurar em todo o caso que a água se derrame igualmente sobre as costas, formando como que uma capa que as cubra completamente. Regue-se bem a nuca; a cabeça, porém, deve ser poupada o mais possível. As pessoas que têm o cabelo comprido, não lhe banham nunca a cabeça; Às que o trazem curto, apenas a humedeço. Tratando-se de pessoas nervosas, deve-se regar com muita parcimónia e suavidade a espinha dorsal, não se demorando em parte nenhuma dela, por pequena que seja; porquanto, embora não haja nisso o menor perigo, a sensação equivaleria a um talho com uma faca afiada, e o paciente não a poderia aguentar.

Conforme a necessidade e as circunstâncias pode-se variar a altura e volume do jorro de água. Ao mesmo tempo observar-se-á com atenção se o banhista se queixa de dores em alguma parte do corpo, ou se se apresentam sintomas de erupções, inflamações, manchas violáceas, etc.

Quanto mais igual correr a água sobre toda a parte banhada, mais facilmente se suporta a irrigação e tanto melhor se recupera o calor normal em todo o corpo.

Entretanto, há pessoas, especialmente as gordas ou propensas à obesidade, nas quais a custo se produz reacção; o que se dá a conhecer na estrema palidez da pele, que, no caso contrário, toma uma cor avermelhada, devido à afluência do sangue provocada pela afusão.

Esse inconveniente remedeia-se friccionando levemente como a mão nas costas, depois de despejar o conteúdo do primeiro regador, afim de produzir na pele uma reacção artificial que se manifesta claramente antes de terminar a quarta irrigação. Tratando-se de pessoas fracas, bastará um só regador para cada afusão; com os principiantes gastam-se 2 no máximo; com os que estão habituados, 2 a 3; e com as pessoas robustas e sadias empregar-se-ão até 8 regadores. Devem-se, porém, evitar os abusos, embora sinta-se grande bem-estar.

Após a afusão, o banhista lava o peito, enxuga as mãos e o rosto, e sem enxugar o resto do corpo, veste-se (tudo isso, porém, com maior brevidade possível) em acto contínuo faz exercicio ou entrega-se a algum trabalho corporal.

Esta afusão aplicada à parte superior do corpo, pode substituir a loção depois do banho de vapor aplicado à cabeça. De ordinário, porém, aplica-se juntamente com a afusão das pernas, devendo-se tomar em primeiro lugar aquela afim de vestir a parte superior do corpo antes de se aplicar esta. Entretanto, devo advertir mais uma vez que esta simultaneidade não é necessária.



Uma e outra afusão são meios excelentes de fortalecer o organismo; fomentam o calor, regularizando a circulação do sangue; fortificam, reanimam as forças e podem aplicar-se sem perigo a toda a classe de pessoas. Conheço indivíduos que se aplicam, ao levantarem-se pela manhã, ambas essas afusões; e como o processo descrito, sem a cooperação de outrem, oferece dificuldade, alguns tomam a afusão do meio corpo, colocando-se na posição acima indicada, debaixo do jacto de um depósito de água e movendo à vontade as costas para que a água se reparta igualmente, como ficou indicado. Logo em seguida passam a aplicar-se a afusão às pernas, de maneira que em cinco minutos executaram uma operação que produz grande benefício ao corpo.

Quem estiver impossibilitado de tomar a afusão por qualquer dos dois processos descritos, tem o meio de substitui-la, lavando a parte superior do corpo com água fria. Também a afusão das pernas se pode substituir, metendo os pés numa banheira com água, e despejando com ambas as mãos água nos joelhos de modo que caia suavemente pelas pernas abaixo.

Ainda com este processo primitivo conseguir-se-ão excelentes resultados.









  1. A afusão dos braços.


Como sucede com as pernas, é também conveniente, às vezes, aplicar a afusão aos braços.

A irrigação começa nas mãos e vai subindo até aos ombros; de ordinário basta para cada braço o conteúdo de um regador da capacidade de 15 litros. Algumas vezes prescreve-se esta afusão como simples confortativo dos braços, outras vezes recomenda-se para por em circulação o sangue paralisado ou para mitigar as inflamações e dores que produzem, e também para combater a gota e o reumatismo nestas extremidades. Aplica-se com êxito às pessoas anémicas.

Quem tiver à sua disposição um tanque de água, coloque debaixo da bica do mesmo ambos os braços pelo espaço de um minuto e terá aplicado aos braços uma excelente afusão.


  1. A afusão da cabeça.


Não devo esquecer esta afusão que produz excelentes resultados nos incómodos dos ouvidos e da vista. Aplica-se derramando água pela cabeça, e fazendo cair o jacto de água ao redor das orelhas, nas faces, e durante uns segundos também sobre os olhos fechados. Na primeira vez basta um regador, e dois nas sucessivas. Torno a recomendar que, concluída a aplicação, se enxugue o cabelo com máximo cuidado.


E. Loções


Dividem-se em gerais e parciais ou loções

Para ambas as classes de loções vigoram os princípios gerais que estabelecemos às fricções e à conveniência de não se enxugar o corpo depois dos banhos. Em toda loção é de capital importância que todo o corpo ou cada uma das suas partes recebam uniformemente a acção da água. Em nenhum caso se devem fazer esfregaços; e, quando para algumas doenças se prescrevem loções fortes energéticas, quer-se significar com isso presteza na execução, sem receios nem hesitações. Em geral, porém, a loção dará melhor resultado quanto mais breve e mais uniforme for; a sua duração média é de um minuto e nunca deve exceder de dois. Por aqui pode julgar-se quão diferente é o meu modo de proceder do que se segue em muitos estabelecimentos hidroterápicos; já se vê, pois, que não têm lugar as censuras que alguns me dirigem, suponho que faço uso imoderado da água fria, expondo os pacientes ao perigo iminente de contraírem reumatismos de todas as classes. Ninguém conseguirá provar-me que peco por excesso.

Também aqui tenha-se presente o princípio:

Não se deve fazer uma loção, geral ou parcial, quando se estiver com frio e não se tiver a temperatura normal; porquanto a nova perda de calor, produzida pela loção, tornaria difícil a reacção, e teria, como consequências inevitáveis, febres, catarros e outros incómodos.


  1. Loções gerais ou de todo o corpo.


  1. Loção geral para as pessoas sadias.


Esta loção estende-se a todo o corpo, afora a cabeça, e aplica-se de alto a baixo, sem interrupção.

O modo mais simples de efectuar esta aplicação é o seguinte:

Toma-se um pano grosso (com a esponja a operação seria muito demorada), embebe-se na água fria, e lava-se primeiro o peito e o baixo-ventre; em seguida lavam-se as costas na forma que a cada um parecer mais fácil e cómoda, pois é difícil dar regras fixas a este respeito; a operação termina com a loção dos braços e pernas, ou antes dos pés. Conforme ficou dito, uma loção não deve durar mais de 2 minutos, quando muito. É necessário também que se efectue num aposento onde não haja a menor corrente de ar, do contrário o paciente expor-se-á a grave perigo de arruinar a saúde. Concluída a loção, o banhista veste-se sem demora e faz o exercício do costume ou entrega-se a qualquer trabalho corporal, até recobrar o calor e sentir-se completamente enxuto.

Qual é a ocasião mais oportuna para pôr em prática esta loção?

Todos lavam o rosto e mãos quando se levantam e essa será também a melhor ocasião para fazer uma loção geral, porquanto naquele momento o calor natural do corpo, provocado pelo calor da cama, acha-se no maior grau e a loção será agradável refrigério que afugentará a sonolência e tornará o corpo disposto para entregar-se aos trabalhos diários. Não se alegue perda de tempo, porque tudo se pode realizar num minuto, e em acto contínuo, pode o interessado entregar-se às suas ocupações habituais ou dar um passeio.

Na Primavera e no Verão costuma muita gente dar o seu passeio higiénico matinal. Esses não poderiam fazer coisa mais acertada do que lavar todo o corpo antes do passeio, e tenho a certeza que não teriam necessidade de outras recomendações para repetir o ensaio. A impossibilidade de fazer exercicio ou de se entregar ao trabalho depois da loção não pode servir de desculpa para que alguém se abstenha de tão saudável tratamento, pois o mesmo resultado alcança-se permanecendo na cama, apôs a lavagem, um quarto de hora ou meia hora.

Quem souber exercer um pouco de violência sobre si mesmo e lavar o próprio corpo, senão todos os dias, ao menos de três em três dias, prestará a si mesmo um grande serviço que traz consigo inapreciável recompensa.

E ainda quando seja de todo impossível por em prática esta loção logo pela manhã, qualquer hora do dia é boa para esse fim. Nada mais fácil do que escolher dois ou três minutos, retirar-se um aposento que reúna as condições exigidas a praticar o banho.

Lastima é que seja tão geral a aversão invencível à água!

Quando o ferreiro ou serralheiro acabam o seu trabalho diário, lavam eles o rosto e as mãos enegrecidas pela fuligem e pó de carvão; o camponês que ama o asseio, ao regressar das lides do campo, lava as mãos e, na estação quente, refresca a boca com um gole de água cristalina. Quanto melhor fora, se apôs as fadigas do dia, limpassem o suor com uma loção de todo o corpo! Quem dera que este exercicio refrigerante e fortalecedor se tornasse mais conhecido e praticado!

Antes do deitar, à noite, nem todos podem tomar um banho, porque este excita demasiado os nervos a alguns. Quem, entretanto, o poder suportar, não deve perder a ocasião de o tomar, pois este banho lhe proporcionará um sono profundo e tranquilo.

A muitas pessoas que não podiam conciliar o sono, prescrevi eu esta loção geral e excelentes foram os resultados que colheram. No Inverno pode-se uniformizar e elevar a temperatura do corpo, metendo-se na cama durante uns dez minutos antes da lavagem, que assim será melhor e mais eficaz.


  1. Loção geral para os doentes.


Sobretudo nos doentes me tem demonstrado a experiência que as fricções, os esfregaços, etc., repartindo de uma maneira desigual o calor e excitando o organismo, produzem resultados contraproducentes. Antes de tudo recomendo aos doentes que a lavagem ou loção compreenda o corpo todo, inclusive as plantas dos pés, e que seja perfeitamente uniforme, não só pelo que toca à quantidade da água empregada e sua repartição por todo o corpo, como também em relação à fricção, que é inevitável em qualquer loção.

É o único meio de fazer com que o calor se desenvolva também de uma maneira uniforme e regular, porquanto do contrário desenvolver-se-á nas diferentes partes do corpo um calor irregular que, se não tem consequências funestas, pelo menos diminuirá o bom resultado da operação.

Aos enfermos deve-se aplicar da maneira seguinte: o doente senta-se na cama, e, se o seu estado de fraqueza não lhe permite fazê-lo por si, deve ser ajudado por alguém; a seguir lavam-lhe as costas, compreendida a espinha dorsal, de alto para baixo, gastando-se nesta operação meio minuto; o doente torna então a deitar-se; lavam-lhe em seguida com a mesma presteza o peito e o baixo-ventre, se é que ele não pode ou não quer fazê-lo por si mesmo, e por último faz-se a loção dos braços e das pernas. Em três ou quatro minutos efectua-se um tratamento, que reanima de um modo extraordinário o enfermo.

A lavagem do corpo inteiro não oferece maior dificuldade nem mais perigo do que a lavagem das mãos e do rosto que se pratica até aos enfermos graves. Por outro lado duas ou três aplicações bastarão para se adquirir a prática necessária afim de evitar incómodos ao paciente.

Se, porém, atentas as condições do enfermo uma loção geral parecesse excessiva, pode-se repartir o tratamento em duas ou três lavagens parciais. Em tal hipótese lave-se pela manhã o peito, o baixo-ventre e os braços; e à tarde as costas e as pernas; ou também pela manhã lava-se o peito e o baixo-ventre, ao meio-dia as costas, e à tarde os braços e as pernas.

Se se praticar com presteza e as devidas precauções, não pode a loção causar dano algum, embora se empregue água muito fria, que é o mais conveniente.

Quando se tratar das enfermidades, indicar-se-ão os casos em que se deve aplicar a loção e a frequência do seu emprego.

Devo advertir aqui que a loção do corpo todo é um remédio excelente contra as febres intensas e por conseguinte contra todas as doenças acompanhadas de febres agudas, como a tifo e a varíola (bexigas), no qual caso substitui sempre o banho geral frio, quando por qualquer motivo, este não se possa tomar. Os mesmos sintomas da febre, o calor e a ansiedade, indicam o momento oportuno para se aplicar a lavagem, que, conforme as circunstâncias, se deve repetir de meia em meia em meia hora.

Com estas loções apenas, tenho curado muitas enfermidades, como afecções catarrais, a varíola, o tifo, etc.

Tratando-se de organismos débeis pode empregar-se, em lugar de água pura, vinagre com uma pequena parte de água. Esta mistura além de limpar melhor a pele, abre os poros, fortalece e conforta.

Acreditam alguns que as loções com vinho, espírito e outros líquidos análogos produzem efeitos extraordinários; devo declarar, porém, que tenho feito muitas experiências com essas loções, estudando-lhes o efeito, mas consegui apenas resultados medíocres, e às vezes até nulos.

Anos atrás estava muito em moda a aguardente francesa e julgou-se que nada a podia substituir. Foi uma verdadeira mina para os negociantes que venderam milhares e milhares de garrafas: arrefeceu depois o entusiasmo do público, e só nos últimos anos é que voltou a ser empregado aquele produto.

Estes medicamentos aparecem e desaparecem como os cometas, que deixam na sua marcha pelo espaço um rasto fugaz e acabam por desaparecer. Não só como as estrelas fixas, que todas as noites brilham no firmamento, com luz menos intensa, sim, porém, mais segura e constante. Ela produz os seus efeitos, e as suas aplicações continuarão, ainda quando esses remédios extraordinários, que de tempos a tempos aparecem, tiverem sido abandonados e jazerem esquecidos.

O meu desejo mais ardente é que o novo sistema faça caminho e encontre aceitação especialmente naqueles círculos que poderiam interessar-se eficazmente pela sua difusão e aplicação.





  1. Loções parciais ou locais


Como indica o seu nome, aplicam-se a uma parte do corpo somente.

Fazem-se ou com a mão ou com um pano grosso embebido na água fria. Quanto ao mais, observem-se as regras dadas no capítulo – loções gerais.

Nas inflamações parciais, como por exemplo dos pés, mãos, dedos, etc, são estas loções remédio eficazes.

Na terceira parte, quando se tratar das diferentes doenças, dar-se-ão minuciosas explicações acerca do uso das loções parciais.


F. Faixas (alguns chamam-lhes embrulhos; outros, cinteiros)


  1. Faixa da cabeça.


Podem-se aplicar de dois modos:


a) Lava-se toda a cabeça e o rosto de modo que fiquem bem molhados; todavia a água não deve gotejar do cabelo; em seguida envolve-se a cabeça com um pano seco fazendo-o aderir de maneira que não penetre o ar, mas deixando livres os olhos e a metade da testa. Ao cabo de meia hora pouco mais ou menos está enxuto o cabelo. A lavagem e a faixa podem-se renovar duas ou três vezes, tendo-se, porém, o cuidado que o pano com que se cobre a cabeça, esteja perfeitamente seco de cada vez que se usa. A segunda e terceira aplicação devem durar meia-hora cada uma, mas antes de fazê-las é preciso que o cabelo esteja completamente seco. É muito conveniente finalizar a última operação com uma ligeira loção do pescoço e da cabeça, com água fria, enxugando-se como se costuma fazer pela manhã.


b) O segundo método é mais vantajoso, principalmente quando se quer conseguir abundantes secreções. Lava-se primeiramente a cabeça, como fica dito, envolve-se em seguida num pano seco para evitar o contacto do ar, como no processo anterior, e por cima da primeira faixa põe-se uma outra que deve ser de lã para cobrir aquela.

Se se desenvolve muito calor na cabeça, pode-se molhar também o primeiro pano que está em contacto com ela.

Querendo prolongar a operação, deve-se renovar a lavagem e as faixas com o intervalo de 25 a 30 minutos. A aplicação finaliza como no caso anterior.

Estas faixas empregam-se com excelente resultado para combater as dores de cabeça, particularmente, as de carácter reumático, causadas por mudanças rápidas de temperatura ou por alguma constipação, como também contra a caspa abundante, as eflorescências, eczemas secos e pequenos tumores que aparecem no couro cabeludo.


  1. A faixa do pescoço.


O meio mais simples e suva de aplicá-la, consiste em humedecer bem o pescoço, ou com a mão ou com uma toalha, envolvendo-o depois completamente numa faixa de linho dobrado em 3 ou 4 dobras (sem apertá-la demasiado) com o fim de impedir a entrada de ar.

O segundo processo consiste em envolver o pescoço num pano embebido em água fria depois de bem torcido; por cima deste enrola-se outro seco, e este por sua vez cobre-se com uma faixa de lã ou flanela, e na falta desta, com um pano qualquer de lã seco, porquanto o seu fim principal é separar do contacto do ar a parte molhada.

Não me cansarei de protestar contra as aplicações demasiado longas, que de ordinário produzem resultados negativos e até contrários aos que se procuram, pois em lugar de melhorar o enfermo, o pioram. Demais é este abuso causa de que as aplicações hidroterápicas percam o crédito e o público a confiança que lhe podiam inspirar. O paciente que sofre um desengano, não se deixa converter facilmente; os argumentos mais fortes, mais convincentes nada conseguirão contra as suas prevenções. Esta observação deve-se aplicar muito particularmente a toda a classe de faixas não excluindo uma só.

O fim principal das faixas é impedir a afluência excessiva do sangue a uma parte qualquer do corpo, desviá-la dessa parte, afim de evitar o desenvolvimento desordenado do calor ou desalojá-lo do lugar atacado.

Ora bem; se se deixa a faixa por muito tempo, uma noite inteira, por exemplo, como prescrevem alguns facultativos, desenvolve-se grande excesso de calor na parte atacada e o sangue aflui a ela em tal quantidade que a irritação pode tomar proporções graves.

Isto justifica perfeitamente os princípios que deixo assentados, reprovando o uso prolongado de faixas.

Na aplicação destas não se deve ultrapassar o limite máximo de hora e meia, com a condição, porém, de humedecer o pano de meia em meia hora e às vezes de 20 em 20 minutos. Por consequência em cada aplicação pode-se renovar a faixa duas até quatro vezes, conforme o estado do doente e o grau de temperatura que manifesta. Certa sensação de mal-estar e a agitação no paciente é o melhor sinal para se conhecer quando se deve verificar a renovação da faixa. Nas inflamações da garganta, nas disfagias (dificuldade na deglutição) e em alguns incómodos da cabeça emprega-se com vantagem a faixa do pescoço, cuja acção se pode auxiliar, fazendo ao mesmo tempo aplicações análogas em outras partes do corpo, como nos pés, etc. (vide “faixas dos pés”).

  1. O xaile


O xaile é uma aplicação especial para o peito e as costas. Não há senhora que não conheça essa peça do vestuário feminino. É uma peça de estofo quadrado que se dobra em forma de triângulo e se usa por cima dos ombros de modo que a ponta mais comprida caia ao longo das costas e as duas menores sobre o peito.

Na hidroterapia dá-se este nome a um pano de linho grosso, de forma quadrada, e de metro e meio de largura e outro tanto de comprimento.

Dobra-se, como acima fica dito, em forma de triângulo, e põe-se em cima dos ombros de modo que a ponta mais comprida alcance a região lombar e as outras duas se cruzem no peito cobrindo bem o pescoço.




Molha-se o xaile na água fria, torce-se bem, e aplica-se como fica indicado, à raiz da carne, cobrindo-se perfeitamente com um pano seco de linho ou de lã, de maneira que se impeça a entrada do ar na parte molhada. Esta aplicação dura meia hora até hora e meia, e em casos excepcionais até duas horas, como quando se quer produzir abundantes secreções. Neste caso deve-se observar o que fica prescrito a respeito da renovação das faixas, de meia e meia hora ou de três em três quartos de horas, isto é, logo que se manifestar grande desenvolvimento de calor através do pano.

Nas febres intensas, nas congestões, nas inflamações incipientes da cabeça, nas febres catarrais e mucosidades da garganta e do aparelho respiratório, exerce esta faixa ou xaile uma acção resolvente e depurativa.

Aplica-se com excelente resultado às pessoas do sexo débil que sofrem de hipocondria e alienação mental, e, empregado simultaneamente com outra aplicação, embora breve, tem bastado muitas vezes para evitar congestões e remover o sangue da cabeça.

Essa outra aplicação consiste geralmente no emprego das meias molhadas, ou das faixas aos pés, ou num pedilúvio com sal e cinza.



  1. A faixa dos pés.


É um excelente tratamento secundário, isto é, um meio curativo próprio para reforçar as outras aplicações.


  1. Faixa dos pés propriamente dita


Pode aplicar-se de vários modos. O mais simples consiste num paciente calçar um par de meias embebidas na água e bem torcidas, e por cima destas outras pares de lã seco, e meter-se em seguida na cama e cobrir-se bem.

Ou também envolvem-se os pés até aos tornozelos numa faixa ou pano tosco de linho embebido numa mistura de partes iguais de água e vinagre, cobre-se com outro pano seco ou, melhor, com uma faixa de lã ou flanela toda a parte húmida, e assim se permanece bem agasalhado na cama. A duração dessa aplicação, para a qual é sempre prescrita a cama, é de uma até 2 horas.

Logo que começa a desenvolver-se calor excessivo, se se trata precisamente de combatê-la, como sucede nas inflamações pulmonares, pleurisia e nas inflamações intestinais, deve-se molhar de novo a faixa com os intervalos anteriormente indicados.

Sempre que se trata de segregar dos pés humores mórbidos, de diminuir o calor nas inflamações ou de atrair o sangue para a região inferior do corpo, deve aplicar-se esta faixa aos pés.

É preciso não confundi-la com o banho aos pés, cujos efeitos são diferentes. Porque sendo muito mais curta a duração do banho, também os seus efeitos são mais limitados, pelo que, embora com o banho se consiga fazer afluir o sangue aos pés e por conseguinte também o calor, não é todavia bastante para segregar humores impuros que se tenham podido acumular naquelas extremidades, quer se tome frio quer se tome quente.

Julgo ainda oportuno apontar outra maneira de aplicar esta faixa. Quem pode suportar à noite as aplicações hidroterápicas, antes de deitar-se calce um par de meias húmidas e sobre estas outras secas.

Deste modo não perderá tempo e terá um sono tranquilo, e não se importe com a duração da aplicação; unicamente terá o cuidado de tirar as meias molhadas se despertar durante a noite, ou logo pela manhã cedo.

Esta espécie de faixa é um grande refrigerante que alivia o cansaço dos pés, pelo que se recomenda aos trabalhadores do campo.

A frialdade dos pés combate-se perfeitamente com esta aplicação nocturna: e os que padecem de suor nos pés, podem aplicar este remédio com êxito quase seguro, depois de preparar o terreno com vários banhos de vapor a estas extremidades.


  1. A faixa dos joelhos


Actua com maior energia do que a anterior, a faixa que se estende até cima dos joelhos. Diferença daquela em que a faixa de linho humedecida cobre aqui toda a perna até cima do joelho, envolvendo-se tudo com um pano de lã bem seco. A maneira de aplicar, a duração da aplicação, etc., conforma em tudo com as prescrições anteriores (a).

Emprega-se com vantagem para amortecer o calor excessivo na parte superior do corpo, para tirar o cansaço e para eliminar os gases retidos no interior.

Não se deve confundir esta aplicação com o meio-banho, que se toma permanecendo de pé dentro da água até pouco acima do joelho.


5) A faixa inferior


É assim chamada porque se aplica especialmente para combater as doenças do baixo-ventre e dos pés; por conseguinte deve-se considerar como uma faixa do baixo-ventre, posto que, propriamente, estenda-se desde o sovaco até aos dedos dos pés. Os ombros e os braços ficam excluídos do tratamento; devem-se, porém, abrigar perfeitamente enquanto o doente estiver deitado para evitar a entrada do ar por estas partes.

Esta faixa prepara-se e aplica-se do seguinte modo: por cima do lençol inferior da cama estende-se um cobertor de lá com que se possa cobrir inteiramente o paciente; toma-se um pano ou um lençol de linho que alcance desde os sovacos até às pontas dos pés, e em que se possa enrolar três ou quatro vezes o corpo, e, dobrando-o em dois, embebe-se na água fria, torce-se e coloca-se horizontalmente por cima do cobertor de lã. O paciente deita-se em cima, e enrola com cuidado o pano molhado de modo que as suas extremidades caíam uma sobre a outra para que a humidade se reparta de um modo igual. Envolve-se então com cuidado no cobertor de maneira que o ar não possa penetrar, e por fim cobre-se com o cobertor de penas. Especial cuidado a ter no agasalho dos pés (meias bem grossas e saco com água quente).



O processo não é tão difícil como à primeira vista parece. O próprio paciente, em ceroulas ou em calçotas, pode envolver-se em pano molhado da maneira prescrita e deitar-se em cima do cobertor; uma outra pessoa o enrola depois no cobertor e tapa-o com os cobertores.

Indubitavelmente a aplicação desta faixa exige tempo e cuidado, pode-se porém economizar o primeiro conhecendo-se bem os pormenores e tendo os ingredientes oportunamente preparados, até sem necessidade de faixas especiais, de que nunca faça uso.

A prática também poupa tempo e trabalho. A muitos conheço eu que com desembaraço preparam e aplicam-se a si mesmos todas as faixas sem auxílio de ninguém.

Aqui devo fazer também uma observação que se refere especialmente aos que têm medo da água fria e encaram com prevenção as suas aplicações.

Os que têm horror invencível à água fria, os que são faltos de calor natural, os delicados de nervos, etc., podem empregar água quente nas aplicações das faixas.

Ainda mais: tratando-se de pessoas débeis, doentias e pobres de sangue, e sobretudo de velhos, dou sempre preferência à água quente, embora não a prescreva de uma maneira absoluta.

A duração mínima da faixa é de uma hora e a máxima, de duas. Em todo o caso ao frio que a princípio se sente, sucede sempre e bem depressa numa sensação agradável de calor.

As pessoas pobres do campo podem aplicar este tratamento de uma maneira mais simples. Tomem um saco de aniagem bastante usado, para que seja mais flexível, molhem-no, e, depois de bem torcido, metam-se nele de modo que chegue até aos sovacos, em seguida deitem-se na cama e tapem-se com o cobertor e outros cobertores. Centenas de pessoas ensaiaram este processo. Não se tome a vergonha e experimenta-o tu também.

Múltiplos são os efeitos que produz esta faixa, que se associa sempre a outras aplicações; além de aquecer, é um excelente resolutivo e detergente; actua, porém, de um modo especial sobre o baixo-ventre, como fica dito. Numa união com outras aplicações hidroterápicas emprega-se para combater os inchaços nos pés, as afecções reumáticas e gotosas, os males dos rins, flatos, ataques espasmódicos, etc.

Em regra, não emprego água para embeber os panos, mas quase sempre misturada com algum cozimento de flores de feno, palha de aveia ou folhas de pinheiro. O primeiro emprega-se nas moléstias das vias urinárias e às vezes também nos males da pedra; o segundo é um bom antídoto contra a gota e o mal da pedra, e o terceiro ajuda a eliminar os gases e a combater os ataques espasmódicos no baixo-ventre, especialmente quando se trata de naturezas débeis.


  1. A faixa curta.


É a mais usada de todas as faixas. Aplica-se independentemente de outro qualquer tratamento e obra por si só sobre todo o organismo. Segundo que se aplica mais ou menos tempo, aumenta o calor natural ou mitiga o ardor imoderado.

Esta faixa vale um Potosi, e entre as diferentes espécies de faixas faz o mesmo serviço que o cavalo entre os animais de tiro”; expressão curiosa com que ouvi alguém encarecer as vantagens da faixa curta.

A facilidade da sua aplicação, pois o mesmo paciente pode fazê-la sem o auxílio de outrem, contribuiu não pouco para a sua geral propagação. Como a faixa anterior, estende-se esta faixa desde os sovacos, mas termina acima dos joelhos. Toma-se um pano ou lençol de linho, da largura necessária para cobrir a parte indicada do corpo e dobrado em 4 a 6 dobras; molha-se na água, torce-se e enrola-se nele o paciente que se envolve depois no cobertor, sobre este vão os outros cobertores da cama que fornecerão o calor necessário.

Como ficou dito as pessoas débeis, as de idade avançada, e numa palavra as pessoas anémicas, que sintam falta de calor natural devem empregar água quente. As pessoas do campo que não disponham de outra coisa, podem servir-se também de um saco usado, que se aplicará no sentido da largura na forma indicada.

A aplicação dura 1 a 2 horas, raras vezes, porém, se deve chegar ao limite máximo.

Aplicando-se esta faixa, em estado de saúde, de quinze em quinze dias pelo menos, evitar-se-ão muitas enfermidades. Actua como depurativo sobre o fígado e rins, como também sobre o baixo-ventre, e elimina os gases e substâncias estranhas e os líquidos inúteis.

Por essa razão é um excelente remédio contra a hidropisia, as afecções do coração e do estômago, que provêm frequentemente da pressão que exercem nessa direcção os gases acumulados no baixo-ventre.

Conheço um grande número de pessoas que tendo experimentado estes resultados, deitam-se de vez em quando com esta faixa e passam um sono aprazível à noite.

Para curar as mucosidades do estômago, as afecções do coração e dos pulmões, assim como nas diversas enfermidades da cabeça e da garganta, emprega-se com excelente resultado esta faixa, conforme se vai dizer na terceira parte.

Quando tenho dúvidas a respeito de uma enfermidade, e não vejo claramente a sede do mal, recorro a esta faixa, que é o meu melhor conselheiro e guia. Por ora não julgo ser oportuno entrar em minudências.

Os doentes que padecem de fraqueza no baixo-ventre, devem fomentá-lo com banha de porco ou com azeite canforado, imediatamente antes ou depois de aplicarem a dita faixa.

Nos ataques espasmódicos, pode-se aplicar à raiz da carne ou, por outra, debaixo do pano molhado, outro pano embebido em vinagre. Não so nestes incómodos, como também quando se trata de combater a friagem, deve-se empregar água morna.


  1. A camisa molhada


Recomenda-se esta aplicação pela sua simplicidade e fácil compreensão. Consiste em vestir ao paciente uma camisa ordinária de linho molhada na água depois de torcê-la até que não goteje, e deitar-se com ela na cama em cima de um cobertor de lã, cobrindo-se com cuidado como ficou dito no número anterior.

Um cavalheiro a quem este processo parecia ainda demasiado complicado, sentava-se de camisa numa banheira e mandava derramar pelo corpo um regador de água, em acto continuo envolvia-se nos cobertores de lã, e nãos e cansava de encarecer as vantagens e excelências “da melhor de todas as aplicações hidroterápicas” que concilia um sono tranquilo, desperta o bom humor, reanima o espírito e refresca o corpo.

Como as anteriores, dura esta aplicação 1 a 2 horas, cujo limite nãos e deve exceder. Entre outros efeitos, abre os poros e, actuando como vesicatório suave, purifica, mitiga a excitação nervosa, cura as congestões e as afecções espasmódicas, faz reaparecer o calor uniforme, e, pela acção enérgica que exerce sobre a pele, produz grande bem-estar no organismo. Pela mesma razão emprega-se com vantagem nas afecções mentais e na doença de São Guido (coreia) e doenças análogas das crianças, assim como também nas enfermidades da pele.

Se neste último caso se quer provocar secreções abundantes, à maneira da escarlatina, etc., embebede-se a camisa em água salgada ou em água misturada com vinagre.



  1. Manta espanhola


Não fui eu que inventei esta denominação e não encontro motivo para mudá-la embora a alguns leitores pareça singular. O que nos interessa não é o nome, mas a coisa designada por ela.

Esta grande faixa consiste por si só uma aplicação independente e total, que estende a sua acção a todo o organismo, do mesmo modo que o banho geral e a faixa curta; o que não impede, porém, que em casos graves e excepcionais se empregue alternadamente com outras aplicações hidroterápicas.

Vejamos em que consiste essa faixa.

A manta espanhola é uma espécie de soitana com mangas, feita de linho grosso, aberta na frente, que desce até aos pés, é muito parecida com um roupão. Embebe-se na água fria ou quente, conforme a natureza da pessoa, como fica exposto, torce-se e enverga-se à maneira de camisa ou batina, fechando e sobrepondo a parte da frente. Logo em seguida, deita-se o paciente na cama, preparada de antemão, como fica dito para essa classe de faixas; envolvem-no perfeitamente no cobertor de lã estendido de antemão, e finalmente cobrem-no com a roupa de cama. Antes de tudo deve-se procurar que nestas operações se gaste menos tempo possível, afim de evitar que o paciente esteja menos possível exposto ao ar.

Apresentou-se-me um doente atormentado por toda a classe de doenças; congestões, flatos, hemorróidas eram o seu pão quotidiano, e uma espécie de hipertrofia no coração (aumento excessivo desse músculo), causava-lhe ânsias incríveis. Tomou o costume de aplicar-se, uma ou duas vezes por semana, a manta espanhola, e ao cabo de algum tempo desapareceram como por encanto, todos aqueles males. De então para cá usa desse tratamento como panaceia universal, e, como é pessoa muito atarefada, enfia a manta ao deitar-se e tira-a somente pela manhã cedo, se não acorda durante a noite. Para esse fim mandou fazer uma segunda manta de lã que supre com vantagem o cobertor, porque assim pode por si só fazer a aplicação sem ter necessidade de recorrer a terceira pessoa.

Como nas outras faixas, a duração é de 1 a 2 horas, conforme as forças do indivíduo e sobretudo conforme a sua corpulência; assim para uma aldeão de pouca robustez basta 1 hora ou 1 hora e meia no máximo, ao passo que para um cervejeiro corpulento não são demais as duas horas.

Quem quiser conhecer os resultados desta faixa, dê-se ao trabalho de examinar a água em que é lavada a manta depois de cada aplicação, e não só a encontrará completamente turva, mas admirar-se-á como uma coisa tão simples possa extrair do corpo tanta imundice.

Vi casos em que a manta de branca que era tornou-se completamente amarela, nas bastando para limpá-la a lixívia mais forte e sendo preciso corá-la.

A manta espanhola dilata suave, porém completamente, os poros em toda a superfície cutânea extraem as mucosidades e todas as substâncias morbíficas. Inútil é encarecer o bem-estar geral que produz e o quanto contribui para conservar a temperatura normal do corpo.

Aplica-se especialmente esta faixa grande para combater catarros gerais (que atacam mais ou menos o corpo todo, a febre tifóide, a gota, as inflamações articulares, a varíola, como também para prevenir ataques apoplécticos, e frequentemente se encontrará recomendada a sua aplicação no tratado das enfermidades – 3ª parte deste livro).

Embebida em cozimento de flores de pinheiro, é a manta espanhola um excelente remédio contra as enfermidades, que, como a gota, a pedra, etc., se curam com essas substâncias vegetais.


G. A água usada como bebida


Em poucas palavras direi que o que tenho de dizer a este respeito.

Antes de mais nada devo advertir que se evitem os extremos, isto é, tudo quanto se afasta do bom senso e da moderação. Houve um tempo em que eram frequentes as apostas sobre quem beberia mais água, saindo vencedor o que absorvia mais quartilhos. Não era raro topar com indivíduos que se gabavam de beber 4,6,8 ou 10 litros de água, e, ainda hoje mais de um conheço eu que pensa que o tomar grandes quantidades de água dá saúde. Julgo, porém, de pior espécie insensatez dos que afirmam, com ar sério, que em proporção aos alimentos sólidos quês e tomam durante o dia, não é demais beber-se diariamente 3, 4 e 5 litros de cerveja.

Há outros, porém, que caindo no extremo oposto, passam semanas e até meses e meses sem beber uma gota de água, porque reputam-na prejudicial à saúde.

Como perdem os homens às vezes o senso comum, contrariando todo o impulso natural e instintivo, a que até os brutos animais obedecem cegamente!

Será isto proceder conforme a razão? O relógio anuncia a hora alguns minutos antes de dá-la; e será possível que o supremo Criador tenha sido menos previdente que o artificie? Ou não foram antes os homens que transtornaram a ordem maravilhosa das suas obras? Assim é na realidade. A infinita Sabedoria estabeleceu também um sinal que anuncia o momento de se tomar o alimento – a fome – come a sede – indica o momento oportuno da bebida. O corpo humano é um relógio perfeitíssimo que trabalharia com regularidade admirável, se o homem não cometesse a loucura da lançar na sua engrenagem toda a sorte de imundices que lhe perturbam a marcha, se é que não lhe estragam a máquina completamente.

Os irracionais não tomam alimento senão quando se sentem estimulados pela fome; a sede unicamente é que os impele a procurar a fonte. Satisfeita a necessidade, deixam de beber e comer, e não tocam mais em coisa alguma.

Assim procede também o homem que segue um bom método de vida, quer goze saúde quer esteja doente.

Por isso assentamos o seguinte princípio que todo o homem devia abraçar como regra invariável da vida: Bebe quando tiveres sede, porém, nunca bebas demais.

Há indivíduos que durante toda a semana não bebem uma só gota de água; outros têm o costume de beber um copo de água à hora de almoço e se satisfazem com isso durante o dia inteiro. Nunca têm sede, e isto explica-se pelo facto de que o corpo recebe diariamente certa quantidade de água contida nos alimentos. Fora de alguns dias muito sufocantes do verão ou desse ardor interior que anuncia a febre ou a acompanha, não há motivo racional que obrigue a beber com a frequência com que o fazem alguns que, sem verdadeira necessidade, encharcam de água ou de outros líquidos o pobre estômago. Estas imprudências raras vezes ficam impunes.


Julgo oportuno dizer aqui algumas palavras acerca da bebida nas horas da refeição, sobretudo ao jantar. A gente do campo, em geral, não abusa da bebida. Este vício acha-se mais espalhado entre os habitantes das cidades. Os camponeses pelo contrário, costumam dizer que “não é bom beber durante a comida” e entre os médicos, especialmente da antiga escola, os há que aconselham muita parcimónia na bebida, sobretudo aos enfermos. A experiência ensina que todos os que abusam da bebida, sob qualquer forma que seja, fazem com dificuldade as digestões.

E como pode ser de outro modo!

Enquanto se faz a mastigação dos alimentos misturam-se estes e amolecem com a saliva ministrada para esse fim pelas glândulas salivares e seria imprudente engolir alguma substância sólida sem deixar que antes se efectue a mastigação e a insalivação, porque todo o alimento duro que se introduzisse no estômago sem amolecer, causaria dano a essa máquina delicada.

No estômago os alimentos são embebidos do suco gástrico. Quanto mais puro e natural for este suco, tanto mais fácil será a digestão, e melhores, por conseguinte, serão as substâncias nutritivas elaboradas no aparelho digestivo e fornecidas por este às outras partes do organismo para a sua ulterior elaboração até ficarem de todo aptas para a sua assimilação com as diversas partes do corpo humano. Donde se conclui que se misturarmos os alimentos com líquidos estranhos: água, vinho ou cerveja, adulteram-se os sucos gástricos e a digestão se entorpece, de modo que a elaboração não pode ser tão perfeita.

E que diremos daqueles que durante uma refeição encharcam o estômago com seis ou mais libações de algum desses líquidos? Os sucos se rarefazem a tal ponto que se tornam inserviveis para favorecer a digestão, e o bolo alimentar em lugar de servir o alimento, será um tormento para o estômago. E ainda se queixam de má digestão!

Mas então como há-de a gente regular a bebida? Perguntar-me-ão.

Quem tiver sede antes da comida, que beba; porque a sede é sinal de que há falta de sucos ou de que estes precisam ser rarefeitos.

Durante a comida, porém, beber-se-á muito pouco ou nada, para que sejam puros os sucos que devem humedecer os alimentos até o último bocado.

Se passado algum tempo depois da comida, umas duas ou três horas, por exemplo, o estômago pedir mais quantidade de fluido para continuar a elaboração de quimo, pode-se beber com moderação.

Tenho discutido este assunto com vários médicos de reputação e todos concordam comigo em que a maior parte dos males de estômago têm como causa os excessos que se cometem no beber.


Bebe sempre que tenhas sede, porém, não bebas nunca demais.


Aos lavradores não agradam os aguaceiros, porque, no seu entender, longe de beneficiarem a terra, destroem as sementeiras; pelo contrário recebem com gratidão essas molinhas que humedecem o chapéu ao camponês, porque comunicam à terra fertilidade e trazem abundância de frutos.

É inquestionável que o corpo, e em particular o estômago, tem necessidade de substâncias fluidas para rarefazer os sucos gástricos e também para aumentar a quantidade dos mesmos em proporção com as matérias sólidas que entram na alimentação. Esta necessidade anuncia-se, às vezes, por um pequeno impulso, outras por um ardente desejo que se traduz em sede violenta. Num e noutro caso é preciso atender ao chamado, quer provenha de um estômago saudável quer seja a voz de um enfermo; nunca, porém, se lhe deve dar mais do que o justo; e em todo o caso ser-lhe-á mais proveitoso receber pequenas porções, em breves intervalos de tempo, do que de uma só vez copos inteiros; assim ao enfermo lhe sentará melhor tomar uma colher de 5 em 5 ou de 10 em 10 minutos do que um copo de uma só vez. Com este último processo não só não se mataria a sede ao enfermo, mas se lhe causaria um grande incómodo.

Um exemplo tornará mais claro o que acabo de expor. Suponhamos que alguém sofre de prisão de ventre; sentindo um grande ardor no abdómen, uma sede abrasadora devora o pobre enfermo. “Poderia beber – diz ele – 3 ou 4 copos de água de uma só vez”, pois sente como que um fogo a arder-lhe dentro do corpo. Assim é na verdade, porém, essa enormidade de água que mal pára no estômago, não mitiga o ardor, e é expelida do corpo sem ter feito outra coisa que levar consigo grande quantidade de sucos gástricos indispensáveis à marcha regular das funções animais. Dá-se ao enfermo uma colherada de água de meia em meia hora, e este tratamento racional produzirá melhor resultado do que se lhe proporcionarem num só dia tantos copos de água.

Com efeito, essa pequena quantidade de liquido mistura-se e confunde-se imediatamente com o suco gástrico, cuja quantidade permanece sempre a mesma e exerce a sua acção de uma maneira uniforme sobre o organismo, amolece e resolver as substâncias endurecidas, pondo assim termos às obstruções e prisões de ventre. Um sem número de pessoas seguiu os meus conselhos neste sentido, colhendo os melhores resultados. Probatum est!

Em nossos dias muito se tem discutido acerca dos efeitos que produz a bebida da água quente a 30 e 35º R. (como no chá e no café) particularmente nas doenças crónicas. Eu mesmo fiz algumas experiências com êxito favorável.

A César o que é de César! Não reprovo o uso da água quente nem censuro a quem a prefere. São coisas de gosto. A experiência, porém, me tem ensinado que a água fria (não quebrantada) produz os mesmos se não melhores efeitos. Assim é que eu, para o meu uso particular, a prefiro sempre a água tépida. Escolha cada um a seu gosto.





















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Terceira parte


Enfermidades

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Introdução



Os casos de enfermidade que vão citados nesta terceira parte, não são factos imaginários nem fictícios; são casos reais e estou sempre pronto para responder pela sua exactidão, não só quanto à natureza das enfermidades como também quanto às pessoas que as sofreram. A publicar estes factos, não tenho em mira fazer reclame, nem granjear fama, mas unicamente ensinar e ser útil à humanidade sofredora.

Sou o primeiro a reconhecer que muito incompleto é o catálogo das enfermidades aqui apontadas e que esta terceira parte tem lacunas e defeitos de não pequena monta. Provém isto, em parte, da falta de tempo, no essencial, porém, as descrições das doenças correspondem ao objectivo que eu tinha em vista. Não foi nunca propósito meu fazer um catálogo completo das diferentes enfermidades e seus remédios, mas sim tendo em conta a índole do público a quem me dirigia, escolhi a forma familiar narrativa e dialogada para apresentar diversos casos escolhidos, que possam servir de instrução e de base aos leitores na apreciação dos sintomas das mesmas doenças e na escolha acertada das aplicações, etc, etc.

Assim como o jardineiro para fazer um ramalhete, colhe aqui e ali as mais lindas flores do seu jardim, assim também eu, no campo das enfermidades humanas, escolhi as que são mais frequentes e comuns e destas unicamente os casos que me pareciam mais instrutivos. Se nem sempre acertei, não foi por falta de boa vontade; e é indubitável que quem ler o meu livrinho sem preconceitos de escola e com igual boa vontade, colherá algum grão de ouro entre a massa de areia.

No prólogo da 1ª edição dei as explicações oportunas a respeito do estilo ou forma exterior do meu trabalho; aqui me cabe somente advertir que muito de indústria que repeti algumas coisas para não prejudicar a clareza, particularmente no expor as diferentes aplicações, a cujo respeito se deve sempre consultar a primeira parte para compreende-las bem.

As doenças, caro leitor, são cruzes, e cada um de nós deve estar aparelhado a, mais tarde ou mais cedo, carregar ao menos uma ou duas dessas cruzes e quem sabe se até ao fim da vida. O que importa, pois, é que procuremos o meio de aligeirar-lhe o peso.

O profeta Eliseu não quis curar a lepra a Naam, príncipe da Síria; mas disse-lhe: “Anda e lava-te sete vezes no Jordão e a tua carne recuperará a saúde e ficará limpo”.

Oxalá o Senhor abençoe a boa intenção com que escrevi este livrinho, de ajudar e carregar a sua cruz a muitos que vivem opressos sob o peso das enfermidades.


  1. Moléstias dos ossos


As afecções mórbidas dos ossos de que nos vamos ocupar, são: a cárie, a exostose, a lesão da espinha dorsal e o raquitismo.


  1. Cárie dos ossos


A um cavalheiro de alta sociedade apareceu uma ferida num dedo do pé, e, julgando que fosse devido a um golpe que tivesse sofrido a unha, não lhe ligou importância. A inflamação, porém, foi aumentando, sendo preciso chamar o médico. Este prescreveu diferentes remédios durante várias semanas, afirmando que o dedo estava bom, apesar da inflamação ir aumentando, e todo o pé estar inchado, não podendo o paciente dar um passo. Este não suspeitava o perigo que o ameaçava, até que um dia desprenderam-se da parte enferma dois ossinhos, o que lhe fez conceber temores acerca do estado do dedo, e justas suspeitas dos que com tanto desacerto tinham qualificado a doença. Conhecia-me aquele cavalheiro e pediu-me que examinasse a ferida.

Tinha-se formado a cárie. Mandei preparar imediatamente um cozimento de cavalinha (Equisetum arvensis) e, molhando nele panos, com estes envolvi o pé do paciente, de modo que a parte enferma ficasse bem coberta. Poucos dias depois tinha desaparecido o inchaço e o pé ficou completamente curado e tão útil como dantes.

Ao cabo de um ano, porém, apresentou-se outra vez a fatal doença no outro pé e no dedo grande, como anteriormente. O médico operou o dedo e empregou remédios energéticos com que conseguiu curar o dedo.

É verdade que no decurso do tratamento sentiu o enfermo, no outro pé, uma dor parecida com a que experimentara, ao aparecer a primeira ferida; a cura do dedo, porém, foi fazendo progressos e deu-se por terminada, embora o órgão operado continuasse sempre inchado e com uma cor avermelhada. O paciente, homem escrupuloso no cumprimento dos seus deveres, entregou-se às suas ocupações habituais e parecia estar satisfeito. Desde então pôs especial cuidado em evitar o meu encontro, receando com razão que e lhe dissesse a verdade franca e chãmente.

Isso, porém, não me agastava; porque, consultado, ver-me-ia obrigado a declarar que o mal tinha sido curado em parte mas não eliminado, e que, por conseguinte, mais tarde ou mais cedo voltaria a fazer os seus estragos. Infelizmente não me equivoquei; o mal reapareceu. A que tratamento deveria submeter-se o paciente? Era necessário tratar simultaneamente ambos os pés, e este tratamento havia de durar até que desaparecessem de todo as manchas vermelhas e as dores. Deviam-se envolver ambos os pés em panos embebidos num cozimento de palha de aveia (Avena sativa), de modo que ficasse coberta alguma coisa mais do que a parte enferma. Bem depressa apareceriam as melhoras e a cura seria completa.

Como explicar o aparecimento da cárie precisamente nos pés e não em outro membro, como as mãos e os braços? O paciente tinha sofrido uma grave doença em consequência da qual lhe ficou uma grande debilidade particularmente nas extremidades inferiores. É possível então que se depositem ali o gérmen da doença que se manifestou mais tarde; e quando menos é indubitável que em resultado do grande trabalho a que se submeteu os pés, porquanto tratava-se de uma pessoa robusta que fazia muito exercicio, ficaram eles ressentidos do mal, e como parte mais debilitada e trabalhada do corpo, cederam facilmente à acção da substância venenosa.

Este indivíduo, que ainda vive, deve ter grande cuidado em não deixar que a cárie se apodere outra vez de tão importante órgão, e, ao mais leve sinal da presença do mal, aplicar-lhe o remédio que lhe prescrevi, isto é: os panos embebidos em cozimento de Cavalinha (Equisetum arvensis) ou em cozimento de aveia (Avena sativa). Sero venientibus ossa! O paciente conhece o latim, e certamente a minha sentença que lhe fará assomar aos lábios o sorriso, pois sabe muito bem o que eu quero dizer.

Passo em silêncio outros casos em que a cura, por se tratar de pessoas jovens que remediaram a tempo, não ofereceu dificuldades.


  1. Exostose


Frequentemente formam-se ao redor dos ossos tumefacções duras, particularmente da mandíbula inferior, nos tornozelos, joelhos, etc. dir-se-ia que o osso cresceu. Esta afecção não é sem gravidade, pois quase sempre é acompanhada de febre e só se cura com muita lentidão (duas a três semanas). O tratamento dessas tumefacções ósseas exige precauções e cuidados, assim como a imediata aplicação de remédios, porque, se se desprezam, pode aparecer a cárie, sendo neste caso a cura muito difícil, senão impossível.

Os remédios mais eficazes consistem em compressas aplicadas à parte enferma e renovadas 2, 3 até 4 vezes. As que melhores resultados me têm dado sempre, são as compressas de cozimento de flores de feno e de palha de aveia e também as compressas de feno-grego, e de cardo mariano.

Na exostose dos tornozelos, presta excelentes serviços a faixa curta ou a faixa inferior para apressar a cura; na exostose da mandíbula, o xaile ou a faixa ao pescoço, além da referida faixa que envolva o pé e a perna toda; todas estas aplicações são feitas uma vez ao dia.



  1. Lesão da espinha dorsal


Um oficial de alta patente contundiu uma vértebra da espinha dorsal e, consoante a opinião dos médicos, de tal maneira interessou toda a coluna vertebral que, com efeito, começou a sofrer dores horríveis que lhe causaram um abatimento de animo ainda mais molesto do que o sofrimento corporal. Consultados os médicos mais distintos da capital, nenhum acertou com o remédio, e como o mais afamado da comarca declarasse que o mal não tinha cura e que com o tempo se apresentaria a tísica, recorreu o enfermo à hidroterapia e com este tratamento ficou perfeitamente curado em seis semanas, de sorte que hoje, ao cabo de 25 anos, goza de boa saúde e de humor excelente.

Não posso precisar as aplicações que se lhe fizeram; hoje, porém, para uma doença análoga eu receitaria o seguinte tratamento: três vezes por semana a manta espanhola, outras tantas em banho de meio corpo com loção da parte superior do corpo e duas vezes a afusão superior e a inferior. Com este tratamento, aplicado por espaço de algumas semanas, fortificar-se-á o organismo de modo que os sintomas da doença irão desaparecendo por si mesmo um apôs outro. Até a vértebra interessada pela contusão, tomará consistência e cicatrizar-se-á, como quando ocorre a ruptura de algum membro. Em casos semelhantes, conforme tive ocasião de observar, todo o organismo toma parte no padecimento de um dos seus membros. Assim como uma pedrinha lançada num tanque faz ondular toda a superfície da água, assim também o golpe dado a uma vértebra repercute em todo o organismo.

É uma observação, essa que é mister ter em conta para determinar o tratamento. Em todo o caso é preciso agir sobre todo o corpo afim de fortalecer os membros sãos, para que ajudem a cura dos órgãos débeis e enfermos; pois, como é sabido, todos os órgãos do corpo estão em íntima relação, são indivíduos da mesma família, cuja harmonia é indispensável para o desenvolvimento normal e ordenado da vida.


IV. Raquitismo


Um jovem de 16 anos sofria de raquitismo, doença causada pelo amolecimento e deformação dos ossos da coluna vertebral; e tinha as costas consideravelmente curvadas. Vários médicos diagnosticaram o mal como “afecção da medula espinal”; e, perdidas as esperanças, de alcançar a sua cura, fizeram-lhe entrar para uma casa de saúde. Ao cano de 17 semanas saiu do estabelecimento apoiado com duas muletas e com o prognóstico que seu mal era incurável. Um amigo deu ao pai do infeliz jovem um exemplar do meu livro “O meu sistema hidroterápico”. De acordo com as suas prescrições fizeram-lhe loções com água e vinagre, melhorando o seu estado em poucos dias a ponto de poder trocar as muletas para um bastão.

Trouxeram-no depois para perto de mim e em 17 dias pude declará-lo fora de perigo, pondo-o em condições de andar sem auxílio do bastão e sem dores, embora nunca chegasse a recuperar todo o vigor próprio da sua idade. Eis aqui o tratamento: de um pano de linho grosso fez-se uma espécie de colete ou corpinho, que lhe aplicavam ao deitar-se, embebido em infusão de palha de aveia, pondo-lhe em cima outro corpinho seco e obrigando-o depois com cobertores de lã. Assim ficava toda a noite. A princípio foi-lhe aplicada esta espécie de faixa de duas em duas noites e depois, de três em três noites. Diariamente deram-lhe afusões superiores e uma afusão dos joelhos; dava um passeio na água e tomava um meio banho. Passados os 17 dias, foram-lhe feitas as seguintes aplicações: dois banhos de meio corpo, duas afusões superiores e uma vez o corpinho, cada semana.


  1. Moléstias das articulações


As articulações, que são formadas de tecidos muito diversos e exercem funções muito importantes, estão sujeitas a numerosas e graves. Aqui trataremos apenas do reumatismo articular, da gota e do tumor branco do joelho.


  1. Reumatismo articular


Apresentou-se-me um dia um cavalheiro de aspecto doentio e em cujas feições estava impresso o selo de uma profunda tristeza. Ao vê-lo compreendi desde logo que sofria ou tinha sofrido muito. A cor amarelada da sua tez causava penosa impressão, e na cabeça já não havia quase cabelo. Contava apenas 40 anos de idade; a sua índole era a de um homem sério e tranquilo, mas o seu todo era uma imagem viva do sofrimento. Eis o que ele me expos: “Em miúdo apareceram-me desarranjos no baixo-ventre, acompanhados de fortes acessos de cólicas e diarreia. Bem depressa veio associar-se a isto uma afecção nos rins, conforme a opinião dos médicos. Quando as dores me atormentaram contorcia-me todo como um verme. Ao cabo de alguns anos desapareceu a doença, mas foi para ceder o lugar ao reumatismo articular que agora sofro, e no qual, parece se compendiaram todos os sofrimentos que dantes me atormentavam. Os remédios às vezes nada mais faziam do que aumentar o mal. À custa de pesados sacrifícios pude continuar a desempenhar até hoje os deveres da minha profissão; não me tenho aberto com pessoa alguma porque nem sequer os médicos compreendem a minha enfermidade. Somente aquele que promete uma coroa eterna aos que sofrem, sabe o quanto tenho sofrido. Apareceu-me também suor nos pés; desapareceu com os remédios aplicados, em compensação, porém, piorou o estado geral. Por conselho dos médicos fiz também uso de banhos minerais, estes, porém, só serviam para agravar os meus males.

Mais doloroso do que tudo isso era para mim a convicção de que muitos julgavam que eu exagerava a minha doença deixando-me dominar por uma sensibilidade excessiva. Sofre duplamente quem no meio das suas dores e sofrimentos não consegue despertar compaixão nos outros”.

Esta exposição, caro leitor, encerra muitos e preciosos ensinamentos. Não sejamos duros e injustos para com os doentes. Um homem de boa tempera não se põe, de repente e sem razões, a lamentar com um poltrão.

Quem será capaz de conhecer as verdadeiras raízes de todos esses males e de esquadrinhar o interior desse corpo que tão deveras sofre? Não é tão fácil, como à primeira vista parece, penetrar o segredo. É verdade que, na sua exposição estabeleceu o paciente as premissas em que se há-de fundar o nosso veredicto. Porque a sua cor amarela, as cólicas frequentes e o suor dos pés suprimido, são sintomas que acusam a presença de uma substância venenosa que, qual astuta serpente, se achava oculta no corpo, e que primeiramente lhe deu aqui e ali diferentes botes, até que se enroscou com força em todos os seus membros, introduzindo o seu pestífero veneno nas articulações e até na medula dos ossos. Também o cabelo não cai sem uma causa que o arranque. Como o tempestuoso vento de Outono agita e faz cair as folhas das árvores, talvez seja a mesma substância venenosa a que lhe mata as raízes. Uma cura completa poder-se-á somente conseguir, resolvendo e segregando do organismo essa substância mortífera que o corrói, e vigorizando ao mesmo o corpo de maneira que possa opor resistência à formação desses humores venenosos. Para todo o veneno costuma haver o seu contra-veneno; qual é a substância mais apropriada para contrastar a acção desse veneno? Alguns dariam muito, muitíssimo dinheiro para obter um especifico desconhecido, extraordinário que combatesse esses males; e não se lembram sequer de dizer um “Deo gratias” para testemunharem o seu agradecimento Àquele que nos dispensa remédios naturais, simples e eficazes para estas como para todas as enfermidades. Esta substância salutar é a água. Mas como pode a água curar esta classe de sofrimentos? Escuta, pois.

Quando uma dona de casa quer restituir à roupa a sua alvura perdida, mete-a na água, lava-a, rega-a com o liquido cristalino e deixa-a corar. A água amolece e resolve as substâncias impuras e o sol as extrai do pano; por isso tem ela o bom cuidado de expô-la ao sol dos dois lados. Porquanto não tornará a haver a sua anterior brancura se a água e o sol não penetrarem todas as suas fibras, ao passo que, a acção daqueles elementos fará desaparecer da tela a mais pequena mancha. Façamos agora a aplicação. O corpo do nosso doente, com a sua crosta amarela, semelha a um pano cheio de imundice. As primeiras aplicações hidroterápicas têm por objecto introduzir no interior a humidade que há-de resolver as substâncias venenosas que influenciam o organismo; a pouco e pouco vão desenvolvendo o calor, que como o sol segrega e elimina as ditas substâncias. Porém, ainda mais: a lavadeira serve-se também, às vezes de lixívia, que actua com mais presteza e energia do que a água. Nós também podemos empregar meios resolutivos mais energéticos, cozendo na água substâncias vegetais, que com ela constituem uma excelente lixívia para a limpeza do sangue. Voltemos, porém, ao nosso enfermo. Fiz-lhe aplicar em primeiro lugar a manta espanhola, em seguida um banho de vapor à cabeça com forte loção e logo depois um banho de vapor aos pés. Estes actuam como a melhor lixívia, e devem alternar-se, porque não convém nunca ser exigente e severo com a natureza, afim de facilitar-lhe o caminho para a expulsão das substâncias mórbidas.

Depois das referidas aplicações foi-lhe aplicada uma faixa curta, como fortificante, e afusão superior e inferior; sempre só uma aplicação diária, alternando; além disso, porém, devia tomar todas as noites uma loção geral depois de deitar-se, voltando imediatamente para a cama. Tal foi o tratamento das três primeiras semanas. Na quarta e quinta semana tomou dois banhos de meio corpo em cada uma; um banho de vapor à cabeça e outros aos pés e uma vez também a manta espanhola. Na sexta e última dois banhos quentes alternados com banho frio; um banho de meio corpo e a afusão superior e inferior. Para garantir a cura recomendei-lhe que semanalmente lavasse todo o corpo duas vezes e tomasse uma vez a afusão superior e inferior, com um simples banho quente todos os meses.

A hidroterapia não fraudou tão pouco neste caso as nossas esperanças; a doença que, por sua gravidade, devia produzir em breve a morte, desapareceu. O paciente recuperou o seu aspecto sadio e as forças perdidas; e ao seu anterior abatimento sucedeu o natural entusiasmo pelo cumprimento de seus deveres profissionais. A voz readquiriu também o seu timbre sonoro, e o nosso homem não se cansava de dar graças aquele que é fonte de origem de toda a saúde como de todos os bens.

Um homem dos seus 40 anos de idade sofria no pé direito dores reumáticas tão intensas que somente à custa de penosos esforços podia andar arrimado a um bastão. Às vezes deixavam-se sentir ao mesmo tempo nos braços e nas costas. Os diferentes remédios aplicados foram infrutíferos; recorreu então à hidroterapia e ao cabo de seis semanas sentiu melhora notável que pouco tempo depois terminou com a cura completa. Vejamos o tratamento seguido:


1º Por espaço de seis dias duas afusões das pernas, isto diariamente; uma vez por semana uma faixa desde os sovacos. Diariamente dois passeios na água até à barriga das pernas, por espaço de 1 a 3 minutos; e todos os dias também uma afusão das costas e passeio na relva.

2º Terminando este primeiro período, uma afusão superior e uma dos joelhos, alternadas com banho de meio corpo de um minuto de duração somente.


Um trabalhador de 28 anos diz-me: “Nestes dois últimos anos não tem passado um só dia em que me visse livre de dores. No princípio apareceram nas costas, onde sentia forte ardor e picadas insuportáveis, embora não sempre com a mesma intensidade; a pouco e pouco, porém, se foram as dores estendendo até às coxas. Muitas noites não consigo conciliar o sono sequer duas horas; tão depressa sinto um calor insuportável como um frio que me faz bater o queixo.

Vários médicos me assistiram a princípio sem resultado; fizeram também injecções de morfina que mitigaram por algum tempo as dores, porém estas costumavam a reaparecer logo depois com mais violência.

Vendo que os facultativos não conseguiam aliviar os meus sofrimentos, socorri-me aos remédios caseiros: esfregaços, lavagens com espíritos e águas miraculosas; tudo, porém, foi inútil. Finalmente desejara tentar a fortuna com a hidroterapia”. Eis o tratamento a que se sujeitou:


1º Dia: a) Às 8h00 afusão superior com 2 a 4 regadores de água fria;

b) Às 10h00 afusão das pernas;

c) Às 14h00 outra afusão das pernas;

d) Mais tarde passeio na água;


2º Dia: a) Pela manhã cedo passeio na água;

b) Às 10h00 afusão das pernas;

c) Às 14h00 afusão das costas;

d) Às 17h00 banho de assento;


3º Dia: a) Pela manhã banho de meio corpo;

b) Às 10h00 afusão superior;

c) Às 14h00 afusão das pernas;

d) Às 17h00 passeio pela água;


4º Dia: a) Pela manhã afusão das pernas;

b) Às 10h00 banho de meio corpo;

c) Depois do meio-dia afusão das costas;

d) À tarde passeio na água;


Assim continuou alternando as aplicações por espaço de 12 dias, ao cabo dos quais ficou o enfermo curado. Para recuperar as muitas forças perdidas, em consequência das dores, tomou ainda por espaço de algum tempo, um ou dois banhos de meio corpo e um ou dois passeios na água por semana.


O senhor José Bode, negociante da cidade do Rio Grande com 23 anos de idade, sofria de reumatismo articular crónico. Depois de longos de sofrimentos atrozes e já em estado de não se poder mover-se com auxílio, recorreu ao sistema Kneipp no estabelecimento de Hamburguerberg, e no fim de 4 meses de tratamento retirou-se radicalmente curado.

O senhor António Albernaz, com 22 anos, residente em Santa Maria da Boca do Monte, sofria de igual moléstia, conseguindo completa cura dentro de poucos meses.


O conde de N. padecia havia 35 anos de reumatismo. Em 1854 frequentou os banhos de Aix-la-Chapelle, com bom resultado. Porém a vida de acampamento que levou em 1870 e 1871, exacerbou em alto grau as doenças reumáticas que se estenderam a todo o corpo.

Uma nova série de banhos naquela mesma estação balnear, produziu-lhe o mesmo resultado que da primeira vez. Depressa, porém, sofreu uma recaída, recorrendo o paciente aos médicos de mais fama, sem encontrar alívio. Em seguida visitou os banhos de Aibling, terceira vez, os de Aix-la-Chapelle, que acabaram de lhe minar profundamente as forças. Finalmente, vendo a improficuidade de todos esses meios, apelou para a hidroterapia. A 20 de Junho de 1887, depois de ter estado de cama dois meses, apresentou-se-me o doente com um reumatismo generalizado, que tinha a sua principal sede nas juntas dos pés, dos joelhos, das mãos e das espáduas. O braço direito estava inchado dos dedos até aos cotovelos, e as articulações tinham perdido o todo o movimento, como também os joelhos inchados como as outras extremidades. Um sofrimento tão generalizado e tão rude havia profundamente impressionado o doente, pessoa aliás robusta e bem constituída.

Eis aqui o tratamento:


Duas vezes por semana a faixa inferior (desde os sovacos até os pés inclusive), por espaço de hora e meia, molhando-se o pano num cozimento de palha de aveia (Avena sativa) e folhas de pinheiro (Pynus sylvestris), à temperatura de 30 graus.


De manhã e à tarde envolver o braço inchado em panos molhados do mesmo cozimento, por espaço de 1 a 2 horas.


Dois banhos gerais, com ervas, dos chamados de “tríplice imersão” corpo todo na água – com duração de 33 minutos – 10 minutos na água quente, 1 minuto na água fria, 10 minutos na água quente, 1 minuto na água fria, 10 minutos na água quente, 1 minuto na água fria;


A aplicar três vezes por semana o xaile durante uma hora.


Ao cabo de uma quinzena notou-se grande melhora e as aplicações ficaram reduzidas às seguintes:





A faixa do braço, como anteriormente.


Um banho com ervas com a alternativa, uma vez por semana.


Banhos frios de meio corpo de 30 segundos a 1 minuto de duração, três vezes por semana.


Semanalmente 3 a 5 banhos de assento, de 2 minutos de duração.


Com este tratamento desapareceu o inchaço do braço e das pernas, ficando restabelecido o jogo das articulações. Para completar a cura, foi o mês de Setembro de 1887 consagrado às seguintes aplicações:


Um manilúvio quente, envolvendo a mão em palha de aveia fervidas e lavando-a logo depois com água fria.


Semanalmente dois a três banhos de meio corpo.


Um banho com ervas com a tríplice alternativa, por semana (corpo todo na água – com duração de 33 minutos – 10 minutos na água quente, 1 minuto na água fria, 10 minutos na água quente, 1 minuto na água fria, 10 minutos na água quente, 1 minuto na água fria);


Afusão superior 4 vezes por semana.


Os resultados não puderam ser melhores. Desapareceu o inchaço das articulações, das quais pode fazer uso sem incomodo nem dores. O estado geral tornou a ser excelente, recobrando o paciente o seu bom humor de sempre e o gosto para a caça, a sua ocupação favorita. Naquele mesmo Outono pode entregar-se a ela por espaço de nove dias consecutivos com grande assombro dos conhecidos e amigos.

Para melhor conservar a saúde faz ele todos os dias, uma das aplicações fortalecedoras, como seja um banho geral ou de meio corpo, ou também um passeio na água.











  1. Gota


Quem no Outono tiver observado o modo porque os lavradores em Allgau distribuem o estrume nos campos, não terá podido deixar de irritar-se ao ver a desigualdade com que fazem essa distribuição do alimento, dando a uns pontos muitos e a outros nada absolutamente. Este sistema de estrumar semelha o trabalho daninho da toupeira. Como consequência dessa injustiça, ao chegar a Primavera, formam-se nos lugares adubados em excesso pântanos pestilenciais onde se desenvolve uma vegetação exuberante, ao lados dos quais se vêem trechos de terreno quase estéreis com uma vegetação raquítica, que, devido à sua má alimentação, nenhum produto trará ao seu dono.

Uma coisa muito parecida dá-se com a gota.

A alimentação é para o Homem o que o estrume é para o campo.

E quanta desigualdade não há na distribuição daquela nas diferentes classes sociais? A uns é dada com excesso, ao passo que para outros é sempre quaresma.

Eu não jejuo somente 40 mas 365 dias no ano”, dizia alguém. Se alguém dá ao seu corpo demasiado adubo, isto é, uma alimentação excessiva e superior Às forças assimiladas do organismo, quais serão os resultados? Os ossos, por exemplo, têm necessidade de cal e enxofre. Mas às vezes se lhes ministram essas matérias em tal porção que poderiam servir para a nutrição de dois ou três corpos. E quais serão as consequências disso? Que se formam pântanos de sangue gordo em uns pontos, lagoas de sucos prejudiciais noutros, e que se acumulam montões de areia, pedras, cal, entulhos em roda dos ossos.

As articulações incham e inflamam-se e custa não pouco trabalho e sofrimento conseguir que esses nodos cartilaginosos e ósseos da gota se consumam à força de dores, ou sejam combatidos por outros meios.

O cuidado e a compaixão que se têm desses infelizes, não correspondem aos sofrimentos horríveis. Isto não é muito cristão na verdade, mas tem a sua explicação, pois a gente costuma dizer: “Já que gozou, que sofra também as consequências dos seus prazeres desordenados”. Entretanto também os pobres, ainda os mais miseráveis, podem ter ataques de gota.

Apresentou-se-me uma ocasião, um criado pobre e laborioso, que sofria de um fortíssimo ataque de gota, produzido pelo descuido em que tivera a própria saúde, para atender com mais zelo ao seu serviço. E que os órgãos debilitados, enfermos, em lugar de criar carne sã, produzem às vezes excrescências morbosas.

Entre as causas desta doença figuram: o excesso de trabalho, a falta de cuidado, etc. se a gota em estado agudo atormenta a muitos homens, a gota benigna conta as vítimas por legiões. A uns aparece nos dedos, a outros na cabeça, em muitos é um padecimento externo, enquanto que noutros mostra-se no interior do corpo.

Eu curo facilmente com o meu sistema os doentes despretensiosos, que não chegaram a um grau extremo de debilidade e que obedecem às minhas prescrições. Quanto aos gotosos das classes altas não me iludo, são gente rebelde que têm aversão à água, refractários à obediência e sobretudo efeminados; se não fora isto, curar-se-iam com a água como os demais.

Um cavalheiro de posição elevada, sofria havia quatro semanas, horríveis dores nos pés. Os amigos chamavam-lhe membro da irmandade dos gotosos.

Aquela vez curou-se do ataque por meio de um suor copioso; naquele mesmo ano porém reproduziu-se o ataque e o reteve na cama doze semanas. Tornou a provocar a transpiração, porém as dores não cederam.

Consultou-se então, declarando que estava pronto a fazer tudo quanto eu lhe prescrevesse, contando que a doença não tornasse a aparecer. Todos os sintomas gotosos foram desaparecendo sob a influência das aplicações hidroterápicas. O paciente não as abandonou logo de todo, e nunca mais tornou a sentir-se molestado pela gota.

No caso seguinte exporei o tratamento aplicado.

Um sacerdote fez-me saber que estava sentindo nos pés um ardor irresistível e pediu-me algum remédio. Aconselhei-o que estendesse num pano de linho flores de feno fervidas, quentes e bem espremidas e envolvesse bem nele o pé, sustendo e ajustando a compressa de modo que não penetrasse o ar exterior. Ao cabo de duas horas devia tornar a molhar as flores de feno no cozimento, espreme-las e envolver nelas os pés, como acabámos de descrever, sendo indiferente nesta segunda aplicação, que as referidas flores estejam quentes, mornas ou frias.

Doze horas depois de ter começado o tratamento, haviam as dores acalmado muito; no terceiro dia não havia vestígios delas.

Se não se tem à mão flores de feno, coze-se palha de aveia e embebem-se no cozimento as compressas ou panos em que se há-de envolver o pé afectado; alcançando-se também por esse meio um excelente resultado. Como se vê, nesta classe de enfermidades trato de resolver as substâncias morbosas, desenvolvendo calor.

Julgo oportuno desfazer aqui uma ilusão muito generalizada. Mal desaparece a dor, julga o enfermo que está curado; cometeria grave falta o doente se neste caso se entregasse a uma confiança prematura. Após as compressas dos pés devem seguir-se imediatamente algumas aplicações hidroterápicas de carácter geral que segreguem e eliminem as substâncias morbíficas. A mais eficaz nas três primeiras semanas, é a manta espanhola aplicada duas ou três vezes por semana, durante hora e meia ou duas horas; e depois banhos quentes com cozimento de palha de aveia (Avena sativa) seguidos da tríplice alternativa (corpo todo na água – com duração de 33 minutos – 10 minutos na água quente, 1 minuto na água fria, 10 minutos na água quente, 1 minuto na água fria, 10 minutos na água quente, 1 minuto na água fria).

Um jornaleiro tinha contraído um forte padecimento de gota. Começou aplicando-se três vezes por semana a faixa de saco embebida em cozimento quente de aveia (Avena sativa), a qual foi seguida dos banhos de folhas de pinheiro (Pynus sylvestriss) semanalmente, de 33 a 35º com a tríplice alternativa (corpo todo na água – com duração de 33 minutos – 10 minutos na água quente, 1 minuto na água fria, 10 minutos na água quente, 1 minuto na água fria, 10 minutos na água quente, 1 minuto na água fria). Em noites alternadas, depois de deitado, lava-se com água fria.

Na terceira semana começou a sentir notável melhora, no entanto, continuou a aplicar-se a faixa de saco duas vezes por semana, e banhos quentes na imediata. Bem depressa a sua saúde ficou completamente curada.

Um construtor de poços mostrou-me os inchaços articulares nos dedos das mãos e dos pés que lhe causavam às vezes dores insuportáveis; o mal era proveniente da humidade.

De dois em dois dias tomou um banho quente como acabo de descrever e de 3 em 3 ou de 4 em 4 dias fazia aplicação do saco; ao mesmo tempo envolvia todas as noites as mãos em flores de feno fervidas. Pouco tempo depois estava o nosso homem livre daquela doença.

Um pobre pai de família sentia dores reumáticas fortíssimas; uns eram de parecer que provinham de gota, outros de uma outra afecção; o caso é que sofria muitíssimo a ponto de não poder atender às suas ocupações.

Era precisamente na época em que se recolhia o feno. Aconselhei-o que fosse ao depósito do feno, onde ele estava em fermentação; que abrisse no montão um buraco e se metesse nele, deixando apenas descoberta a cabeça. Fê-lo assim e o calor do feno provocou-lhe um suor tão copioso que todo o corpo ficou alagado. No espaço de dez dias repetiu o lavrador seis vezes o banho de feno que o curou radicalmente.

Eu não me atrevia a recomendar a todos esse processo; porém que o pôs em prática conhece a virtude resolutiva que possui o vapor de feno, capaz de segregar e destruir focos morbosos que lançaram raízes profundas. Este vapor, aliás inofensivo, é mais eficaz quando imediatamente depois da sua aplicação se toma um banho frio de meio corpo, muito curto, com loção da outra metade superior do corpo, com o que se vigoriza extraordinariamente o organismo. A prática tem demonstrado a eficácia deste tratamento que alguns qualificarão de estrambótico e singular. Dois cavalheiros de elevada posição tomaram quinze banhos de vapor de feno, na maneira indicada, com tão excelente resultado que lhes parecia incompreensível como por meios tão simples se pudesse produzir uma reconstituição tão completa do organismo.

Por esta razão não hesito em afirmar que os reumatismos benignos, os espasmos (cãibras) que são ordinariamente restos de enfermidades graves, curam-se radicalmente com três ou quatro desses banhos de vapor de feno aplicados como acima ficou dito.

Já vês, pois, caro lavrador e homem do povo em geral, o tesouro que tens em casa. Experimenta uma vez a sua eficácia. No verão quando estiveres vencido de fadiga, faz ferver um punhado de feno e, deixando que o cozimento se amorne, toma um banho de pés de dez minutos que restituirá o vigor e a flexibilidade a teus membros rendidos.

E quando sentires em alguma parte do corpo o ardor e as dores características de reumatismo, sê racional; e, assim como guardas para as tuas bestas esta preciosa planta, aproveita em teu benefício também a sua virtude medicinal.

Um hoteleiro expõe-me o seguinte: “Sofro de dores de cabeça tão agudas, especialmente quando há mudanças de tempo, que me impossibilitam de entregar-me aos meus trabalhos diários. As dores estendem-se pelas costas; a sua sede principal porém, é a parte superior das coxas, mas quando se fixam nos pés não posso andar. Se bebo um copo de cerveja, transportam-se as dores para a cabeça. Tão longo sofrimento me tem tornado incapaz para qualquer trabalho regular, tornando-me assim a vida insuportável”.

Prescrevi-lhe o seguinte tratamento:


1º Semanalmente dois banhos quentes de palha de aveia (30º) de meia hora de duração, seguidos de uma loção energética ou de um banho frio muito curto.

2º Diariamente uma afusão superior com uma afusão dos joelhos.

3º Loção geral, muito rápida, três vezes por semana, estando o corpo suado ou depois d estar deitado.

4º Pela manhã e à tarde uma chávena de infusão de folhas de sabugueiro (Sambucus nigra), frescas, em número de 5 ou 6, picadas e cozidas durante cinco minutos.


Dentro de 4 semanas ficou curado o nosso hoteleiro e com tão bom aspecto que os seus amigos diziam ter ele remoçado. Para que, porém, a doença não tornasse a aparecer, aconselhei-o também que todos os meses, repetisse o banho descrito e uma ou duas vezes por semana a loção, em plena transpiração, ou depois de se ter deitado.

Um industrial vem procurar-me e diz-me: “Tenho os dois pés inchados, inteiramente rijos e sempre com dores que de ordinário não me deixam dormir mais de uma hora durante a noite, e aparecem mais agudas, nas extremidades, sobretudo nos braços que ficaram rígidos e de que sofro horrivelmente. Não tenho fastio, porém quando como, produz-se em mim uma excitação que quase não me deixa respirar. Mal posso andar e ter-me nos pés em consequência das vertigens especialmente quando me levanto da cama. Tenho sido tratado por muitos médicos que me receitaram uma infinidade de remédios, que, ao meu ver, nada mais fizeram do que piorar o meu estado e tornar mais triste a minha situação a ponto de algumas vezes me ter feito desejar a morte. O individuo era robusto e tinha antes o aspecto de um cervejeiro bem nutrido, do que o de um industrial acostumado a uma alimentação simples e moderado na bebida. Contava uns cinquenta anos e a doença provinha, no entender dos médicos, de uma hipertrofia do coração. Cinco semanas apenas bastaram para livrá-lo de tantos males e sentiu-se feliz por ter recuperado a saúde. Vejamos de que modo se conseguiu esse resultado:

Envolveram-se os pés, a principio todos os dias, depois um dia sim outro não, e depois, de quatro em quatro dias, em flores de feno, postas à raiz da carne ou em contacto com a pele, e sustidas perfeitamente com um pano quente, permanecendo assim duas, ou três horas.

De três em três dias, a principio, e depois, de quatro em quatro dias, aplicaram-lhe a camisa molhada no cozimento de flores de feno. Quando o inchaço dos pés tinha quase desaparecido, deram-lhe diariamente uma afusão superior e uma afusão dos joelhos com banhos de meio corpo. Este tratamento durou cinco semanas.


  1. Tumor branco do joelho


A uma mulher dos seus 30 anos apareceu um grande inchaço, que compreendia desde a parte superior do tornozelo até cima do joelho. Às vezes a parte inchada tornava-se muito dolorida, cheia de ardor e dura. Depois de lhe aplicarem muitos remédios receitados pelo médico, entro outros um aparelho de gesso, que conservou aplicado primeiro 12 semanas, e depois outras 8 semanas, sentiu-se pior do que no principio, sem poder tocar o solo com o pé e com fortes dores na articulação do joelho. Quando percebeu que o seu estado piorava de dia para dia, fez aplicação, em forma de cataplasma, das flores de feno fervidas em água, desde a parte superior do tornozelo até à metade da coxa. As dores cederam imediatamente e diminuiu o inchaço. Quando esta ficou reduzida à metade pouco mais ou menos, aplicou-se de 2 em 2 dias uma afusão à perna enferma. Oito semanas depois pôde andar sem o menor incómodo e em pouco tempo achou-se a jovem em condições de entregar-se novamente às suas ocupações diárias, que eram bem pesadas.


3. Moléstias dos músculos.


Atendendo à sua sede especial bem como ao estado sintomático que as acompanha, podemos dividir as afecções reumáticas em dois grandes grupos, conforme se acham localizadas nas articulações ou nos músculos. Daí a distinção em reumatismo articular e reumatismo muscular. No capítulo precedente ocupámo-nos do primeiro; trataremos neste do reumatismo muscular e do lumbago.









I. Reumatismo muscular


Quem seria capaz de enumerar todas as afecções reumáticas que podem mortificar o corpo humano?

Umas vezes aparecem na cabeça, outras nos dedos dos pés, e em todos os membros intermédios (os braços, o peito, as costas, as pernas, etc)., podem estabelecer o seu alojamento. O reumatismo é, como o judeu errante, um viajeiro sempre eterno.

O camponês, o rachador de lenha, todos quando fazem constantemente fortes exercícios corporais, mal conhecem esta moléstia, porque a actividade e esforço incessante a que se vêem obrigados os seus órgãos todos ou não a deixam aparecer ou afugentam apenas se apresenta.

Em tais indivíduos acontece que, se os sintomas do mal se manifestam pela manhã, ao finalizar o dia já se acha ele completamente abafado pelo exercício corporal.

Esta observação apresentou-se-me um veterinário lamentando-se que uma afecção reumática que se lhe havia fixado no lado direito das costas, o que o impedia de se entregar às suas tarefas profissionais. Tinha cometido a imprudência de entrar suado num lugar frio e temia ver-se condenado, como lhe acontecera outras vezes, a suportar aquele hóspede importuno ou – aquele gato – como ele expressava, durante seis semanas.

“Se quer – respondi-lhe – estará vossemecê curado em 24 horas; eu atiçarei os meus cães contra esse gato”. Sorriu-se ao ouvir esta minha promessa; e fizemos uma pequena aposta. Ao mesmo tempo, prometeu ele sob palavra de honra, observar à risca o que lhe fosse ordenado. Voltando para casa, a sua senhora lhe fez umas fortes fricções nas costas com um pano seco e logo em seguida aplicou-lhe uma afusão superior com água fria. Oito horas depois aproximadamente tomou um banho de vapor à cabeça, com uma afusão fria depois. Não eram bem passadas as 24 horas, quando o “gato” retirou-se em fuga precipitada, largando a sua presa; o reumatismo tinha desaparecido completamente. Estava ganha a aposta.

Pela primeira vez vêm os meus leitores que prescrevo fricções em seco. Vejamos o motivo desta novidade. Se o reumatismo provém de uma mudança brusca da temperatura, ou do calor para o frio, ou vice-versa, as dores que às vezes se fixam na superfície, na pele, outras no interior e até na medula dos ossos, nascem de alterações produzidas na circulação do sangue, quer seja por excesso ou por deficiência, quer seja por paralisações parciais do mesmo, irritações na parte atacada, etc. As pressões que dai se originam produzem essas dores, que só se mitigam restabelecendo a circulação normal e fortalecendo os órgãos atacados. Assim como o maestro apela para os movimentos da cabeça quando não basta a batuta para levar acordes e uníssonos os elementos da orquestra; e assim como o pastor lança a mão no cajado e da funda para reduzir à obediência as cabeças discolas do rebanho; assim também, quando o reumatismo enraizou-se, manifestando-se por dores agudas e tornando-se pertinaz, então lanço mão das fricções, como preparativo para as aplicações hidroterápicas. Elas desenvolvem calor e contribuem ao restabelecimento mais rápido da circulação do sangue. Se eu aplicasse, por exemplo, uma afusão à parte reumática, sem desenvolver previamente calor por meio dos esfregaços, o reumatismo, em lugar de abandonar o corpo, induzir-se-á mais fundo nele.

Um camponês sofria de dores reumáticas tão agudas em ambos os pés e nas coxas que se via impossibilitado de andar. Demais a mais não sabia o pobre coitado como lhe entrara no corpo aquele mal. O paciente fez diariamente, duas vezes, aplicação da faixa curta, isto é um pano que o cobria desde os sovacos, embebida em cozimento de flores de feno bem quente; e assim se agasalhava bem na cama por espaço de duas horas. Dez aplicações desta natureza o livraram daquele hóspede importuno.

Outro camponês não pôde fazer a aplicação da faixa, por causa das dores agudas que sofria nas nádegas; pelo que foi metido num banho de cozimento de palha de aveia de 33 a 35º com a tríplice alternativa de 25 minutos de duração, o qual se repetia duas vezes ao dia. Seis banhos bastaram para fazer desaparecer as dores.

Os casos de reumatismo não cabeça são inumeráveis. O meio mais seguro para combatê-lo é não tocar na cabeça, e aplicar banhos quentes e vapores aos pés; porque a água fria seria muito prejudicial à cabeça e a água quente só faria afluir para ela o sangue.


Eis aqui a ordem que conviria observar nas aplicações hidroterápicas, uma cada dia:


- Pedilúvios quentes, com sal e cinza;

- Um xaile;

- Vapores aos pés;

- Vapores à cabeça com afusão fria;

- Segunda aplicação do xaile.


Com estes exercícios se combate o reumatismo mais pertinaz que, por via de regra, provém de alguma corrente de ar frio, foi logo atacado de reumatismo no peito. Supondo que o vigor da mocidade subjugaria o mal, não fez grande caso das dores, o que lhe acarretou uma doença que ao cabo de dois meses extinguiu aquela vida florescente e esperançosa. Esta desgraça poderia ter-se evitado, se se tivesse lavado diariamente, quatro ou cinco vezes o peito e o baixo-ventre com água fria, na de certeza de que o mal não teria resistido mais de dois dias a tão singelo tratamento.

Ana Maria, tinha feito tamanhos e tão prolongados esforços no trabalho, que lhe apareceu um inchaço no joelho. Durante algumas semanas não fez caso algum dela, até que molestadas pelas dores fez aplicação de panos molhados de água fria. O inchaço, agravou-se mais, pelo que se viu forçada a consultar a um facultativo, que lhe receitou um unguento para fomentações que não lhe produziu efeito algum. Para maior infelicidade sua, o pé torceu para dentro, e para evitar a rigidez, ordenou o médico que fomentasse energicamente o pé com banha de porco, por espaço de quinze dias e que depois o lavasse com ácido fénico. Mas apesar de tudo isso foi piorando a perna, o que determinou aplicarem-lhe um aparelho de gesso e com isso esperava-se restabelecer-lhe o uso do membro inútil. Também essa esperança foi baldada, porque no retirar, nove semanas depois, o aparelho, a pobre coitada nem sequer se podia ter de pé e em situação tão triste permaneceu até poucas semanas faz.

Estes inchaços, que não são nada mais do que excrescências duras que se formam ao redor dos ossos, resolvem-se aplicando-se compressas de flores de feno fervidas e bem quentes, durante o tempo que for necessário. Conseguida que for esta resolução, circulará o sangue livremente pela parte inchada e restituir-lhe-á a força perdida.

Com efeito, oito dias depois de aplicada a compressa indicada pôde a doente ter-se em pé; e oito ou nove semanas depois achava-se em condições de caminhar.

Um cavaleiro, procurou-me e expos o seguinte:

Das pontas dos pés até à cabeça estou cheio de dores reumáticas e espasmódicas, o catarro não me deixa um só instante, umas vezes com mais intensidade do que outras, e isto quer eu me conserve encerrado no meu quarto quer saia ao ar livre. Quase nunca consigo conciliar o sono; não tenho apetite, e, se assim continuar por algum tempo mais, terei que abandonar as tarefas da minha profissão. Há muito tempo que trago em cima de mim uma camisa “Jaeger” por cima desta outra camisa de lã, a mais grossa que se pôde encontrar; duas ceroulas de lã, um colete de pano grosso com forro de lã, um casaco e um sobretudo.

Entretanto sinto sempre frio e tenho o corpo coberto de um suor fétido, de um cheio nauseabundo semelhante a breu. Não é possível imaginar-se um ser mais desgraçado do que eu”. Ensaiemos o método hidroterápico. Aplicou-se-lhe em primeiro lugar uma afusão superior, lavou-se-lhe a pele imunda e em seguida a afusão dos joelhos com loções. Três dias consecutivos foram feitas estas aplicações duas vezes cada uma, e bastaram para obrigá-lo a aliviar-se da roupa. No quarto dia tomou um banho de meio corpo e uma hora depois uma afusão superior; no quinto dia pôde trocar as ceroulas de lã por umas de linho; no sétimo dia fez o mesmo com a camisa de lã e com o colete de mangas. Nos dias seguintes foram-lhe aplicadas afusões superiores e inferiores alternadas com banhos de meio corpo. Ao cabo de quinze dias estava livre de espasmos e de reumatismo; a transpiração da pele era regular, reapareceu o sono com o apetite e todo o seu organismo ficou tão renovado e como que rejuvenescido que pôde enfim voltar às suas ocupações habituais.

Costumava depois dizer aludindo à triste condição a que o tinham reduzido: “Se tivesse chegado a tão mísero estado por obedecer aos meus caprichos, só teria que acriminar-me a mim mesmo, mas eu nada mais fiz do que seguir os conselhos e prescrições dos médicos mais afamados”.

Outro indivíduo expôs-me o seguinte caso: “tenho toda a caixa do corpo crivada de dores reumáticas que se fixaram principalmente do lado direito, porém de tal sorte que se cedem em algum ponto, é para aparecerem logo com mais força noutro. Quando a dor ataca as costas, fico rígido e impossibilitado de mover-me; se se fixa no estômago, parece que tudo gira ao redor de mim e não posso comer nada; nunca, porém, me molesta tanto como quando aparece na nuca, do lado esquerdo. Jamais consigo aquecer os pés. Estes incómodos fazem-me desgraçado e impossibilitam-me para o trabalho. Com médicos e medicamentos tenho gasto rios de dinheiro sem resultado algum. Há mais de um ano que por ordem médica, uso camisa de lã, com o que não consegui outra coisa mais do que aumentar a sensibilidade do organismo”.

Vejamos como se combateu este reumatismo:


Três vezes por semana uma camisa grossa molhada em cozimento de flores de feno por espaço de hora e meia.

Duas vezes por semana uma faixa inferior (desde os sovacos até aos pés) embebendo o pano em cozimento quente de flores de feno.

Duas loções gerais por semana com água fria, depois de estar deitado, voltando sem enxugar-se para a cama. Passado a primeira quinzena, substitui-se este tratamento pelo seguinte: A afusão superior e a dos joelhos diariamente. Passeio diário na água, durante 2 a 4 minutos, com o exercício subsequente. Loção geral duas vezes por semana.

O doente ficou livre das dores em quatro semanas, conservou, porém, o bom costume de tomar semanalmente dois banhos de meio corpo.

O director de um estabelecimento de educação diz-nos: “Sofro dores incríveis nos braços, ombros e pés; às vezes como que envolto numa rede de dores reumáticas; outras vezes é uma ou outra parte que sofre. A dificuldade da respiração é constante e às vezes tamanha que receio morrer sufocado, além disso sofro frequentes congestões, de modo que não tenho um instante de satisfação na minha vida. Tenho sido magnetizado, electrizado; tenho empregado uma porção enorme de medicamentos, mas tudo debalde. Recorri à hidroterapia e em dez dias vi-me livre das dores; e dos demais sofrimentos apenas me resta algum resquício insignificante, que, estou intimamente convencido, desaparecerá sob a acção de ligeiras aplicações que hei-de empregar”.

Até aqui o enfermo: O tratamento foi o seguinte:

Todos os dias uma afusão superior e duas afusões das coxas; No segundo dia fez a aplicação de manta espanhola; A partir do quarto dia um meio banho em lugar da afusão superior diária, e uma vez por semana banho de vapor à cabeça.

O caso seguinte sucedeu a um homem de 46 anos de idade. “Sinto (assim ele) constantemente – dores em alguma parte do corpo, sobretudo no lado direito e nos ombros. A dor não permanece, porém, muito tempo no mesmo lugar e quando aparece na cabeça, tenho vertigens, e do olho direito corre água em grande abundância; se desce para as pernas, estas tornam-se rígidas; finalmente se se fixa no peito, a respiração faz-se com extrema dificuldade. Nesta triste situação me acho eu há muitos anos, encontrando apenas ligeiro alívio.

Este paciente foi curado em 5 semanas com as seguintes aplicações:

Três vezes por semana a faixa curta, durante hora e meia. Quatro vezes por semana loção geral, depois de deitar-se. Duas afusões superiores semanais.

Apôs quinze dias o tratamento passou a ser o seguinte: Uma vez por semana a faixa curta; Duas loções gerais; Todos os dias a afusão superior e afusão dos joelhos.

Para conservar a saúde, habituou-se a tomar semanalmente um meio banho e duas afusões superiores com afusões dos joelhos.


II. Lumbago


Agatha faz-me a seguinte consulta: “A meu marido apareceram esta noite dores horríveis nas costas, que por um lado se estendem até ao ombro direito.

A qualquer movimento que faça, solta gritos lastimosos e não pode sentar-se. Já várias vezes tem tido ataques análogos, porém nunca tão fortes como agora.

Que hei-de eu fazer com ele? A minha resposta foi: “Lave-lhe as costas, de hora em hora, com água quente e vinagre, cobrindo-o depois com cuidado. Também se lhe podiam aplicar compressas de água quente que se devem renovar igualmente de hora em hora; para maior segurança porém, podem-se lavar as costas com água quente ou vinagre”.

Estas dores apresentam-se de ordinário nos quadris sem prévio anúncio e molestam muitíssimo. Em tal caso se combatem, com bom resultado, empregando-se a compressa inferior, embebida numa mistura de água quente e vinagre, tendo-se o cuidado de renovar o pano molhado duas ou três vezes, de hora em hora.


4. Moléstias do tecido celular


É o tecido celular sede de numerosas e muito frequentes enfermidades. Nenhum outro tecido apresenta as mais características. Passando em revista as diversas afecções mórbidas do sistema celular, trataremos da inflamação, dos abcessos, do panarício, da hidropisia e do cancro.





I. Inflamações


Um menino que mal sabe caminhar, observa atentamente como acende lume a sua mãe, e não cansa enquanto não apanha algum fósforo, pois também ele quer fazer lume. Consegue-o efectivamente, e a pequena faúlha converte-se bem depressa em formidável incêndio que reduz a cinzas a casa toda e tudo quanto há nela.

Muitos milhares de indivíduos jazem na tumba porque, em vida, deixaram deixar despercebida uma pequena centelha morbosa, que se foi alimentando no corpo e se transformou logo em labaredas inextinguíveis. De todas as partes afluiu o sangue à parte inflamada, levando novo combustível ao incêndio; era como o azeite que, lançado no meio das chamas, aviva o fogo. Talvez não se adoptaram às devidas precauções para extingui-lo e a pobre morada da alma humana ficou totalmente consumida. Milhares de vítimas fazem este fogo interior em todo o reino animal.

Escusado parece-me dizer que os mais castigados por ele são os homens. Por via de regra a catástrofe não se faz esperar muito tempo. Às vezes é na garganta onde se desenvolve o incêndio. De um modo imprevisto levanta-se uma aragem fresca e o atiça, os vasos sanguíneos vêm ministra-lhe novo combustível e em poucas horas abrasa-se e inflama-se toda a garganta. Que faz a gente quando se manifesta um incêndio? Põe-se a gritar: “Fogo, Fogo”” e trata de salvar o que pode, retirando, enquanto é tempo e com toda a pressa possível, o que serviria de alimento ao fogo, e apressando-se em lançar torrentes de água no meio das chamas. Este facto, tantas vezes repetido, oferece-nos uma lição que não devemos deixar de aproveitar. Sempre que se manifesta uma inflamação, deve-se procurar afastar da parte inflamada o sangue que a ela aflui e pôr a salvo o sangue que ficou livre de inflamação.

Não faz muito tempo, começou a arder uma noite o fogo na estufa justamente no momento em que me ia deitar. “Que fatalidade” disse eu de mim para mim, “até que haja consumido toda essa lenha não me posso meter na cama, e até lá a metade da noite se foi”. O meu companheiro foi mais prudente: “Não me agrada o crepitar da chama: o que eu quero é repouso” murmurou ele entre dentes. E que fez? Sacou do fogão acha por acha, sem olhar como estavam, e o fogo apagou-se”.

Voltemos, porém, à inflamação da garganta. Apalpa os pés e observa se estão frios como o gelo. Muitas vezes acontece isso. Pois bem, onde há mais calor para ali aflui em maior quantidade o sangue.

Por isso foge dos pés para lançar-se na garganta, ao lugar inflamado. Nesse caso, envolve os pés em panos de linho embebidos em água com vinagre. Poucos minutos começarão a sentir calor.

A compressa atrai o sangue para a parte inferior e deste modo tira-se combustível ao fogo. Aplica-se em seguida uma compressa maior sobre o baixo-ventre, igualmente molhada em água e vinagre, e ficará repartido o sangue. Se o ardor reaparecer, molha-se de novo o pano tantas vezes quantas forem precisas e notar-se-á como o calor vai diminuindo progressivamente. Isto conseguido, ataca-se directamente o ponto inflamado, aplicando-lhe um pano embebido em água muito fria, e tratando de tornar a molhá-lo toda vez que se aqueça. Porque se se deixa aquecer, desenvolve-se mais ardor na parte atacada; e o sangue afluindo de novo para a garganta, aviva com mais força a inflamação.

Quem partilhar o meu modo de ver a respeito deste ponto, que já tem sido muito discutido, será bem depressa, apôs alguma prática, o melhor médico de si próprio. Melhor do que ninguém sentirá onde está o principal foco de calor e quando é chegado o momento oportuno de renovar a compressa ou a faixa.

As aplicações hidroterápicas fazem-se e renovam-se quando o reclama a doença ou antes, o grande calor: se o termómetro do corpo humano marca zero, é porque o ardor acalmou, e deve-se então deixar em paz o organismo. se marca alguns graus acima da temperatura normal, recorra-se sem perda de tempo, à bomba de incêndios, isto é, à água.


  1. Abcessos.


As inflamações não se produzem só no interior mas também na superfície do corpo, e são de ordinário o cortejo inseparável de todos os abcessos. Num incêndio não sofrem somente as partes directamente queimadas; quando arde alguma parte do corpo, não ficam intactos os membros ou órgãos vizinhos; assim, quando se inflama uma parte, por pequena que seja, de um dedo do pé não dói só o dedo, senão também todo o pé, e às vezes estende-se o mal a toda a perna. Tem isto alguma semelhança com o fósforo que, acesso de noite, alumia com a sua luzinha um vasto espaço.

Anna sofre dores horríveis no dedo polegar. O mal apenas se percebe; o dedo apresenta uma ligeira inflamação e está um pouco mais vermelho que os outros. Entretanto as dores estendem-se até debaixo do sovaco, e, se não se aplicar remédio, bem depressa invadirão o corpo todo. “Alguma coisa ali deve estar oculta”, afirma o pai e tem toda a razão. A jovem tem o cuidado de vendar bem o dedo esperando durante 3 a 6 dias que o mal se manifeste mais claramente o dedo (as ligaduras em tais casos nada mais fazem do que desenvolver um calor excessivo, que faz afluir o sangue à parte inflamada, causa inevitável de uma supuração mais ou menos imediata), porém, começa a inchar, em seguida também a mão; forma-se um grande abcesso; ela experimenta um movimento espasmódico no dedo, no braço e em todo o corpo. Não custa pouco a desalojar o pus e todo o mal que assim se assenhorou de todo o organismo.

Que processo teria de seguir a jovem para curar o dedo? Logo que sentiu que o dedo lhe doía, devia fazer como fez a mãe, que, para apagar as brasas no fogão, lança-lhes em cima um pouco de água. Assim talvez conseguisse que o mal não passasse adiante.

Se o mal se estendeu a toda a mão, é preciso empregar meios mais adequados, porém, não mais violentos. Porque, nesse caso, o mal não provém tanto do ardor como dos humores mórbidos que é preciso resolver e eliminar.

Envolva a menina o dedo e a mão num pano embebido em água fria, e torne a molhar o pano logo que sinta um novo calor. É verdade que o dedo estará mal, como se diz vulgarmente, e terá que rebentar; a ligadura ou faixa, porém, se encarrega de extrair o que poderia produzir substâncias purulentas, prejudiciais ao organismo; não deixando, por conseguinte, que o abcesso tome grandes proporções, no que há não pequena vantagem. Se o mal-estar se estende a todo o corpo, corrigir-se-á aplicando-se todos os dias, por algum tempo, a manta espanhola. Bem depressa ver-se-á desaparecer o mal.


  1. Panarício.


Há um abcesso especial conhecido pelo nome de panarício, cujo tratamento é uma prova mais da loucura e cegueira dos homens, que em certas ocasiões parece que até perdem a razão; pois na cura destes tumores cometem-se verdadeiras atrocidades. Os remédios que se empregam contra o panarício são uns mais insensatos que os outros; cada qual pretende ter um unguento ou um especifico para curá-lo; e quando se esgotaram todos os unguentos, recorre-se ainda a toda a sorte de meios cabalísticos. Há quem acredite que não se pode começar o tratamento sem se caçar antes uma toupeira que, se morrer entre os dedos do paciente, mata ao mesmo tempo o gusano gerador do panarício. Não importa que se atormente o enfermo por alguns dias, ao cabo dos quais, a força dos unguentos e óleos e à custa de dores atrozes, rebenta e sai em abundância a matéria venenosa – “é o gusano morto que sai”. Não há abrir os olhos a estes cegos!

Mas que vem a ser afinal um panarício? Nada mais que um tumor especial, que se cura com o tratamento indicado. De ordinário sofrem-no aquelas pessoas cujo organismo encerra muitas substâncias puriformes e morbosas. O que quer dizer que é preciso reagir sobre todo o corpo afim de eliminar essas matérias malsãs, não esquecendo a parte enferma, sobre a qual se há-de actuar por meio das faixas aplicadas à mão e ao braço. Envolva-se o dedo enfermo duas ou três num pano embebido num cozimento de cavalinha (Equisetum arvensis), afim de evitar a cárie dos ossos; e a mão e o braço em outro pano dobrado em dois e embebido num cozimento de couves ou de flores de feno, devendo-se molhar o pano toda a vez que se sinta de novo o calor e as dores. Para agir sobre todo o corpo, aplique-se diariamente uma faixa curta ou a manta espanhola, durante uma hora.

Acabada a primeira semana, aplicam-se as faixas somente de dois em dois ou de três em três dias.

Só quando se conseguiu uma secreção abundante, é que se devem empregar também as afusões à parte superior e inferior do corpo. Se o dedo toma uma cor azulada, e algum ponto da parte enferma está mole, é sinal que o panarício amadureceu, e neste caso deve-se imediatamente operar e espremer, embora de mistura com o pus saia também sangue, porquanto este sangue havia de se transformar em matéria e assim se poupa ao dedo este processo molesto. Com as aplicações hidroterápicas não há que recear a prematura supuração de uma póstuma desta classe, como sucede com o emprego de unguentos e óleos.

Eis aqui outro sistema de curar os panarícios, em geral mais expedito do que o anterior. Consiste em banhar o dedo e o antebraço duas ou três vezes ao dia com cozimento morno de flores de feno ou palha de aveia, por espaço de meia hora. Devendo-se, além disso, aplicar as faixas, indicadas acima, aos dedos, aos braços e ao corpo.

André, de oficio jardineiro, tinha o polegar da mão direita horrivelmente apostemado. A pele tinha desaparecido e o tumor tomado tais proporções que parecia uma massa informe, coberta de pus. Em alguns pontos estava o osso a descoberto. O médico tinha declarado que era absolutamente necessário amputar a mão para salvar a vida ao enfermo.

Tive a ocasião de examinar a mão e disse de mim para mim:

“Meu Deus, oxalá me fosse dado a salvar aquela mão!” e pus-me a reflectir acerca da doença. A parte visivel do osso não apresentava sinal algum de estar afectada, e isto era o principal. O dedo, porém, com o seu inchaço terrível e repugnante à vista, é como uma sentina em que o corpo vai arrojando todos os seus humores inúteis; e estas substâncias acres além de aumentarem o inchaço, corroem a carne e infeccionam tudo quanto atacam. Por conseguinte deve-se atacar a parte enferma, porém ao mesmo tempo é indispensável actuar energicamente sobre todo o corpo, afim de impedir que continue a envenenar uma das suas partes. Dito e feito; à reflexão sentiu-se logo a acção.

Foram aplicadas ao polegar e a toda a mão faixas de cozimento de flores de feno e de cavalinha (Equisetum arvensis), fervidas juntas as duas ervas, renovando-se os panos molhados quatro ou cinco vezes ao dia. Ao corpo aplicaram-se diariamente a faixa curta e três vezes por semana a manta espanhola. Mandei lavar a parte enferma uma vez ao dia com água de alúmen, bem diluída afim de separar a imundice.

Em pouco tempo se foi formando carne saudável em roda do osso e o dedo polegar ficou tão perfeito como dantes, à excepção da unha. O nosso homem viveu ainda muitos anos, consagrado às suas ocupações de jardineiro.






  1. Cancro


Esta terrível enfermidade é, nas suas múltiplas manifestações, uma das pragas da nossa época. Não há quase parte alguma do corpo que não possa ser vítima dos seus estragos. Quando o cancro tem tomado grande desenvolvimento, não me admiro a empreender o tratamento com a água, porque o sangue e os humores estão completamente corrompidos. Este mal é contagioso, especialmente quando no sangue e nos humores de indivíduo existe alguma predisposição congénita ou adquirida.

Conheço um casal que foi uma ocasião visitar uma prima que tinha um cancro terrível na língua.

Não fazendo ideia dos estragos que este mal causava, ficaram aterrorizados ao testemunharem os estragos que tinham feito na sua parente. Três dias depois notou a senhora que a língua se lhe inchava e o marido sentia o mesmo fenómeno no lábio inferior. Tomados de terror vieram ter comigo, queixando-se de que se lhes transmitira a enfermidade da prima. Tratei de infundir-lhes ânimo e dissuadi-los de semelhante suposição. Ao mesmo tempo, porém, aconselhei-lhes que lavassem quatro vezes ao dia a boca, particularmente os pontos atacados, com água de alúmen, e no dia imediato repetissem a lavagem com água de aloé, continuando com este tratamento por algum tempo: além disso mandei que de dois em dois dias, tomassem um banho de vapor à cabeça, e no dia intermédio aplicassem ao pescoço um pano molhado, conforme ficou dito para as faixas.

Ambos ficaram livres do terrível hóspede que lhes tinha entrado em casa, e da minha parte fiquei não pouco assombrado de ver o efeito que pôde produzir o terror na transmissão de uma enfermidade contagiosa.

Nos começos da doença tenho conseguido curar vários casos de cancro, e, em geral se combate facilmente quando o mal ainda não se estendeu. O tratamento deve consistir exclusivamente em purificar o sangue e os humores vitais, fazendo para isso as aplicações indicadas.


  1. Hidropisia


As chuvas continuadas e a falta de sol dão lugar à formação de pântanos, charcos de águas estagnadas, que, entrando em putrefacção, prejudicam-se plantas que crescem nas suas vizinhanças.

Quase o mesmo sucede no corpo humano, quando, por defeito da natureza aquosa do sangue e dos humores, se apresenta a hidropisia. Todos os órgãos e partes constitutivas do corpo nutrem-se do sangue, que é o manancial de onde cada um toma o que necessita.

E assim como a planta não pode tomar alimentação sã da água estagnada e putrefacta, assim também o sangue aquoso e enfermo não pode ministrar a força e o vigor necessário ao organismo humano; dai, provém a formação de carne flácida, de vasos murchos e todos os sintomas precursores da hidropisia.

O exterior dessas pessoas revela bem claramente o seu estado patológico; na flor da idade levam estampado o selo de uma velhice prematura, a cor desbotada, os nervos e os músculos caindo como cordas quebradas de um instrumento; finalmente esses quistos serosos ou bolsas que se formam principalmente à roda dos olhos. À medida que o mal cresce, vai aumentando também o número dessas bolsas de água que, a uma ligeira pressão dos dedos, despejam o liquido cristalino que usurpou o lugar do sangue.

Há diversas espécies de hidropisia. Se as estagnações aquosas se formam entre a pele e a carne, temos a hidropisia subcutânea ou anasarca; porém, se é o ventre que serve de receptáculo ao líquido, chama-se intestinal ou ascite; se é o coração, temos a hidropisia do coração (hidropericardia), etc.

A hidropisia origina-se muitas vezes em consequência de certas enfermidades e regra geral, nesses casos o doente não vai longe. Para muitas pessoas a hidropisia tem sido mensageira da morte, é como que a última vaga que põe a pique a barca do corpo humano.

Assim vemo-la aparecer particularmente depois da escarlatina, se esta não foi curada radicalmente, e ficou no interior alguma substância virulenta que não pode ser expelida pelo organismo debilitado. A tumefacção é então geral e rápida.

Quando a hidropisia chegou a certo desenvolvimento, difícil, para não dizer impossível, é a cura, por causa do empobrecimento do sangue; pelo contrário, nos seus começos combate-se prontamente, sobretudo se se tem a precaução de atacá-la interna e externamente. Vejamos alguns exemplos:

Trata-se de uma camponesa, de 48 anos aproximadamente; o inchaço é geral e apenas permite-lhe dar um passo; grande é a sua debilidade e penosa a respiração. Aconselhei-a que fizesse macerar alecrim em vinho e bebesse diariamente dois cálices desse líquido, com o qual se fortificou e conseguiu evacuar grande quantidade de água.

Externamente usou todos os dias, por espaço de duas semanas, a faixa curta, de hora e meia de duração; e durante quatro semanas, também diariamente tomou os meios-banhos de um minuto, com loção da outra metade superior. A mulher alcançou a cura completa.

Um menino de 12 anos tinha tido escarlatina; deram-lhe alta, mas seis semanas depois apareceu-lhe a hidropisia; tinha o corpo todo inchado. A camisa molhada em água de sal aplicada três dias consecutivos, por espaço de hora e meia, curou-o radicalmente.